QUARENTA E TRÊS
FAZER O QUE FALTA DE ABRIL OUTRA VEZ
O trabalho que assinei em Dezembro de 1973, "A minha Guernica" - pequeno esboço que pretendia para algo de tamanho similar ao autor da verdadeira Guernica ( por aqueles dias estava no auge a influência de Picasso nos meus trabalhos) espelha, ainda hoje, a leitura que faço mais fiel e mais próxima da importância do gesto libertador dos militares do 25 de Abril!
Obrigado, desde logo e desde sempre, camaradas corajosos!
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Esse esboço nunca mais viu a sua versão final porque, entretanto, ACONTECEU ABRIL.
Tenho o privilégio de ser seu proprietário o meu querido amigo Otelo Saraiva de Carvalho a quem o ofereci como gesto de agradecimento pela generosidade do conjunto dos revolucionários de Abril.
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Tendo, afortunadamente, participado nas operações libertadoras, a partir da saudosa EPAM, encarregue de libertar a RTP de entõ,fui daqueles que beneficiaram em primeira instância com o fim da guerra colonial.Um privilegiado face as tantas vítimas de tantos anos de uma guerra injusta.
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Mas Abril, rapidamente ganhou asas e voou por todo o nosso Portugal.
Vivemos muito melhor.
Mas falta ainda muito mais para que Abril seja de MUITOS MAIS.
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Ao reconvocar para aqui aquele meu trabalho, visto com os olhos do meu querido amigo João Lopes, quero afirmar que há, de facto, uma guerra outra a fazer qual seja a de um Portugal aberto para mais Pão, para mais Paz, para mais Saude, para mais Habitação,numa palavra, para mais JUSTIÇA, IGUALDADE E FRATERNIDADE.
25 DE ABRIL SEMPRE
antonio colaço
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UMA DAS PÁGINAS MAIS BELAS DA ARTE CONTEMPORÂNEA
(...)
"Volto-me agora para mais duas mulheres. A mulher nua, na sanita, expõe-se na crueza da sua intimidade. Nem encanta nem desencanta. É assim na força expressionista da su realidade. A outra mulher é o motivo central de “ Guernica: Maternidade” , um quadro, de cariz expressionista, de emocionante e pungente dramatismo. Por trás dele, um acontecimento. Lembramo-nos do episódio trágico do bombardeamento desta vila, berço da raça basca, no fatídico 27 de Abril de 1937, e que o pincel de Picasso imortalizou. A aviação italiana e alemã resolveu dar uma lição de medo e horror a quem o acaso não pusera do lado de Franco, bombardeando, gratuita e exactamente, durante três quartos de hora, esta localidade, perto de Bilbau. Depois, vieram os soldados do generalíssimo destruir o que restara. É neste contexto que António Colaço teve a ideia genial de nos pintar a cena do encontro de uma mulher, escondida num palheiro, em trabalho de parto, e um oficial façanhudo que, mal a vê, lhe aponta a espingarda à barriga. A mulher, de olhos esbugalhados de raiva, tenta resistir, protegendo o filho, e, sem medo, atira um valente pontapé à cara do criminoso que se aproxima.
Este “pé” guerreiro da mulher, símbolo supremo da resistência ao totalitarismo fascista, que, em orgias de sangue, celebrava a morte em vez da vida, é, quanto a mim, uma das páginas mais belas da história de arte contemporânea. No gesto pictórico de António Colaço, de uma grandeza épica incomparável, vibra, em notas sonoras, a mensagem daquele humanismo combativo que não se resigna a ver o ser humano contrabandeado no conflito de interesses das ditaduras com ou sem rosto."
(...)
João de Oliveira Lopes, licenciado em Filologia Românica, pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, exerceu a sua atividade docente no ensino Secundário e na Faculdade de Letras de Coimbra, como assistente, desde 1975 a 1990.
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