A África teve pouca sorte 29/03/2009 Frei Bento Domingues O.P.
Confesso que me desgostam as conversas que reduzem o continente africano a oportunidade de bons negócios
1. Repete-se que África é o continente mais pobre da terra. Com a crise mundial - como escreveu, em El País, J. Santiso - arrisca-se a voltar a ser o mais esquecido, a desaparecer das agendas dos países ricos, às quais mal tinha chegado. Estava a tomar-se, sobretudo desde o ano 2000, um continente atractivo, especialmente para as novas potências emergentes da Ásia, do Próximo Oriente e da América Latina. Hoje, operam em África mais de 800 empresas chinesas em diversos sectores. Em 2008, o comércio entre a China e a África superou os cem mil milhões de dólares. Para o bem da África, seria importante que este interesse não se apagasse em 2009.
O interesse da China radica, fundamentalmente, nos tesouros dos solos africanos. Este apetite internacional estimulou, por seu lado, o crescimento do continente. Segundo o African Economic Outlook (AEO), publicado pela OCDE, o continente cresceu, cinco anos seguidos, a "ritmos asiáticos", com uma média de mais de 5,5 por cento. Isto não se passou apenas com os países exportadores de matérias-primas. Em 2007, dos 35 países analisados no AEO, um total de 31 cresceram a um ritmo superior a 5 por cento.
O despertar do interesse da China por África abriu o apetite de outros investidores emergentes. Em 2005, pela primeira vez, o investimento estrangeiro directo recebido pelo continente (35 mil milhões de dólares) superou a ajuda oficial ao desenvolvimento bilateral dos países da OCDE. Em 2007 e 2008, os investimentos alcançaram 53 mil milhões de dólares.
No mundo das chamadas "economias emergentes", a China não é, todavia, o único novo investidor. Em 2006, pela primeira vez, as fusões e aquisições realizadas na região foram lideradas pelas empresas da Ásia e do Próximo Oriente. Em 2007-2008, o comércio bilateral entre a Índia e a África superou os 30 mil milhões de dólares, quando era, apenas, de mil milhões em 1991. Em 2008, pela primeira vez na história, realizou-se uma cimeira Índia-África. Do lado da América Latina, os grupos brasileiros iniciaram importantes investimentos.
Confesso que me desgostam profundamente as conversas que reduzem a África a uma oportunidade de bons negócios, mesmo quando apresentados como mutuamente vantajosos. Isto no momento em que as jogadas financeiras dos grandes negócios deixaram o mundo na aflição económica actual.
2. "Quando começou esta crise, os países em desenvolvimento, especialmente os africanos, eram meras testemunhas inocentes. Agora, só lhes resta sofrer as suas duras consequências." Estas palavras de Ngozi Okonj-Iwela, directora gerente do Banco Mundial e ex-ministra da Economia da Nigéria, ilustram a crescente preocupação pelo impacto devastador que uma crise nascida nos países ricos está a começar a ter no mundo em desenvolvimento, sobretudo na África subsariana.
Uma vez mais, os africanos são vítimas de um desastre causado por outros. Não são responsáveis pela falta de controlo nos mercados mundiais, nem pela voracidade dos bancos que desencadearam o crash financeiro, mas, como diz Velázquez-Gaztelu, podem acabar por ser os que mais sofrem as suas consequências.
No século XVI, devido ao comércio transatlântico de escravos, o dominicano Fray Bartolomé de Las Casas escreveu o violento opúsculo Brevíssima relação da destruição de África. Na Conferência de Berlim (1884-1885), consumou-se a divisão colonial da África sem ter em conta as fronteiras dos povos. Na Conferência afro-asiática de Bandung (1955), anuncia-se o futuro pós-colonial da África. Revelou-se, no entanto, um tempo doloroso em guerras, fomes e doenças.
3.O Papa foi aos Camarões e a Angola. Os meios de comunicação social concentraram esta viagem num falatório sobre preservativos que só pode servir os grandes negócios desta indústria e as audiências daqueles. Isto levanta uma pergunta: quem andará, dentro ou fora do Vaticano, a sabotar o magistério de Bento XVI que devia testemunhar a verdadeira alma do mundo - que estremece nos gestos de infinita compaixão de Jesus Cristo - e resvala para temas secundários que acabam por exigir fastidiosas explicações e interpretações de interpretações? Não se pode continuar a dar a ideia de que o catolicismo ainda não se libertou de obsessões sexuais superadas no Concílio Vaticano II. Se o Papa desejava inculcar a mensagem de uma vida sexual sã e responsável, não podia entregar, à comunicação social, o tema do preservativo. Teria sido melhor aproveitar a ocasião para se desviar dos caminhos da Humanae Vitae (1968) que vão dar sempre à multiplicação de equívocos.
