Sem a anunciada tempestade mas com todo o tempo do mundo para, no sábio dizer de Gil, amigo de um outro blogue, " nos lavarmos de nostalgia a cada manhã que abrimos o blogue."
MÁRIO FILIPE PIRES E AS SUAS SETE VISÕES NO CHIADO
O Chiado é uma das zonas mais emblemática de Lisboa. Há muito que está presente nas letras portuguesas e faz parte dos hábitos da capital. Muitos dos seus ex-libris são igualmente lugares comuns fotográficos.
Ao aceitar o desafio de fotografar o Chiado, apenas tinha a certeza de que não queria caminhar por trilhos já demasiado pisados. Não tendo pretensões a originalidade, escolhi tratar o tema de modo a reflectir sobre as dúvidas que sinto em relação ao papel da fotografia como "descritora" da realidade e às falhas desse modelo.
Por quê escolher um único ponto de vista quando podemos ter vários ? Acredito que um dos papéis da arte é o de mostrar que a realidade tem muitos sentidos, muitos mais do que aqueles que os sentidos nos revelam. Espero apenas contribuir para que possam descobrir maneiras diferentes de olhar o Chiado.
Celebraremos a abertura da exposição dia 26 de Fevereiro, sexta-feira, pelas 18h30 e estará patente ao longo de todo o mês de Março, de segunda a sexta-feira, no espaço LiberOffice Chiado.
( Tens um pecadilho contra: é certo que não te vi, no Chiado, o ano passado, na Galeria da Associação 25 de Abril, para o início das comemorações dos 30 anos da ânimo na exposição "ABRIL, ÂNIMOS MIL....pronto, está dito.)
Mas... como já colaboraste noutras exposições e ajudaste da ânimo às tantas mil ressurreições....aqui estamos a desejar-te felicitações e a promover as devidas, como dizer, notificações!
Pessoal, todos ao Largo Rafael Bordalo Pinheiro, Nº 16!!!
ALEXANDRE ALMEIDA A PARTIR DE HOJE NA KAMERA GALERIA
A partir das 18.30 horas, de hoje, Alexandre Almeida, aqui!
antónio colaço
Alexandre Almeida
25 de Fevereiro a 21 de Março de 2010
10 é uma representação do real e país contemporâneo. Uma montra do urbano e rural, concentrados em redor de uma estrada. Tem-se uma amostra transversal da nossa sociedade. Cruzam-se com tradições novas realidades socioculturais.
É esta incongruência espacial que é fascinante. Susan Sontag escreveu num dos seus ensaios - e passo a citar livremente: "O que há de mais belo em homens viris é algo de feminino, o que há de mais belo em mulheres femininas é algo de masculino".
Nunca sei o que devo sentir ao passar por locais como estes. São vivências Próprias autónomas e, ao mesmo tempo Capaz de retratar uma parte de nós mesmos e do que nos rodeia. Medos, Receios e desprezos ao lado de amores, desejos e admirações. É uma espécie de dos "Pequenitos Portugal" de alcatrão.
Longe de mim querer arvorar-me no Mário Crespo de Mação e o simples facto de convocar a ilustre figura faz-me abrir o flanco para nova e continuada série de soezes, perdão, delicados ataques.
Explicando melhor, alguém me confidenciou que num estabelecimento público de Mação, alguém – não, não, ao contrário do Crespo não darei nenhum indício, não levantarei nenhuma pontinha do véu, o que quer que seja que ajude à multiplicação da maçanica coscuvilhice – afirmou que eu e uma outra pessoa, exactamente, a portadora da notícia – o que garante a autenticidade da dita – e passo a citar “passam a vida a dizer mal do senhor presidente da Câmara”!
Foi então que caí em mim e que, de uma vez por todas, disse para comigo mesmo, está na hora, ao fim destes anos todos, de dizer bem do “senhor presidente da Câmara”. E não contente com isso, fazer uma proposta como prova provada da minha boa fé.
Renego, por isso, os milhares de caracteres que aqui dediquei a criticar o senhor presidente da Câmara pela sua falta de atenção ao Centro Histórico. Ou seja, quero aqui homenagear o senhor presidente da Câmara, por deixar cair as velhas casas, uma a uma, assim, proporcionando aos seus proprietários que fiquem expostos a ridículo pelas malfeitorias que estão a fazer. Senhor presidente, desculpe-me, mas se quiser aceite a minha sugestão, coloque um grande taipal nas frontarias de cada uma das casas a dizer simplesmente “Eu não tenho nada a ver com isto!”
