Pe Martinho Lourenço, foi a primeira vez que o vi mas quando nos deu conta da alegria que sentia por festejar ali, à nossa frente, connosco, os 50 anos da sua ordenação sacerdotal, de imediato saquei do órgão as melhores notas para ajudar a uma Festa que talvez pudesse ter tido um outro enquadramento.
Sim, soube depois, que a festa rija vai ser no próximo fim-de-semana no Pereiro, sua terra natal.
Mas não deixou de ser comovente a evocação de Mons. Alvares de Moura e as explicações que tiveram na sua casa ( e minha Rua, em Mação!) os primeiros seminaristas da época.
E eu, bem como alguns dos meus colegas, que de Mons.Álvares de Moura recordamos outras explicações, quais sejam, as deliciosas gotinhas sobrantes do "Lacrima Cristi" com que, afortunadamente, numa espécie de sorteio, ajudávamos à missa!!!
Ou essa memória outra, em Gavião, dos afortunados "criados" que, alternadamente, serviam o pequeno almoço aos senhores padres! Que deliciosas aquelas açordas sobrantes, para as ainda mais delicosas sardinhas assadas com seu fio de azeite!!!!
Santos "vícios"!!!!
Santas "sobras"!
antónio colaço
- E vai quase um mês sem luz, Mons Álvares de Moura!!!Iluminai a EDP, Senhor!!!!
Não blogue!!!
TELEFONE!!!!
Foi o que fizemos! Dentro de ....dez dias!!!!
( E há mais candeeiros na Rua Pina Falcão....pois, pois, as pessoas é que têm de dizeri, a genti nã a divinha.Ós pois os senhores da Câmra tãbem têm mto que fazeri de noite, nãei!!!!)
antónio colaço
Honra e glória aos reconstrutores de Mação!!!!
Mas.....
.... para quando transformar esta casa de todos os horrores, no grande cartão de visita que o Centro Histórico de Mação há muito merece?!
Pode ser que seja desta, ouve-se em surdina, já que as obras dos outros prédios são contíguas!
Para ajudar, a senhora Dona Câmara, incapaz de sentar à mesa quem de direito, tão preocupada anda com as rupestres figuras.... ainda espeta em cima não um, mas q-u-a-t-r-o contentores do lixo!
Como quem diz, lixo és, lixo continuarás a ser!!!
antónio colaço
ÚLTIMA HORA
Já com a edição fechada acabamos de receber um lamúrio, uma QUEIXA DA ABANDONADA ALMA DA CASA REBELO" solidarizando-se connosco. Vamos tentar perceber o que nos diz para aqui o transmitirmos aos leitores.
É um texto carregado de mais de trinta e cinco anos de abandono por parte dos proprietários, primeiro, e da autarquia, depois!!!!
ac
Escola Primária de Cardigos. Os meus colegas de 2ª classe.(1958?).O Quim é o primeiro à esquerda, creio!Algum leitor de Cardigos mais atento que ajude!
Os jornais regionais têm destas coisas: aproximam-nos, no dia a dia dos dias daqueles que permaneceram no torrão natal, e, de vez em quando, quer dizer, todos os mese, trazem-nos notícias daqueles para quem os dias entre nós se cumpriram.
O mensário VOZ da MINHA TERRA, onde colaboro há mais de uma década - levado pela bondosa mão desse outro amigo que também já nos deixou, ou, melhor, Está connosco de uma outra forma, o Pe António Sousa - anuncia-me, agora, que o meu companheiro de escola primária, o Joaquim Luis Pombo Martins, em Cardigos, o Quim Estaca, como lhe chamávamos, nos deixou!
Ainda me lembro quando numa noite de denso nevoeiro, sua mãe, um pouco alterada, se abeirou da carrinha onde, pela primeira vez, creio, entrei em Cardigos em ambiente de plena campnaha eleitoral!
Agarrada ao vidro, gritava a bom gritar: "Comunistas!!Comunistas!!!", lá interrompi a função para lhe dizer que tinha sido colega dos seus filhos na escola, ficando por ali a sua exaltação!!!
"Ela anda aí!", habitual expressão do meu querido Ti Abílio Cruz, a caminho dos seus 92, creio, "Ela", começa a escolher entre os da nossa geração. Este ano, aliás, a "colheita" tem sido fecunda!
Que dizer, apenas que não A tememos e tudo fazemos para estar preparados para a Passagem.
Quim, um abraço solidário para toda a tua família, para a Lucinda Pombo tua irmã, o Fernando, creio, e todos os outros que aqui recordo.
antónio colaço
Frei Bento Domingues
In Público,25 Julho 2010
A reflexão teológica move-se no interior do mistério que pode ser comunicado
LEITURAS DE FÉRIAS
Se não pode haver “cristãos de aviário”, como se
tentou mostrar no domingo passado, é porque se
supõe uma mútua fecundação entre a evolução
cultural e a progressiva inteligência afectiva da fé
ao longo da vida. Talvez seja também a melhor
vacina contra as tentações da pseudo-ortodoxia fundamentalista.
Este caminho vai-se construindo de forma elementar
na catequese e, de modo mais elaborado, na reflexão
teológica. Não apenas através de razões explicativas, mas
entrando no jogo das imagens, dos símbolos, das figuras,
das linguagens, em todas as expressões da cultura.
Este percurso não se faz de forma intemporal, alheio
às conjunturas e aos condicionamentos da história, onde
surgem todas as provocações à fé cristã e a fé se deve tornar
provocante. Não se trata de uma cedência ao relativismo,
mas à verdade que se vai descobrindo e elaborando
pouco a pouco e segundo desafios imprevisíveis. Daí, a
importância de estar atento às surpresas da linguagem
dos “sinais dos tempos”.
