CRONISTA DO REINO DE DEUS A CAMINHO
PeAnselmo Borges
In DN
No passado dia 10 de Dezembro, realizou-se em Lisboa uma merecida homenagem a Frei Bento Domingues, com a apresentação do livro Frei Bento Domingues e o Incómodo da Coerência, onde escrevem personalidades destacadas de diferentes quadrantes da cultura, da política, da religião.
Frei Bento nos AAA-Animados Almoços ânimo/Associação 25Abril, o ano passado.
Os intervenientes na sessão salientaram os valores por que Frei Bento se rege: a coerência, o diálogo, o humanismo universalista (Guilherme d'Oliveira Martins), a sabedoria, a dignidade humana, a ética (Maria José Morgado), o amor, a tolerância (Luís Osório, que concluiu: "Sempre que vejo um homem e penso em Jesus, penso em Frei Bento").
Ao longo da sua vida, foi deixando lições fundamentais: a paixão por Jesus Cristo, a liberdade cristã - "foi para a liberdade que Cristo nos libertou", escreveu São Paulo -, uma teologia que tem de ser encarnada, o combate pelos direitos humanos, a magnanimidade com os perseguidores, o despojamento em relação ao Poder, que conhece mas ao qual nunca se colou, a alegria, aliada a uma ironia fina, uma generosidade sem limites. É enorme a dívida da Igreja e dos portugueses para com Frei Bento Domingues.
O que aí fica é uma brevíssima tentativa de leitura da sua teologia, expressa cada domingo nas suas crónicas. Ele também lê o Evangelho, e lá está, no Prólogo do Evangelho segundo São João: o Logos, a Palavra, fez-se carne, ser humano frágil, fez-se tempo (Chronos), assumindo-o na sua fragilidade e dando-lhe sentido. Aí está a crónica no sentido teológico: a Palavra no tempo - a Palavra habita o tempo, e então o ser humano transcende o tempo na sua voragem, há um Sentido de todos os sentidos - quantas vezes, nos seus textos, Frei Bento refere esta ideia: a articulação do Sentido de todos os sentidos.
O que são os Evangelhos senão narrativas - histórias do e no tempo, iluminadas pela Palavra? O que são os evangelistas senão cronistas do Reino de Deus a acontecer em histórias paradigmáticas? Será possível uma teologia viva que não seja teologia narrativa? Concretamente a teologia cristã o que é senão reflexão explicitada sobre a praxis do Reino de Deus? É assim que Frei Bento é o teólogo-hermeneuta, se se quiser, cronista do Reino de Deus, que é o reino do homem bom, justo, livre, fraterno e feliz.
E aí estão os seus grandes princípios arquitectónicos: teologia do Reino de Deus; contra a gnose, porque "não há salvação fora do mundo"; teologia que não abandona a razão crítica, também em relação à Igreja, frequentemente "pasmada e sentada", no dizer de Fernando Alves, até porque sabe que a razão autónoma, feito o seu percurso todo, descobre que ela própria se acende na noite do Mistério e que só um homem livre pode dizer sim a Deus; teologia que vincula ética e estética; teologia ecuménica: todos estão incluídos, sem anular, pelo contrário, implicando, as diferenças; teologia para a paz e articulando-se à volta da ética e da mística, num vínculo indissolúvel, pois a nova catolicidade passa por essa outra nova globalização desde baixo, desde os débeis, pobres e marginalizados, à escala mundial.
O tempo, na sua fragilidade e carácter efémero, é habitado: o Verbo fez-se carne no tempo. Frei Bento Domingues continuará a alumiar-nos como cronista do Reino de Deus a caminho, Reino de uma humanidade boa, livre, justa e feliz. Precisamente a concretização desta bondade, liberdade, justiça, fraternidade, diálogo, felicidade, no horizonte sempre mais aberto de esperança no Sentido de todos os sentidos, irá sendo o critério de verificação da verdade da fé e da teologia, uma verificação sempre frágil, porque, num mundo que é processo, a verificação última é para todos escatológica: só no fim se saberá.
De todos os modos, como ele escreveu, "A religião verdadeira é a respiração da alegria da terra ou o projecto contra o sofrimento do mundo. Quando uma religião, uma igreja ou uma seita se cala perante a humilhação da condição humana, é porque se esqueceu da pergunta de Deus que percorre a história da desumanidade: 'que fizeste do teu irmão?' A arte de viver de Jesus de Nazaré foi esta pergunta feita carne, humanidade de Deus."
No regresso a Bruxelas, um rápido saltinho até ao Montijo!