Havia quem esperasse que esta viagem também pudesse servir para dar a conhecer e avaliar os caminhos percorridos, desde o Vaticano II, na reorientação missionária, nas experiências de inculturação da fé, no campo da teologia africana, no imenso trabalho da Igreja na defesa dos direitos humanos e no conhecimento dos desafios que a conjuntura actual levanta aos cristãos. A opinião pública continuará a desconhecer um mundo cheio de novidades no encontro com o essencial da fé cristã em versão africana.
In, Publico, Domingo,29 Março
NR
Texto oportuno para quem, como por aqui constatamos, continua a colocar África na sofrida agenda daqueles para quem tarda um futuro risonho, estável, libertador. Vejam os recados nas últimas cartas enviadas pelos meninos de Bulenga.Deixam-nos a pensar.Obrigam-nos a agir.
antónio colaço
A RELIGIÃO E A CRISE ECONÓMICA
Raramente se terão utilizado tanto como agora termos essencialmente religiosos. Repare-se. O que faz falta? Crédito. O que é preciso estimular? A confiança. Precisamente confian- ça vem do latim fides, que dá fé, fiar-se de, confiar em. O crente é aquele que tem fé, que confia, que se entrega confiadamente a Deus. E crédito vem de credere, donde procede crer, acreditar e credo. No domínio religioso, crer e acreditar significam entregar-se a Deus com confiança. A pergunta é: e Deus tem crédito, merece o nosso crédito? Uns acham que sim e outros que não. De tal modo que uns acreditam e outro não. Porque é preciso dar razões, justificações para crer. Como os bancos não concedem crédito, quando não há confiança.
Os crentes religiosos são frequentemente acusados de apenas se interessarem pelo Além feliz, abandonando este mundo do aquém ao seu fracasso e sofrimento. Mas isso não é verdade, concretamente quando se fala do cristianismo.
Quem lê os Evangelhos com olhos de ver, constatará que Jesus não começou por pregar esse Além feliz. Anunciou o Reino de Deus, que, traduzido em linguagem compreensível, é, pelo menos, o mínimo humano decente para todos, já aqui e agora. Porque ninguém pode acreditar na realização plena do Reino de Deus, em Deus e com Deus, se não houver sinais dele na existência presente, aqui e agora. Por isso, Jesus começou por interessar-se pelo bem-estar das pessoas, pela comida, pela sua saúde. Segundo o Evangelho de S. Mateus, o Juízo Final tem como critério de julgamento dar de comer e de beber aos que precisam, vestir os nus, tratar dos doentes. Um corpo faminto, sedento e doente, independentemente da religião, sexo, cor ou raça, é o lugar do encontro com o Infinito.
Foi através destes sinais em acção, incluindo o perdão e a fraternidade, que os discípulos fizeram a experiência de que Deus é amor e acreditaram em Jesus e no seu Reino, já iniciado e que esperaram havia de encontrar a sua consumação na plenitude dos tempos. O Além não pode ser mera compensação ideológica para a frustração do presente.
Jesus colocou-se na tradição profética do Deus que não tolera a exploração do pobre. Ai dos "que vendem o justo por dinheiro e o pobre por um par de sandálias!". "Ai de vós os que juntais casas e mais casas e que acrescentais campos e mais campos até que não haja mais terreno e fiqueis os únicos proprietários em todo o país! As vossas múltiplas casas serão arrasadas e os palácios magníficos ficarão desabitados".
No Novo Testamento, na Primeira Carta a Timóteo, lê-se que "a raiz de todos os males é a ganância do dinheiro. Arrastados por ele, muitos se desviaram da fé e se enredaram em muitas aflições". Depois de se meditar nas causas que levaram à presente crise económico-financeira, mais dificilmente se porá em causa esta advertência. Foram de facto a ganância, as fraudes e a irresponsabi- lidade sobretudo dos mais poderosos que trouxeram a crise, dramática para os pobres, que se vêem roubados da sua dignidade de seres humanos.
Num texto célebre de há quinhentos anos - tradução um pouco livre -, já Martinho Lutero se queixava desta desgraça: "Quando hoje olhamos para o mundo através de todas as camadas sociais, constatamos que não passa de um grande, de um enorme covil cheio de grandes ladrões... Aqui, seria necessário calar quanto aos pequenos ladrões, para atacar os grandes e violentos, que diariamente roubam não uma ou duas cidades, mas a Alemanha inteira... Assim vai o mundo: quem pode roubar pública e notoriamente vai em paz e livre e recebe aplausos. Em contraposição, os pequenos ladrões, se são apanhados, têm de carregar com a culpa, o castigo e a vergonha. Os grandes ladrões públicos, porém, devem saber que perante Deus são isso mesmo: os grandes ladrões."
Depois, nesta situação, se a Justiça não funcionar e for dura para os pequenos e branda ou nula para os grandes, o que pode esperar-se é o aumento crescente da impotência e da frustração, desenhando-se no horizonte focos de revolta de consequências imprevisíveis. Sobretudo se forem explosões irracionais de raiva sem para quê.
In,Diário de Notícias,hoje.