A reflexão teológica não é provocada, como a ciência
moderna, por enigmas, por aquilo que ainda não sabemos,
mas que pode vir a ser analisado e explicado.
Move-se no interior do mistério que excede a ordem da
conceitualização, mas que pode ser comunicado,
nomeadamente, no mundo da liturgia e dos sacramentos. Estes são dons da fé, da esperança e do amor oferecidos em matérias
sensíveis, na ordem da metáfora e do símbolo.
Não é por acaso que, tanto no paganismo,como, depois, no cristianismo, se fala de “iniciação aos mistérios”.
E preciso ter isto em conta na chamada “pastoral dos sacramentos”, a começar pela do Baptismo, seja de adultos seja de crianças.
Para não se cair no caos ou em flutuações subjectivistas,
são indispensáveis orientações e medidas estabelecidas pelo Direito Canónico, pelas dioceses e pelas paróquias. Uma certa mentalidade julga
que, satisfeitas essas exigências jurídicas e disciplinares,
está tudo resolvido, esquecendo que essas condições
não ultrapassam muito a realização exterior, formal,
das celebrações sacramentais. Se ficarmos por aí, a vida dos sacramentos e da sua inteligência não crescerá no próprio crescimento das pessoas, que passam por muitas fases ao longo da existência.
2. Já me referi várias vezes, nestas crónicas, a
Timothy Radcliffe, ex-mestre geral da Ordem Dominicana, professor em Oxford, andarilho do mundo e autor de várias obras de reflexão
sobre os confrontos do Evangelho com a vida
contemporânea. Recebeu, da Igreja Anglicana, o Prémio
Michael Ramsey pelo seu livro, What is the point of being
a Christian?, cuja edição portuguesa está em preparação
nas Edições Paulinas. Estas já publicaram As sete Últimas
Palavras e acaba de sair sobre a Eucaristia uma obra de alta
qualidade teológica e cheia de humor: Ir à Igreja Porquê?
Começa assim: “Certo domingo, a mãe acordou o filho
com uma sacudidela e disse-lhe que estava na hora de
ir para a igreja. Sem resultado. Dez minutos mais tarde,
insistiu: – Sai imediatamente da cama e vai para a igreja.
– Ó mãe, não me apetece! É tão aborrecido! Porque é
que hei-de chatear-me? – Por duas razões: sabes muito
bem que deves ir à igreja ao domingo e, em segundo
lugar, és o bispo da diocese.
“Não são apenas os bispos que, por vezes, não têm
desejo de ir à igreja. Há inquéritos que mostram que uma
grande percentagem das pessoas, no Ocidente, acredita
em Deus, mas a frequência do culto dominical está a
cair a pique. Estão mais interessadas na espiritualidade
do que na religião institucional. Dizem sim a Jesus, mas dizem não à Igreja.”
3. Como afirma o próprio autor, a Eucaristia representa o drama fundamental de toda a existência humana. Um drama em três actos.
Forma-nos como pessoas que crêem, esperam e têm caridade. Estas virtudes são chamadas, habitualmente, virtudes teologais. São teologais,
porque constituem uma participação na vida de Deus.
A fé, a esperança e a caridade são modos de Deus fazer
em nós a sua morada, e de, em Deus, nós estarmos em
casa. São virtudes, porque nos tocam com a virtus de
Deus, fortalecendo-nos para a nossa caminhada rumo
à felicidade.
A propósito, Timothy observa: “Quando Jane Elisabeth
Stanford visitou a capela da universidade que ela
e o seu marido fundaram na Califórnia, mostraram-lhe
as estátuas que representavam estas três virtudes: fé,
esperança e caridade. E ela perguntou: E a do amor?
Ninguém se atreveu a indicar que caridade, neste contexto,
significa amor. Nunca discordem de um benfeitor!
E assim, a Universidade de Stanford é, tanto quanto sei,
o único lugar no mundo que tem a figuração de quatro
virtudes teologais.”
O humor, a exegese bíblica, as experiências e as histórias
das suas viagens apostólicas, as artes e a reflexão
teológica tecem este livro admirável que não se esgota
numas férias. A eclesiologia e a teologia dos sacramentos
exigem o aprofundamento da história de Jesus de Nazaré
e da sua significação para uma espiritualidade libertadora.
Um dominicano da África do Sul, Albert Nolan, amigo e
confrade de Timothy, realizou esse projecto de uma forma
que abre portas e janelas para se viver, na aventura
humana, a aventura de Deus (1).
Boas férias com Deus e com os amigos.
Até Setembro.
(1) Jesus antes do Cristianismo; Jesus Hoje. Uma Espiritualidade de
Liberdade Radical, Edições Paulinas
NR
Sublinhados nossos.
ac
Pe ANSELMO BORGES
IN Diário de Notícias
PEDOFILIA E ORDENAÇÃO DAS MULHERES
No passado dia 15, o Vaticano publicou um documento que actualiza as regras para a punição dos clérigos (padres, bispos ou cardeais) que abusam sexualmente de menores. São medidas que endurecem as penas e exigem que se torne realidade a "tolerância zero" para estes casos trágicos.
Durante demasiado tempo, a Igreja procurou mais preservar a sua imagem do que defender as crianças abusadas. Agora - e não poderá ignorar-se que também pesou a pressão dos média internacionais -, na actualização das Normae de gravioribus delictis (Normas sobre os delitos mais graves), de 2001, o Papa manifesta vontade firme de acabar com esta infâmia.