Obrigado meu caro João Paulo Almeida!
antónio colaço
NR
Seremos nós, hoje, seres mutantes? Será que as transformações tecnológicas e culturais das últimas décadas nas sociedades desenvolvidas são mudanças que apenas alteram, embora às vezes muito substancialmente, as características, as rotinas e as expectativas do ser humanos?
Ou estaremos, o que é muito diferente, face a uma verdadeira mutação, isto é, perante um conjunto de alterações mais profundas e radicais, que permitem falar da emergência de um novo perfil antropológico do próprio ser humano?
Esta é uma questão decisiva, talvez mesmo a mais decisiva que hoje podemos colocar, tanto do ponto de vista político como numa perspetiva civilizacional. E ela abre um debate que alimenta, e vai animar nos próximos tempos, muitas e variadas controvérsias, que não vão ser fáceis de decidir, num ou noutro sentido.
Eu aposto na via da mutação. Faço-o não por uma qualquer simpatia com a perspetiva da rutura, mas porque me parece que se multiplicam os fatores de diferenciação e, sobretudo, de não-retorno, que apontam nesse sentido. Vejamos alguns, tal como se apresentam em três experiências nucleares de qualquer ser humano, como são as do corpo, do tempo e da comunicação com as novas tecnologias.
Vive-se hoje quase mais um terço do que se vivia há um século. Mas este dado objetivo, por si só absolutamente notável, trouxe com ele mudanças subjetivas tão inéditas como extraordinárias em termos de modo e de qualidade de vida.
Quase desapareceram os elementos que faziam parte da experiência central e imemorial da humanidade, como a dor, a febre ou o sofrimento, que deram lugar a um corpo que é vivido como uma garantia de bem estar, que torna normal pensar alcançar a felicidade na terra, sem ter de se esperar pela "outra" vida.
Viver muito, e bem, foi uma transformação que mudou radicalmente a relação do indivíduo contemporâneo com o seu próprio corpo, que passou a ser vivida de um modo mais positivo, nomeadamente valorizando sem complexos todo o domínio dos sentimentos e das emoções.
Mas enquanto o corpo se tornou mais subjetivo, o tempo, pelo contrário, tornou-se cada vez mais objetivo, externalizando-se e impondo à vida de todos um ritmo cada vez mais vertiginoso, dominado por todo o tipo de urgências.
Como se corrêssemos para a morte, que justamente por isso temos de ignorar! Com efeito, no tempo tradicional, a morte aparecia como uma perspetiva, uma experiência e um horizonte, digamos, naturais.
O indivíduo contemporâneo, ao invés, baniu a morte do seu tempo, da sua proximidade e da sua experiência, como se tratasse de um impensável quase absoluto que apenas se tolera na animação ecrãnica.
As novas tecnologias, por sua vez, criam um contexto inédito para estas mutações na forma de viver o corpo e o tempo - é com elas que verdadeiramente se troca de fase, no sentido da mutação antropológica.
É que com elas, e nomeadamente com o telefone portátil e com o computador pessoal, com os smartphones e os tablets, a definição do ser humano passa a ser dada pela sua conectabilidade: a sua identidade decorre fundamentalmente não do seu enquadramento familiar, profissional ou social, mas de estar "ligado", e das modalidades desta conexão.
Mas estar "ligado" significa, paradoxalmente, para o homo digitalis poder desligar-se de tudo - seres humanos, ambiente de trabalho, ligações familiares, etc. - o que o rodeia. Facto que, embora traduza uma nova e enorme dependência, é em geral vivido como uma libertação. E não como uma libertação qualquer, mas como uma libertação que abre o caminho a um sentimento de jubilatória omnipotência.
Como se, quanto mais descontextualizado se estivesse, mais forte um indivíduo se pudesse tornar, ilusão dificilmente contestável na medida em que ela lhe oferece "um" mundo que lhe permite, afinal, ignorar o mundo, mesmo todo o mundo.
Para um ser humano "ligado", o tempo é apenas o da atualidade, que impõe o curto-termismo. Uma atualidade que invade - como se a pudesse substituir - a própria vida interior dos indivíduos, ao mesmo tempo que os priva de qualquer visão global sobre a sociedade a que pertencem.
O que acontece porque se vive num regime de aceleração que dilui a perceção as várias temporalidades num presente perpétuo, excitantemente extático, em que os acontecimentos se multiplicam na razão inversa da compreensão do seu sentido.
O tempo comprime-se, o atordoamento instala-se, vive-se com a angustiante noção - que contraria todas as promessas da utopia tecnológica - de que realmente não há tempo para nada.