NR
O Padre Anselmo Borges dá-nos o privilégio de o podermos ouvir e, creio, interpelar, no próximo dia 16 de Abril, quinta-feira, pelas 19 horas, na inauguração da Exposição, "ABRIL,ÂNIMOS MIL", na Galeria da Associação 25 de Abril, na Rua da Misericórdia, Nº 95, ali ao Chiado. De que falamos quando falamos de ...ânimo!Uma vez mais o meu muito obrigado, querido amigo!
António Colaço
Tenho visto e apreciado o que divulga no blog, e naturalmente as imagens das pinturas que vão nascendo para a exposição que inaugurará muito em breve merecem-me particular atenção. Não sei se poderei aparecer no dia 16 de Abril, o que pode acontecer se conciliar uma deslocação a Cascais onde vou expor (Centro Cultural), mas não deixarei de ver a exposição.Um abraço e muitas felicidades
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Mais uma noite, mais uma jornada. Ia a dizer mais uma fornada, Zé Jacinto, querido e saudoso Pai, tu, que passaste as noites amassando o pão fresco com que nos surpreendias pela manhã!
Ficamos, assim, com estas meias imagens à espera da surpresa inteira e fresca, espero, com que quero surpreender os muitos amigos que à Galeria da Associação 25 de Abril vão subir. Quinta, 16 de Abril, 19 horas.
Obrigado.
antónio colaço
Pela mão do meu querido amigo Mário Rui Fonseca, este press-release de publicação obrigatória!
Alíás, muita estima pela constante actividade de animação socio-cultural das gentes de Tramagal ao longo dos tempos!
Na memória, ainda, a última aventura com a Rádio Tágide que transmitiu as "25 horas" em directo da Galeria Municipal de Abrantes, com que assinalámos os 25 anos da ânimo! (Apetecia repetir, mas ... agora a partir da Galeria de Lisboa...).
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O lema desta iniciativa parece-me óptimo: Mais Fortes.Mais Próximos!
A ânimo abre as suas portas para o que for preciso. Em tempo de crise, não tenhamos dúvidas, é por aqui que podemos romper o clima de desânimo que se vai instalando!
Contra as anónimas vozes.... marchar, marchar!
Mais do que "meter pauzinhos na engrenagem" é meter ambos os pés ao caminho e construir a nova engrenagem dos dias!
Força!Um abraço e obrigado, também a estes amigos!
antónio colaço
FORUM PARA A CIDADANIA
INFORMAÇÃO Nº 1 – 23 de Março de 2009
Realizou-se no passado dia 21 de Março a reunião de “Actores Sociais eEconómicos” desenvolvida pelo grupo de cidadãos promotores do“Fórum para a Cidadania dos Tramagalenses”.
Estiveram presentes um significativo número de Actores Sociais -
Associações de Tramagal e Crucifixo, representantes da ComunidadeTramagalense na Marinha Grande, Lisboa e Algarve, representantes deGrupos Onomásticos, de mancebos de determinados anos, Junta deFreguesia de Tramagal e Presidente da Assembleia de Freguesia deTramagal – um apreciável número de Actores Económicos – empresas e empresários – e cidadãos.
Foi apresentada e discutida a “Carta de Princípios” do “Fórum para aCidadania dos Tramagalenses” tendo sido marcado o próximo dia 15 de Abril como a data limite para a adesão por parte de Actores Sociais, Económicos e Cidadãos, sem prejuízo da faculdade de participação universal e gratuita, dos integrantes da Comunidade Tramagalense.
O sentido expresso pela Assembleia foi de confirmação do interesse da iniciativa e da vontade em concretizar o “Fórum” como forma de contribuir para que sejamos “MAIS FORTES” e estejamos “MAIS PRÓXIMOS”.
A Comissão Instaladora reuniu-se no dia 23 de Março tendo decidido tornar pública a presente informação, bem como, o conteúdo da “Carta de Princípios” e da Declaração de Apresentação.
Mais Fortes, Mais Próximos
Convidamos à adesão ao “Fórum” o que poderá ser feito junto dos
membros da Comissão Instaladora ou por correio electrónico para
No próximo dia 3 de Abril, pelas 21 horas e 30 minutos, na Sociedade Artística Tramagalense, realizar-se-á uma reunião para a qual ficam convidados os aderentes e respectivos representantes, no sentido de aprofundar a organização do “Fórum para a Cidadania dos Tramagalenses” e a Sessão Inaugural, prevista para 2 de Maio.
O blog (link assinalado) não sendo um espaço oficial da iniciativa, nem gerido pela Comissão Instaladora, foi criado para apoiar a iniciativa, o que louvamos e agradecemos, será utilizado para divulgação do “Fórum”, a par de outros meios, como sejam a comunicação social e o contacto directo.
O caminho faz-se caminhando.
MAIS FORTES, MAIS PRÓXIMOS !
A COMISSÃO INSTALADORA
Tramagal, 23 de Março de 2009
Links Amigos