Como disse o porta-voz da Santa Sé, o jesuíta Federico Lombardi, entre as novidades do documento encontra-se a de que "os procedimentos sejam mais rápidos" para enfrentar com eficácia as situações mais graves e urgentes. Estas novas normas serão "um passo crucial no caminho da Igreja, que deverá traduzi-las em praxis permanente e ser sempre consciente delas".
Apresentam-se as principais.
Há uma dilatação do tempo de prescrição destes delitos, que passa de 10 para 20 anos, a contar do 18.º aniversário da vítima. Tornam-se delitos graves os abusos sexuais com incapacitados mentais adultos bem como a posse e divulgação de pornografia infantil. Nos casos mais graves, prevê-se a demissão do estado clerical. Os clérigos delinquentes terão de submeter-se a dois processos: um canónico, próprio da Igreja, e outro estatal. Lombardi foi explícito: a Igreja católica está obrigada a cumprir "as justas leis civis", também no que respeita aos crimes de abusos sexuais. Portanto, os clérigos pederastas, para lá das sanções canónicas, deverão comparecer perante os tribunais, segundo as disposições da lei civil.
Chegados aqui, ficam algumas observações.
1. O leitor perguntará, perplexo, como é que no título se une pedofilia e ordenação das mulheres. Essa foi a pergunta feita por muitos católicos e também pelos media. O que se passa é que, de facto, no mesmo documento, aparece igualmente como delito penal a "tentada ordenação sacra de uma mulher".
Aliás, aparece igualmente, entre outros delitos, a simulação da administração dos sacramentos da eucaristia e da confissão ou a gravação desta. Mas o que chocou foi a junção da punição de abusos sexuais pelo clero e da ordenação de mulheres. Independentemente do que se pense desta - estou convicto de que, mais tarde ou mais cedo, é uma questão inevitável -, não se pode deixar de lamentar o sucedido. "Se se está a tentar um sistema funcional, crimes rituais ou sacramentais podem ser tão destruidores como os morais", escreveu Andrew Brown no The Guardian, acrescentando: "Mas é uma conjunção que não vai cair bem no mundo exterior. Um organismo que tivesse alguma noção de relações públicas publicaria as duas revisões separadamente."
Perante a justa indignação de tantos por causa desta imagem misógina da Igreja, Mons. Charles Scicluna, da Congregação para a Doutrina da Fé, teve de vir acalmar os ânimos, declarando que a ordenação de uma mulher e a pederastia não têm o mesmo nível de gravidade.
2. Embora não haja uma ligação intrínseca entre celibato e pedofilia, impõe-se a necessidade de atenção redobrada na formação dos futuros padres e é inevitável o debate à volta do perigo do celibato obrigatório para uma sexualidade madura.
3. É fundamental que se garantam os direitos de todos. Se, quando há separação de poderes - legislativo, executivo e judicial -, é o que se sabe, o perigo pode ser maior na Igreja, onde a separação não existe.
4. Mais uma vez se mostrou que um problema fundamental na Igreja é a reforma da Cúria. Mais um sinal: o documento publicado na semana passada já tinha sido aprovado pelo Papa no dia 21 de Maio.
5. Apesar de tudo, trata-se de uma atitude vigorosa de Bento XVI. Seria de esperar que outras instituições lhe seguissem o exemplo. Porque não é bom refugiar-se em bodes expiatórios nem bater sempre a culpa no peito dos outros.
A Anabela Neves anda entusiasmadíssima com a sua nova "máquina" IPHONE! Preparem-se para começar a ver o resultado das suas fotos no Parlamento Global!!!
Agora é que vai ser!
Nos últimos dias, captou-nos, a vários de nós, no tecer dos últimos dias de S.Bento! Hoje, Anabela, agradeço, publicamente, com um frame de tua autoria, a alegria que tens trazido a S.Bento, ao outro lado de que, também, se fazem os dias em S.Bento.
(Não!Não é nenhum exercício de bacoco narcisismo!Mas...este frame da Anabela conversou, e de que maneira, com a minha auto-estima!
Mai nada!!!Conseguiu que sorrisse!!!!)
Vou ter saudades, mas como o Parlamento Global "está em toda a parte", eu partirei de onde estiver, para contigo e a tua fabulosa equipa vir ter!!!
Não, ainda não é a despedida, e sim o desejar de um bom fim de Semana...Global!!!
Ficamos ansiosos a aguardar pelos encantos dessa digital maquineta!!!
Parabéns e que o Dr. Balsemão saiba, em ano de aperto, desapertar os cordões à bolsa que bem mereces!!!
antónio colaço
Umas matinas diferentes, por que não?
Obrigado, por tropeçarmos em quem nos abre as portas de uma outra Iluminação!
ac
Por vezes o nosso maior problema é não saber lidar com os problemas, sentindo-nos, por vezes, isso mesmo, o problema. Culpabilizamo-nos, julgamo-nos as piores pessoas do mundo e, enredados numa mente que adora problemas, não raro, conseguimos saltar para fora do dito problema para, com serenidade, perceber como é que, como teia sibilina, deixámos enredar-nos a ponto de julgar que não há mais solução!
O texto que traduzimos ( com algumas deficiências de permeio...) ajuda-nos a percebermos como é que podemos ajudar os outros, sem que os substituamos no procurar de soluções que a eles compete. Tal como a nós, quando estamos metidos nelas!
2
É evidente que estamos abertos à publicação de todo o tipo de textos. Sobretudo daqueles que nos façam avançar na melhor compreensão de muita ideia feita de que se fazem, ainda, os nossos condicionados dias. Quer dizer, ler para deixarmos de sofrer.
ac
DISTÂNCIA OU IMPLICAÇÃO EMOCIONAL?