Os tão badalados como incompreendidos problemas de disciplina escolar, de incivilidade e de falta de educação da juventude, nascem justamente dessa desconexão entre os vários ambientes, ou contextos, em que os jovens hoje vivem, o digital e o natural. Em que o primeiro é considerado vital e suscita uma crescente fidelidade e o segundo é visto como descartável e é votado a um crescente desprezo.
As consequências de tudo isto são imensas e avassaladoras: basta pensar que, pela primeira vez na história da humanidade, a identidade dos indivíduos é construída não pelo sentimento de pertença e de integração num coletivo, mas pela sua radical des-pertença, por um nomadismo identitário que não segue nenhuma rota nem procura qualquer destino
Nota: na crónica da semana passada, o valor a que se refere François Lenglet no livro, que cito, 'Qui va payer la criseuro?', é 'mille milliards', isto é, um bilião na nomenclatura portuguesa. Número que tem não nove mas doze zeros. A correção do lapso, devida ao leitor, aqui fica.
MONTIJO.Frente Ribeirinha do Tejo.
Esqueci-me do ditado popular "Em Janeiro uma hora por inteiro!" e lá cheguei eu adiantado ao entardecer desejado.
Em regra chego atrasado mas, como se vê, para este par que se passeia à beira rio/mar
o sol nunca se põe.
antónio colaço
Eu vim de longe
De muito longe
O que eu andei para aqui chegar
Eu vou para longe
Para muito longe
Onde nos vamos encontrar
Com o que temos para nos dar
Papá,
Obrigada. Obrigada por tudo. Obrigada, antes de mais, pela Liberdade.
Obrigada por tudo quanto ensinaste a todos os que tiveram o privilégio de te ter nas suas vidas. Obrigada por nos teres ensinado a
sonhar e a ter coragem para lutar por aquilo em que acreditamos.
Ser tua filha é um orgulho e a definição daquilo que defendo e em que
acredito e que vou, agora, numa passagem de testemunho demasiado
prematura, esforçar-me, todos os dias, por ensinar à tua neta.
Para isso conto com a ajuda de todos os que te amam, em particular da mamã
que, tal como foi contigo, é o meu, o nosso pilar.
O amor e a saudade que sentimos enchem toda a nossa vida mas sabemos
que a mais justa homenagem que te podemos fazer, a ti, o mais justo dos
Homens, É viver com alegria recordando-te em cada sorriso da Luisinha.
O nosso mundo está diferente e difícil mas prometo fazer todos os dias
aquele bocadinho para ajudar a torná-lo o mundo com que sonhaste e em
que, apesar de todas as dificuldades, e foram tantas, nunca deixaste de acreditar.
Sei bem que isto não é um adeus mas um até já e que ganhámos mais uma
estrelinha brilhante para olhar por nós.
Descansa em Paz
Filipa Marques Junior
LISBOA.Cais das Colunas. A primeira e única imagem deste primeiro de Janeiro numa rápida investida sobre Lisboa!
NR- Marques Júnior honrou-me com a sua presença no jantar da minha despedida do GPPS em Setembro de 2010.
Cara(o)s associada(o)s e amiga(o)s
É com enorme pesar e maior desgosto que vos informo do falecimento do nosso sócio n.º 5, António Alves Marques Júnior, que pertenceu à Comissão Coordenadora do Movimento dos Capitães, integrando o Conselho da Revolução, durante toda a existência do mesmo (Março de 1975 a Outubro de 1982).
Condecorado com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, foi deputado à Assembleia da República, ao longo de várias legislaturas, em representação do PRD e do PS.
Actualmente, eleito pela Assembleia da República, desempenhava o cargo de presidente do Conselho de Fiscalização do Sistema de Informações da República Portuguesa.
Sempre coerente com a defesa dos valores da Liberdade, da Democracia, da Justiça Social e da Paz, valores de Abril, Marques Júnior foi um dos expoentes máximos do MFA, que dignificou com a sua acção.
Por isso, hoje, dia em que o MFA e também o País ficam mais pobres, quero prestar-lhe, em nome da Associação 25 de Abril, e de mim próprio, uma sincera e singela homenagem, com um enorme abraço da maior amizade e consideração.
Até sempre, António!
Vasco Lourenço
P.S.
O corpo do Marques Júnior irá no dia 1 de Janeiro (de manhã) para a Basílica da Estrela, onde será velado.
Dia 2 de Janeiro, também de manhã, haverá missa de corpo presente, após o que o funeral seguirá para o jazigo de família em São Martinho de Bornes, Pedras SalgadasLinks Amigos