Renego, também, as críticas às alterações das casas que o senhor presidente da Câmara recuperou e, se quiser, aceite a minha sugestão, em vez de ter subido a sua alegre casinha da Rua de Sto António, de rés-do-chão para um humilde terceiro andar, suba mais uns três, meia dúzia, prontos, sempre fica um lindo miradouro sobre a vila e, creio que o senhor presidente até passará a convidar-nos a todos, independentemente da cor partidária, para a visitar e, de seguida, lá comermos uns aperitivos das suas tão criativas lojinhas de estimação.
Renego, também, todas as críticas à sua timidez, ao seu estar por casa/lojas, e reafirmo que é com um crescente gosto que quase todos os dias, agora, tomo o café com o senhor presidente, nos cafés, nas tascas, comento as notícias e, até, vou dando algumas dicas para uma cada vez melhor governação autárquica de proximidade.
Foto recolhida aqui, com a devida vénia.Horrorosa aquela casa antiga,não?!Pois foi finalmente demolida!...
E para que não restem dúvidas e como prova da boa fé que me anima, aqui vai uma proposta para uma novo e mais arejado urbanismo, pela redecoração da nova obra prima situado no Largo do Cineteatro, com a qual presto, também, justa e reconhecida homenagem a todos os homens das gravuras rupestres que ali bem ao lado têm a sua sede e na qual tudo têm feito para a dignificação da crescente ruína em que nos vamos tornando. Ruínas que são, afinal, a nossa mais valia turística. Uma realidade que durante anos me recusei aceitar mas perante a qual, agora, sinceramente arrependido, me curvo, senhor presidente.
antónio colaço*
PS – Qualquer semelhança com a realidade é mera….
*Crónica publicada no mensário VOZ DA MINHA TERRA(Mação)
HAITI,MADEIRA, UGANDA.OS "AI DE TI" DE CADA UM DE NÓS!
A ânimo renova a manifestação de total solidariedade para com todos os seus amigos leitores madeirenses.
Mas,nesta hora de balanços do que aconteceu, duas tão intrépidas quanto solidárias jovens, Rita e Lina continuam balançadas tentando, dia a dia, minorar o AI DE NÓS de 50 putos ÓRFÃOS de pais com sida no Uganda, uma terra onde a terra treme, a cada minuto que passa, nos abandonados coraçõezitos de milhares de jovens órfãos.
Rita e Lina estão a breves dias de partir para mais uma missão e a azáfama é enorme em levar para aquela parte do mundo mais do que peixe, as tantas canas com que ajudar a pescá-lo.
Passem pelo blog delas - UGANDAPROJECTO- e verão do que falamos!
Um dos instrumentos que, neste momento, poderia ajudar, lá no Uganda, a materializar um sonho do Orfanato, imaginem só, era, nem mais nem menos, do que uma simples câmera de vídeo!
Será que os leitores da ânimo - sim, João Casais, se ainda estivesses connosco sabemos que te esfalfarias todo para ajudar a concretizar este sonho, inspira, ao menos, Onde estás, algum leitor nosso mais abonado!!!! - conseguirão entre si ajudar a materializar este sonho?!
Passem pelo blog e vejam o que podem e como devem proceder!
Como se lê no documento da Associação de Teólogos João XXIII, aqui citado na semana passada, a pergunta religiosa "onde está Deus no Haiti?" "não é nem pode ser a primeira". Na tragédia do Haiti, converge um conjunto de dados: uma zona sísmica; a mão agressiva do Homem, que desflorestou o Haiti, explorou sem limites as suas reservas naturais e construiu sem o mínimo de segurança; as condições de extrema precariedade em que os colonizadores deixaram o país, a tradição esclavagista, a corrupção generalizada, a ditadura de Governos exploradores, a distribuição injusta dos recursos... O documento observa, criticamente: tudo se afundou, mas o moderno bairro rico de Pétionville, em Port-au-Prince, foi preservado.