Quando nos contam um problema, com frequência debatemo-nos entre mantermo-nos a certa distância ou implicarmo-nos emocionalmente. O apropriado é o meio termo : a empatia
Ferran Ramon-Cortés
In El Pais Semanal .18 Julho 2010
Há alguns anos o meu pai teve uma grave doença de coração. A operação foi bem sucedida, porém, uma complicação pulmonar manteve-o durante mais de um mês sedado na UCI (Unidade de Cuidados Intensivos) debatendo-se entre a vida e a morte. Durante aquele longo mês, fomos visitá-lo e a receber a informação médica diária.Chegávamos ao hospital com o coração encolhido e desesperávamos perante a frieza do médico que, com explicações cheias de tecnicismo, umas vezes, ou com a ausência total de explicações, outras, não nos dava nenhuma mensagem que nos reconfortasse.Comentei com uma amiga que trabalha num grande hospital e que me deu uma explicação que faz todo o sentido:
“Trata-se de uma UCI pós-cirúrgica”, disse-me,”A metade dos doentes morrem. Imagina se os médicos se envolviam emocionalmente em cada caso. Não poderiam fazer o seu trabalho”…
Tinha razão e aceitei. Porém, reconheço, que aquela explicação nada me solucionou. Eu seguia sentindo-me fatal perante a asséptica comunicação de um médico, que sabia ser um excelente profissional, porém, muito distante de nós.
Compartilhava, amiúde, o meu desespero com os meus amigos, até que deles me deu a chave:
“É certo que o médico não pode implicar-se”, confirmou.”Porém, entre a implicação emocional e a distância há um caminho intermédio: a empatia. Consiste em que ele capte a tua angústia e seja capaz de comunicar-te que a percebe sem a fazer sua.
Como?, perguntei.”Moderando a sua comunicação de acordo com a tua angústia.”
Nunca fui capaz de o pedir ao médico.
A sorte é que o cirurgião chefe, que podíamos ver semanalmente, entendia assim e assim comunicou connosco, fazendo-se eco da nossa angústia.
Quando nos contam um problema, especialmente se o faz um familiar ou alguém muito próximo, é habitual que nos impliquemos emocionalmente. De facto, é o que muitas vezes se espera de nós próprios.
Poré, implicar-se emocionalmente nos conflitos dos demais não é bom.
Em primeiro lugar, porque nos contagiamos com o seu estado de ânimo, com o que, presos das emoções, deixamos de ver objectivamente as coisas e perdemos a capacidade de ajudá-los.
Em segundo lugar porque se o fazemos por sistema acabaremos sofrendo um desgaste emocional que terá as suas consequências na nossa saúde e no nosso ânimo.
A implicação emocional nos problemas dos outros não é uma boa maneira de os ajudarmos. Porém, manter a distância, tão pouco é a solução. Distanciar-se de um conflito que nos conta alguém converte-nos em personagens frias, desinteressadas pelos outros. Ainda que sem dúvida seja uma atitude que nos protege emocionalmente, não ajuda, em absoluto, na relação pessoal.
Há uma terceira via: a empatia. É uma resposta que contacta emocionalmente com o outro, sem que haja da nossa parte um desgaste emocional, e sem que altere a nossa percepção ou faça perigar a nossa objectividade.
CAPTAR NÃO É SENTIR
“A empatia representa a habilidade sensitiva de uma pessoa para ver o mundo através da perspectiva do outro”
(Sebastian Serrano)
Muitas vezes vi definida a empatia como “ a capacidade de sentir o que o outro sente”. Esta não é, certamente, a empatia que procuramos quando enfrentamos os problemas dos outros, porque o contágio do sentimento –um facto cientificamente demonstrado e que ocorre espontaneamente se não lhe opusermos certas barreiras – incapacitar-nos-á para a ajuda.
Sugiro uma definição alternativa, que consiste em considerar a empatia como a capacidade de captar o que o outro sente, e, juntando uma adenda fundamental: e de comunicar que capto o que o outro sente. Esta é a forma que temos de não resultarem frios e assépticos, e, tão pouco, de não carregar com o peso emocional dos problemas alheios. Para desenvolver esta empatia são fundamentais duas coisas:
Em primeiro lugar, sermos capazes de captar o estado emocional dos outros. Consegui-lo-emos escutando o que nos dizem, mas, sobretudo, prestando atenção a como nos contam a sua história. Para captar os sentimentos, o tom da voz e as expressões em linguagem não verbal ( o olhar, os gestos, a posição do corpo…) são mais importantes que tudo o que a pessoa a quem escutamos nos possa dizer. Devemos escutar com os olhos.
Em segundo lugar, temos de ser capazes de comunicar ao outro que captamos o seu sentimento. Será a forma em que notará a nossa proximidade e se sentirá compreendido. Será também a forma com que sairemos da frieza que poderia supor não nos implicarmos no seu problema.
SEPARANDO O PENSAR E O SENTIR.
Temos muitas formas de fazê-lo, algumas mais explícitas que outras, mas o fundamental será o modo em que interactuemos. A melhor forma de demonstrar-lhe que captamos o seu estado emocional será comunicarmos com ele utilizando as palavras, o tom e os gestos adequados à situação que nos está descrevendo e às emoções que está sentindo.
A empatia é inimiga dos juízos de valor. Não se baseia na razão, senão na emoção. A via da empatia jamais contempla a crítica, e precisa da completa aceitação do outro no momento psicológico em que se encontre sem prejuízo algum e deixando de lado a nossa opinião.
