Provavelmente, há 30 anos atrás, este momento marcou de forma decisiva a luta das rádios livres em Portugal. O Presidente Eanes, após várias horas de sucessivas insistências, de passagem por Vila de Rei, lá acedeu falar para o jovem do microfone, agora, quase um jovem sexagenário que aqui vos fala.
No dia seguinte, ainda sem televisões, sem nets, sem telemóveis, os poucos jornais, a partir de um despacho da então ANOP, davam conta do "escândalo": o Presidente da República falara pela primeira vez para a rádio pioneira do movimento das rádios livres portuguesas.
Essa rádio chamava-se Radio Antena Livre.
Emitia a partir do lugar de Arreciadas, Abrantes.
Os habituais Encontros das rádios livres em Abrantes conheciam pela primeira vez - 9 de Abril de 1986 - a participação de uma delegação de deputados da Assembleia da República. A legalização porque se lutava e na qual foi pioneira, encontrava aqui o decisivo empurrão.
Essa rádio chamava-se, Rádio Antena Livre.
Augusto Seabra, então ministro,já desaparecido, ao lado desse outro também saudoso querido amigo e camarada de armas radiofónicas Manuel Maurício, - "deixem-me ouvir-vos!!!... - com a condução de emissão do Carlos Almocim, (a li por perto deviam andar o Manuel Casimiro, o Carlos Ramos, o Augusto Martins e tantos outros!) numa entrevista clandestina onde, graças ao dedo de Jorge Lacão, ( obrigado sr.ministro!) já antes havia estado Coimbra Martins, então ministro da Cultura, a propósito da celebração do 1º dia Mundial da Música, 1 de Outubro de 1984. A RAL transgredia e o processo de legalização crescia!
Aniversário do "Comunicar é preciso". Nesta imagem, ao lado de Jorge Lacão, o meu querido e saudoso amigo António Bandos. O primeiro Presidente de uma Assembleia Municipal a aprovar uma moção de apoio à nossa luta! Na imagem, para além de todos os outros, permito-me destacar Mestre Zé Inácio, o primeiro, sentado, no lado direito da imagem,o obreiro de tudo quanto eram tripés, estúdios, cadeiras, enfim, os meios que no silêncio dos dias ajudavam a rádio a agitar os dias!).
Os sótãos, os sobreiros, os telhados, a clandestinidade, a fuga aos fiscais dos radioelétricos e CTT (obrigado meu querido amigo Engº Bioucas, apesar das "chatices" porque passámos por causa das primeiras notícias das coisas menos boas da terra!). Neste sótão do casal Zé Jorge e Madalena Graça Vieira, obrigado, amigos), a sempre prestimosa presença do meu querido e saudoso amigo Eduardo Campos, o primeiro amigo que me falou "duns rapazes que andavam lá para as Arreciadas" a fazer estragos e a quem fui entrevistar ao serviço do "Notícias de Abrantes".
Uma entrevista que resultou estar aqui, agora, a defender este ponto de vista. Ou seja, juntámos esforços e a Rádio começou a ganhar corpo. Talvez, aqui, sim, o verdadeiro momento da ...fecundação. Na imagem, ainda, o farmacêutico Vítor Falcão. Com ele, os relatos de futebol não precisavam de comprimidos.Ele era o futebol em nossas casas!!!!
A rádio que ontem "celebrou" 30 anos numa "GALA DE FUNDADORES", sob um lema "A tentação de fazer, o prazer de escutar, RÁDIO LOCAL", despretensiosa frase publicitária que criei para dar conta do nosso compromisso com aqueles que nos ajudaram a tomar conta dos dias...
...essa Rádio, deixemo-la em paz nos arquivos da memória, como forma de honrar os feitos, as grandezas, e também as misérias, de que fomos capazes.
A rádio que os abrantinos sintonizam hoje, de que ignoro a data de fundação e que me escuso caracterizar, por não sentir necessidade de a sintonizar, é uma rádio propriedade de um conhecido grupo económico ligado à construção civil e que, nos últimos dias, tem questionado a pertinência da sua opção em investimentos na área dos media. Questões relacionadas com o lucro, ou a ausência dele, por muito legítimo que seja,provavelmente,e de que é exemplo o jornal I, do mesmo grupo, em face da demissão do director Martim Avillez.
Nada tenho contra o facto de alguém ter decidido, por um vintém que seja, vender (ao desbarato?) um património que a todos saiu caro. Um dia se contarão as histórias das lágrimas, das dores, dos desamores mas também dos fulgores que, por causa da rádio, fomos fautores.
Esclareço, de uma vez por todas, que nunca fui visto nem achado para o negócio celebrado.
Nem tinha de o ser.
O nosso lucro, ao tempo, era outro: sentíamo-nos ricos, por perceber que os abrantinos estavam ávidos de comunicar entre si e que a rádio ali estava, como um meio, mais do que um fim, para o fazer.
O meu amor pela rádio que ajudei a nascer era, portanto, de outra ordem.
Comunicar sempre foi o meu lema e o "COMUNICAR É PRECISO"( obrigado, Rui Cabral, pelos grandes momentos de comunicação que me ajudaste a conseguir!) continua aí patente, numa rádio, numa revista, ou num blog, como este, porque ainda há quem não desista!
É por isso que aqueles amigos que me questionaram porque é que não fui convidado para a GALA DOS FUNDADORES, têm aqui a resposta, ou seja, não fui nem tinha de ser convidado. As fundações da rádio que ajudei a pôr de pé são de outra ordem o que não quer dizer que não faça gala delas!!!Não por mim mas pelos milhares de abrantinos a quem, com todos os que lá estivemos e cujos nomes todos sabemos, ajudámos a tornar os dias mais leves!
O meu amor pela Rádio, o amor de que verdadeiramente faço gala, esse, é inquestionável.
Costumava dizer que quando fechamos as portas de um estúdio, abrem-se todas as portas da vida!
Talvez mais cedo do que se espere, numa frequência perto de si, possa voltar a mostrar de que é feita a rádio da RÁDIO que trago dentro de mim!
(Aguarda edição de um dos primeiros gingles da rádio "RÁDIO ANTENA LIVRE! A TENTAÇÃO DE FAZER,O PRAZER DE ESCUTAR, RÁDIO LOCAL!").
antónio colaço
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