A ordem internacional "está montada sobre a concentração da riqueza em 20% da Humanidade e o desamparo de boa parte dela". Governos corruptos, países ricos que os protegem por causa dos seus próprios interesses, tornam alguns povos e Estados incapazes de defender-se de catástrofes naturais. "Sem esta ordem de coisas, a catástrofe teria sido muito menor." Os haitianos são tão pobres que nem possibilidades tinham de receber e distribuir as ajudas que chegavam ao território. Assim, deve-se culpar "a actual ordem internacional que só pode sustentar-se na base do poder económico, político e militar dos países ricos e a persistente corrupção das elites dirigentes do país".
E Deus? Todos temos de mudar, para que não haja mais "Haitis assolados nem Palestinas massacradas nem Auschwitz nem Hiroshimas", e o Deus de Jesus deve ser "o grande acicate de justiça e solidariedade para todos os que se chamam cristãos".
Mas a pergunta atravessa a história do pensamento, e é particularmente dramática para quem acredita no Deus pessoal e criador, omnipotente e infinitamente bom. Deus quis evitar o mal, mas não pôde: então, não é omnipotente. Pôde, mas não quis: então, não é bom. Pôde e quis: então, donde vem o mal?
Aqui, também é necessário perguntar: donde vem o bem? De qualquer modo, as tentativas de resposta sucederam-se. Santo Agostinho e São Tomás de Aquino argumentaram que o mal não existe em si mesmo, pois é só uma privação no bem. Ou então que Deus não quer o mal, apenas o permite como provação e castigo. Pergunta-se: e as crianças inocentes? É por causa do sofrimento das crianças que Dostoievski, em Os Irmãos Karamazov, faz Ivan dizer que entrega o "bilhete de entrada" no mundo. Em A Peste, de A. Camus, o Dr. Rieux diz ao padre que, diante da criança que morre, não pode aceitar Deus.
À famosa Teodiceia (justificação de Deus), de Leibniz, onde se defende que este é o melhor dos mundos possíveis, Voltaire contrapôs ironicamente o seu Cândido e o "Poema sobre o desastre de Lisboa", por causa do terramoto. A. Schopenhauer escreverá que este é o pior dos mundos possíveis.
Hegel dialectizou o sofrimento em Deus: a negatividade é um momento da história de Deus. Um pouco na esteira hegeliana, alguns teólogos falaram de um "Deus sofredor" e, face ao horror do Holocausto, o filósofo judeu Hans Jonas defendeu a impotência de Deus: em Auschwitz, Deus calou-se, "não porque não quis, mas porque não pôde". Pergunta-se: é claro que o poder e a bondade de Deus não podem ser concebidos ao modo humano, mas que ajuda traz um Deus impotente? Deus solidariza-se com o ser humano na cruz de Cristo.
O teólogo A. Torres Queiruga pergunta se não é contraditório pretender pensar um mundo finito sem mal. Face ao mal, que atinge crentes e não crentes, todos têm de viver e justificar a sua fé. E Hans Küng, que reconhece que o mal parece ser "a rocha do ateísmo", pergunta, com razão, na sua última obra Was ich glaube (A minha fé): "O ateísmo explica melhor o mundo" do que a fé em Deus? "No sofrimento inocente, incompreensível, sem sentido, a descrença pode consolar? Como se a razão descrente não encontrasse também neste sofrimento o seu limite! Não, o antiteólogo não está aqui de modo nenhum melhor do que o teólogo."
Não podemos exigir liberdade e pluralismo na Igreja e, depois, esperar que todos apreciem, positivamente, as nossas opções
1.O padre Anselmo Borges transcreveu, no passado dia 6, no DN, o essencial da carta pessoal do jesuíta egípcio-libanês, Henri Boulad, de 78 anos, ao Papa Bento XVI, enviada, aliás, já em 2007.
A partir dos finais de 2009, passou a ser conhecida e circula, agora, na Internet. Partilhei com algumas pessoas a leitura integral da carta deste jesuíta, acerca da situação da Igreja a nível mundial e local. Como se costuma dizer, o estilo é o homem. Ele não deixou por mãos alheias a sua minuciosa
apresentação. Supõe que o próprio Papa é seu leitor e ele um cordial leitor do Papa. As reacções à leitura foram muito diversas. Factos são factos, mas sempre filtrados pelos olhos culturais e, neste caso, eclesiais de cada um. A sua valorização é sempre feita a partir do modo como cada um vê a missão da Igreja no mundo. Esta tem, hoje, uma referência incontornável: o acontecimento e os documentos do Vaticano II. No entanto, os pontos de vista de quem deseja regressar à situação anterior ao Concílio e de
quem o deseja aplicar, segundo a forma como lê a situação actual do mundo e da Igreja, geram conflitos de interpretação e práticas muito contrastadas. É normal. Não podemos exigir liberdade e pluralismo na Igreja e,
depois, esperar que todos apreciem, positivamente, as nossas opções.