Há quem construa verdadeiras teses escutando os demais. Quem busca constantemente as contradições e desfruta”pilhando em falso” o outro. E quem aproveite a ocasião para deslumbrar os outros fazendo gala de princípios éticos e comportamentos exemplares. Tudo está muito longe da escuta empática.
Através da empatia não emitimos nenhuma opinião. Limitamo-nos a expressar ao outro que captamos o seu sentimento em toda a sua intensidade. Há gente que vai pela vida com um grande gancho, olhando como enganchar-nos à mínima. Querem que nos impliquemos nos seus problemas, nas suas emoções, querem que sintamos o que sentem, que vivamos com eles. Que lhes demos razão e aprovação das suas condutas. Se caímos nessa asneira estaremos para sempre enganchados. Acudirão a nós sem trégua gerando relações de dependência. Seremos vítimas de uma relação tóxica, que para nós resultará esgotante e para os outros perpetuará a sua falta de crescimento.
Se os queremos ajudar de verdade, devemos abstermo-nos de cair nas suas garras. Devemos evitar a implicação emocional e guardar-nos-emos de lhes dar sistematicamente a razão. O que mais os ajudará – ainda que eles procurem desesperadamente a nossa implicação – é que estejamos emocionalmente a seu lado, escutando-os e compreendendo-os mas sem manifestar a nossa opinião.
Muitas vezes seremos nós próprios os que procuraremos alguém a quem contar os nossos problemas. Quando o conseguimos não procuremos a quem resolva ou a quem sofra connosco o conflito. Procuremos quem nos possa fazer de espelho, reflectindo-nos fielmente o que sentimos. Quem nos deixe expressar-nos sem restrições, ajudando-nos assim a que encontremos nós próprios as soluções. Se não, os conflitos não nos ajudarão a crescer.
HABILIDADES PARA PRATICAR A EMPATIA
1.Escutar.O que nos dizem e, sobretudo, o que não nos dizem. Escutar com os olhos.
2.Aceitar o outro. Sem juízos nem críticas.
3.Concretizar.Perguntar por exemplos concretos. Não cair em generalidades.
4.Confrontar.Desmontar incongruências. Facilitar a autocompreensão do outro.
5.Manter a proximidade. Ter consciência do momento presente. Captar os sinais não verbais.
.... e foi então que o meu amigo Alexandre Barata, distinto assessor do PP, fotografou o fotógrafo em flagrante, ou, como diria o meu amigo Luiz Carvalho, no meu instante fatal!!!
Não é preciso estar no Vale, como no final da tarde do passado Sábado, para as saber bem perto de mim, onde quer que esteja. As minhas hortênsias, em fim de tarde, são o melhor hino que posso oferecer-Te por tudo quanto de Belo e bom de Ti vem.
Só me pedes que me mantenha sereno, mesmo se à minha volta persiste ruído. Um ruído cujo mérito é fazer-me acreditar em Ti, Fonte de toda a Serenidade.
Obrigado pela palavra sábia e iluminada de Frei Bento Domingues, ao DN Funchal, que mão amiga aqui hoje fez chegar.
Obrigado pela sua mensagem de há pouco e de que destaco:
Caro Amigo,
Muito obrigado pelo convite e por todas as coisas simpáticas que me diz.
(...)
Um abraço
Frei Bento
No final de mais um dia, sobra tanta energia que Tu bem sabes onde tanto a desejo aplicar.
Faz-me reconhecer a Tua Serenidade para saber esperar.
antónio colaço
Já lá vão pelo menos três semanas sem que as casas de uma parte da minha Rua, em Mação, tenham direito à iluminação pública!
Mons. Álvares de Moura, iluminai-nos a noite.Ou, como diria o Jorge Afonso, "tornai-nos a noite clara como o dia"!!!!
2
Há dias falámos aqui da estercaria de uma antiga vacaria, também na mesma rua, que a ânimo converteu em ...Galeria.
Logo, alguém ( a senhora Câmara? Os proprietários?) se encarregaram de acimentar a degradada porta que tão deplorável espectáculo oferecia.
Abençoada net!
Será que agora, depois deste humilde post, alguém põe uma "alampadazinha" no poste, perdão, no candeeiro público?
A senhora Câmara? A senhora EDP?
Resta-nos esperar agradecendo a solução encontrada para a Vacaria que, afinal, não virou... Galeria!!!.
antónio colaço
O olhar atento de Roberto Ferreira transporta-nos, de novo, a mais uma grande entrevista do Diário de Notícias ....do Funchal. Louve-se a coragem e a abertura de espírito dos nossos amigos do DN Funchal para homens como Anselmo Borges e Bento Domingues, cuja Palavra só poderá completar a sua salvífica acção se encontrar em nós o necessário chão que, como semente, a faça germinar.
O primeiro passo é multiplicar os lugares da sua eficaz divulgação.
É o que fazemos, renovando este passa palavra de RF.
antónio colaço
NR
Título do post da nossa responsabilidade.
Fotos Helder Santos
Entrevista a Frei Bento Domingues
In DN/FUNCHAL .17 Julho 2010
ABRAÇO DO PODER POLÍTICO SUFOCA A IGREJA
Nicolau Fernandez
Os padres não se devem deixar manipular pelo poder político, porque quando este abraça a Igreja, acaba por sufocá-la. A opinião é de Frei Bento Domingues. Dominicano, professor, investigador, colabora em várias revistas, jornais e mantém, desde 1992, uma crónica no 'Público' onde lança um olhar ao nosso Mundo.
E sobre a política e a religião tem um olhar muito lúcido: a Igreja deve ser aquela que alerta para a voz dos sem voz, para o poder dos sem poder, para as necessidades de todos. E encostada ao poder, abraçada ao poder, a Igreja será julgada também como poder. Por isso, acha melhor que os padres e bispos não estejam presentes nas inaugurações, até porque algumas dessas obras são fruto de uma política errada, muitas vezes opressiva e exploradora, que o padre não deve abençoar.
Frei Bento Domingues defende, ainda, uma revisão profunda naquela que é a posição da Igreja em relação à ética sexual, quer no domínio da contracepção, quer na teimosia em não considerar publicamente católicos os homossexuais. Da mesma forma, não entende porque não podem comungar os divorciados que se voltam a casar, nem porque razão continua reservado às mulheres o papel de varrer e colocar flores nos altares e não serem ordenadas sacerdotes.
Há dois meses tivemos a visita do Papa Bento XVI. Ficou alguma coisa de importante?
Creio que ficou uma coisa importante em relação ao próprio Papa, que adoptou uma posição muito cordial, muito simpática, muito aberta e serena. Não andou a apontar o dedo a ninguém, não andou a condenar, que era um estilo que antes cultivava.
Mais Bento e menos Ratzinger?
É isso mesmo. Porque quando foi o cardeal da congregação para a doutrina da fé, secou tudo à roda. Chamou a exame, proibiu muitos de exercerem o trabalho teológico que tinham, como aconteceu com os teólogos da libertação. Criou um clima contra a liberdade da teologia na Igreja. Quis ser o fio de prumo da teologia, sendo a partir dele que se definiria quando é que a teologia era boa ou má.
Porque acha que ele adoptou essa posição de mudança na visita a Portugal?
Acho que ele adoptou essa mudança porque cá em Portugal não havia grandes conflitos. É uma Igreja pacífica, talvez não seja muito brilhante.
Há quem espere pouco deste Papa em questões fracturantes, como a homossexualidade, a questão das mulheres na Igreja. Este Papa pode ainda mudar alguma coisa?
Só se for por um grande milagre.
Só por milagre?
Às vezes há surpresas. A história da Igreja, ao longo destes dois mil anos, teve muitos altos, muitos baixos. Quando menos se espera, as coisas, às vezes, acontecem. Veja-se o exemplo do Vaticano II e de João XXIII que falava com as pessoas como se o mundo todo fosse a sua paróquia. Fossem crentes, não fossem crentes. Recebeu Laos, dirigentes soviéticos...
A Igreja precisa de um Vaticano III?
O mundo mudou muito desde os anos 60. Só que também foram nomeados bispos que desejam pouco a renovação. Acho que a mudança devia ser preparada ao nível de base, nas comunidades, nas paróquias, nos movimentos.
Isso seria inverter toda a lógica...
Seria, mas era uma boa lógica, era uma lógica Eclesial. A Igreja somos nós todos. Os bispos são aqueles que orientam, mas a Igreja é feita de todos. O Vaticano II tem tantas virtualidades que ainda não foram acolhidas. O necessário era encontrar formas e desafios globais e locais para praticar o Vaticano II. É necessário que algo aconteça porque há um nó de problemas que ficou rígido e que neste momento é necessário desatar.
Por exemplo?
São muitos. Mas, por exemplo, no sector da moral familiar há um conjunto de posições na ética do plano sexual e familiar que era necessário rever a fundo.
Questões como a contracepção e o aborto?
Quanto ao problema do aborto, creio que não há nenhuma pessoa de boa vontade que seja pelo aborto. No aborto sou e fui sempre contra a penalização de quem aborta. Mas o aborto é sempre uma desgraça.
Mas há outros problemas, como a questão da educação sexual, a questão dos métodos anti-conceptivos. Há ainda o problema das pessoas que se declaram de tendência homossexual, e que não se entende porque razão não podem ser considerados publicamente como católicos. São admitidos como católicos, mas depois têm de ser todos abstémios. Os homossexuais não podem ser todos monges, ou freiras. Há aí também um problema a encarar, a estudar.
O discurso actual da própria Igreja parece que não está adaptado..
. Desculpe, eu faço sempre distinção entre aquele que é o discurso da Igreja e aquele que é o discurso da hierarquia. A Igreja é um mundo enorme, muito diversificado, muitas tendências, muitos grupos. Depois, nas direcções das comunidades, na hierarquia, também há diversas tendências, mas aquilo que prevalece na Cúria Romana é que parece só osso. É um bocado rígido. Uma das reformas fundamentais era uma reforma da Cúria Romana de fio a pavio.
Na mudança necessária, há quem defenda o acesso das mulheres ao sacerdócio...
Isso é uma questão de bom senso
A Igreja então, nesta matéria, não tem bom senso?
Não, não tem. A questão é a seguinte e, para mim, é claro como a água: o que espanta no Novo Testamento foi a revolução feminista feita por Jesus. Se lermos as narrativas do Evangelho, vemos que até o Cristianismo tinha acabado se não fossem as mulheres. Na ressurreição, Jesus revela-se às mulheres em primeiro lugar, e encarrega-as de ir dizer aos irmãos: a luta continua, tudo para a rua. A tal ponto que Maria Madalena, nos Dominicanos, é dita a mãe dos pregadores, porque ela é que foi revelar aos outros que Cristo estava vivo.
Além disso, foram as mulheres que começaram por financiar o projecto de Jesus e, a seguir, foram as únicas que aguentaram o processo de Jesus na Cruz. Os homens pisgaram-se, cada um foi à sua vida. Acharam que não era de confiança alguém que se proclamava filho de Deus e que nem foi livrado da cruz.