Não se conhecem as reacções do Papa e da Cúria a esta carta privada tornada, agora, carta aberta. Há quem diga que, se Henri Boulad a pôs a circular no ano passado, foi porque Roma não lhe ligou. Resolveu ele próprio ampliar os seus destinatários. Seja como for, já lá vão três anos e dir-se-á que está tudo na mesma. Não acredito que este jesuíta fosse tão ingénuo que pensasse que iria, por meio de uma carta, alterar o rumo do pontificado de Bento XVI. Se ele julga conhecer bem a situação mundial da Igreja, não creio que o Papa esteja menos informado.
A carta tornou-se um testemunho aberto da forma como um cristão informado olha para a situação da Igreja nos diferentes países, para as decisões ou falta delas da parte do Vaticano, e como deseja ver alterada a sua situação.
Ao torná-la pública, quer mostrar, como resumiu Oriol Domingo, no diário catalão La Vanguardia, que é urgente compreender que o chefe da Igreja universal não é o Papa, mas Jesus Cristo; que a Igreja católica não
é o Vaticano nem unicamente latina e romana. É, por essência, múltipla, multiforme, plural e pluralista.
2.O rumo oficial da prática pastoral da Igreja não se mede, apenas, pelos documentos de pessoas e grupos de recorte seguidista ou
crítico. A questão situa-se a nível das práticas pessoais, das instituições, das dioceses, das paróquias, dos movimentos e das congregações religiosas.
Durante séculos, havia quem repetisse: “Fora da Igreja não há salvação.” Foi preciso explicar o contexto concreto em que nasceu essa afirmação infeliz, que acabava por restringir o campo de acção de Cristo e de Deus!
Agora, por razões compreensíveis, mas míopes, está a difundir-se, em alguns pastores, a ideia de que “fora da paróquia – ou do seu grupo – não há salvação”.Ao longo de muitos anos, em diversos países, colaborei com párocos que sabiam que a paróquia não era uma quinta privada. Tinham gosto na colaboração de todos – cada um e cada grupo com o seu carisma – para a
edificação de uma comunidade una e plural. E não só. Sabiam que, por razões históricas, muitas pessoas eram intermitentes, na chamada prática religiosa. Reservavam, para essas pessoas, uma atenção especial –
numa atitude fiel ao ensinamento da parábola do “filho pródigo” – que se
reflectia na forma como essas pessoas eram acolhidas nos serviços paroquiais. Apoiavam, de bom grado, iniciativas e grupos que, também por razões históricas e más experiências, eram alérgicos a uma integração funcional na paróquia. Nos diversos mundos a que se refere a carta do Padre Henri Boulad,
a situação de muitos cristãos tornou-se de auto gestão.Seria um erro não atender à mecha que ainda fumega e, sobretudo, esquecer que a paróquia, que não é acolhedora, perde a sua vocação missionária tão apregoada e
tão pouco praticada. Pelo que me dizem e por algumas experiências desagradáveis, nota-se que algum clero – e não do mais antigo – manifesta, pelo seu comportamento e pela invocação de ordens superiores, um gosto
especial pela burocracia que afasta os que esperavam acolhimento.
3.Hoje, é Domingo Gordo. A próxima quarta-feira é chamada Quarta-feira de
Cinzas, fim do Carnaval e começo da Quaresma. Dir-se-á que, no ano passado,já era assim, como se imperasse a lei do eterno retomo. É o contrário.
Hoje mesmo, na Missa, é proclamado o sermão de Jesus sobre a arte de ser
feliz – as chamadas Bem-Aventuranças –, a arte de transformar a vida. Não estamos condenados a viver na tristeza e nas lágrimas. A Quaresma é um período especialmente dedicado à revisão dos critérios que orientam, actualmente, a vida da Igreja. Se todos somos Igreja, é dedicado à revisão dos critérios devida de nós todos. Sem esta revisão, as Igrejas não podem contribuir para alterar a injustiça que domina a vida dos povos e as relações entre os povos, como lembra o Papa na sua Mensagem para esta Quaresma.