Houve mulheres extraordinárias ao longo da história da Igreja, mas o poder foi açambarcado pelos homens, os mesmos que pensam que é bom que varram as igrejas, que ponham flores nos altares, mas mais do que isso não dá.
Porque acha que a Igreja mantém essa má relação com as mulheres, com os homossexuais, e porque não admite outras questões como o fim do celibato dos padres?
Durante muito tempo um movimento, que veio de fora da Igreja, chamado maniqueísmo, defendia que o necessário era libertar-se do corpo. E isso penetrou muito na Igreja. É engraçado, Deus fez-se carne, fez-se condição humana, depois as pessoas pensam que são anjos, ou querem fazer de conta que são anjos. Não são! E isto tem pesado imenso.
E o celibato dos padres?
O celibato defendo que seja livre. Os que quiserem ser presbíteros e bispos e quiserem ser casados, que sejam. Não é por ser casado ou solteiro, ou mulher ou homem que devem ser chamados ao presbítero. O que deve pesar é a sua capacidade de orientar comunidades cristãs. Nada impede que os padres tenham família. Os médicos também têm de ter disponibilidade e têm família.
Além disso, temos um problema muito grave que é o número de padres que gostavam do serviço da Igreja e que abandonaram para se casar.
Não faz sentido, como não faz sentido defender que podiam viver como irmãos. Um casal a viver como irmãos (risos).
Mas há um assunto que eu acho mais grave que todos esses. É o caso dos divorciados recasados, que são convidados a ir à Igreja, mas não se lhes permite o acesso à Eucaristia. Ora a gente convida uma pessoa para jantar e diz: está bem, vens jantar, mas não comes. Não dá!
O que acha da leitura que fazem de que o celibato está associado a estes escândalos de pedofilia no seio da Igreja...
Acho que é absolutamente absurdo. Porque primeiro só se fala da pedofilia na Igreja Católica, quando as estatísticas revelam percentagens muito maiores em outras igrejas. A Igreja tem é um discurso tão severo sobre a ética sexual que é bonito bater-lhe por causa disso. Por outro lado, o problema da pedofilia não vejo que tenha nada a ver com uma espécie de vingança por não ter acesso à sexualidade com adultos.
Numa altura em que se acredita numa maior aceitação do diferente, maior cooperação, maior respeito, assiste-se ao crescendo de fundamentalismos, e, por outro lado, numa sociedade que se diz laica, há também um regresso ao religioso. Como explica esses fenómenos?
Creio que o ser humano é um ser simbólico, é um ser ritual que não pode viver sem transcendência. Precisamos de ser amados, seja como for. Há uma abertura à transcendência e que para ser boa tem de ser uma transcendência que nos ame, que nos faça respirar. A religião não tem substituto possível.
Depois há um fenómeno, que é o facto de gostarmos muito da diferença se se parecerem connosco. A gente gosta muito que nos respeitem como diferentes, mas respeitar os outros e ver o valor da diferença dos outros, aí é uma conversão mais difícil do que arrancar os dentes todos sem anestesia.
Eu não acho que as religiões sejam um mal. Acho que as religiões são um bem, são uma forma de respiração infinita, mas podem transformar-se no que há de pior, porque é em nome de Deus que se começa a matar gente. E aí, então, dão cabo de Deus e dão cabo da gente.
Tem um livro que aborda a religião e a política. Aqui na Madeira critica-se o facto da Igreja estar muito ligada ao poder, o mesmo poder que muitas vezes afasta os padres que são da oposição. Conhece esta situação?
Já me falaram dela e acho uma coisa miserável. Por uma razão simples: os padres podem meter-se na política como cidadãos. Mas não podem servir-se do facto de serem padres para manipular. E depois também não se devem deixar manipular pelo poder político. A meu ver, há que respeitar a vocação de cada um, mas seja partidário, seja governo, seja o que for, a Igreja nunca deve deixar-se dominar pelo poder político. Digo isto por uma razão simples: Jesus quando começou a sua intervenção original na sociedade teve três tentações: a tentação do poder político, a tentação do poder económico, e a tentação do espectáculo religioso. Jesus negou isso tudo.
Não sou nada contra os políticos. Meu Deus, é uma das missões mais importantes na sociedade. Mas os serviços da Igreja devem ser aqueles que alertam para a voz dos sem voz, para o poder dos sem poder, para as necessidades de todos. Encostada ao poder, abraçada ao poder, a Igreja depois será julgada também como poder. E quando o poder político abraça muito a Igreja, sufoca-a.
Acha mal um padre ou um bispo ir a uma inauguração?
Eu acho que era melhor não. Por uma razão simples, muitas vezes há coisas e há inaugurações que são fruto de uma política errada e muitas vezes opressiva e exploradora, e então o padre vai abençoar. Meu Deus, não! Há mais que fazer.
Conhece o caso do padre Martins?
Não conheço o caso, conheço o padre Martins e sou muito amigo dele.
É o exemplo de um caso que esteve na oposição e foi marginalizado pela própria hierarquia da Igreja...
Meu Deus, acho que está mal. Porque o que se deve é fazer inclusão. É evidente que estando num grupo também se tem de respeitar as regras do grupo, mas também tem de ser ter direito à própria voz. Há uma coisa que São Tomás de Aquino dizia e que para mim é importante: a consciência é o nosso último juiz. É muito importante respeitar a consciência de cada um.
Frei Bento Domingues
In Público de 18.07.2010
Que não pode haver “cristãos de aviário” é o próprio ritual do baptismo da criança que o diz
Cristãos de aviário?
Apresentaram-me, há dias, um católico fervoroso
de uma maneira curiosa: “Este não é um
cristão de aviário; foi ele que pediu, aos 35
anos, para ser baptizado.” Não achei nada de
estranho.
No começo do cristianismo, o baptismo nasceu para celebrar
a conversão de milhares de adultos. É, ainda hoje,
a prática corrente em muitos países. Mesmo na velha Europa,
incluindo Portugal, por motivos e caminhos muito
diversos, o baptismo já não é só pedido para crianças.
Em caso nenhum, porém, se pode falar de cristãos de
aviário. Tertuliano (155-222), um tunisino convertido, o
primeiro grande intelectual cristão, cunhou uma fórmula
exemplar: “Ninguém nasce cristão, torna-se cristão.” Mesmo
aqueles que recebem o baptismo em criança celebram
o começo de uma caminhada, não o de uma fatalidade.
O termo português “baptismo” é a transliteração do
grego “baptismõ” e signifi ca “banho”, associado aos verbos
“mergulhar”, “lavar”, “derramar”. A partir dessa realidade
empírica e simbólica assumiu, no plano religioso,
o sentido de purifi cação e de nova vida.
A grande difi culdade, no próprio imaginário de muitas
iniciações ao baptismo cristão, consiste em tomar como
seu antecedente directo o baptismo que João ministrou
a Jesus no rio Jordão.
É verdade que Jesus de Nazaré levou, como homem,
muito tempo a encontrar o seu próprio caminho e a sua
missão. Foi discípulo de João Baptista, de quem nunca
disse mal, antes o elogiou como a ninguém, mas desligouse
dele e escolheu outro género de vida. O que marcou a
originalidade de Jesus não foi o baptismo de João. Qual
terá sido, então, a experiência que o fez romper com
esse grande profeta?
S. Lucas — assim como os outros evangelistas —contam
o que se passou: tendo Jesus sido baptizado, e estando
em oração, o Céu rasgou-se; o Espírito Santo desceu sobre
Ele em forma corpórea, como uma pomba. Do Céu
veio uma voz: “Tu és o meu Filho muito amado; em ti me
comprazo” (Lc 3, 21-22).
Foi esta experiência mística, foi este banho de Espírito
Santo, que alterou o rumo da sua vida. É a partir daqui
que se pode falar de antes e depois de Cristo. Lucas vai
dizê-lo, de forma explícita: “A Lei e os profetas até João.
Daí em diante, é anunciada a Boa Nova do Reino de Deus.”
O IV Evangelho ainda é mais incisivo: “A Lei foi dada por
meio de Moisés; a graça e a verdade nos vieram por Jesus
Cristo” ( Jo 1, 15-34).
2. As Igrejas de Jesus Cristo ressuscitado são fruto do
Pentecostes. Pelo menos, é assim que são apresentadas,
de muitas maneiras, pelos Actos dos Apóstolos. Os primeiros
convertidos perguntaram a Pedro e aos apóstolos:
“Irmãos, que devemos fazer?” A resposta já resume,
sem dúvida, práticas simbólicas das comunidades
cristãs: “Convertei-vos e seja cada um de vós baptizado
em nome de Jesus Cristo, para a remissão dos pecados
e recebereis, então, o dom do Espírito Santo” (Act 2, 37-
38). Um ritual é um programa de acção simbólica. Deus,
porém, não está dependente dos rituais. Estes não são
a única forma da sua actuação, não têm o exclusivo da
sua graça. Nos capítulos 10 e 11, conta-se que, sem ritual
nenhum, enquanto Pedro falava, o Espírito Santo — sem
lhe pedir licença — caiu sobre todos os que ouviam a
palavra e concluiu com muito bom senso: “Pode-se porventura
recusar a água do baptismo a esses que, como
nós, receberam o Espírito Santo?” Este desembaraço, em
Cesareia, criou-lhe muitos problemas, em Jerusalém, onde
foi obrigado a justifi car-se perante judeus circuncisos,
que não admitiam que o Espírito de Deus andasse à solta
entre os pagãos. Convém não esquecer que antes, durante
e depois da acção ritual é em Deus que vivemos, nos
movemos e existimos. As acções simbólicas não existem
para provocar a acção de Deus, mas para nos abrirmos
à sua intervenção. Para justifi car os sacramentos, temos
a tendência em restringir a acção de Deus, anexando-a
aos rituais, esquecendo que somos nós, seres simbólicos
por natureza, que precisamos dessas mediações, que não
podem encurtar a divina liberdade.
3. Consta de uma homilia de S. Gregório, bispo de Nisa
(século IV), a seguinte oração baptismal: “Eu te marco
em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, para que
sejas cristão: os olhos, para que vejas a luz de Deus; os
ouvidos, para que ouças a voz do Senhor; o nariz, para
que percebas o suave odor de Cristo; os lábios, para que,
uma vez convertido, confesses o Pai, o Filho e o Espírito
Santo; o coração, para que creias na Trindade indissolúvel.
O Verbo santifi cou-nos, o Espírito marcou-nos; o
homem novo saiu ao mundo encontrando de novo a sua
juventude pela graça.”
Que não pode haver “cristãos
de aviário” é o próprioritual do baptismo da criança
que o diz. Os pais e padrinhos comprometem-se a realizar
um programa de educação em liberdade, num
mundo em transformação. Se proclamam que não vale
tudo, é preciso não se deixar enganar pelas seduções
do mal sempre com novos rostos. Sem a descoberta permanente
de Cristo, como fonte de sentido, de beleza, de
responsabilidade e sem a força da sua graça, é impossível
ser fiel a esse programa numa vida em devir.
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