Frei Bento Domingues
In Publico 28 Março
NAQUELE TEMPO......NÃO! HOJE
Esta semana será santa se as vítimas da dominação económica, política, religiosa e de qualquer discriminação forem o nosso cuidado afectivo
É verdade que essa obra já está muito longe das últimas vagas de reconstruções históricas das origens do cristianismo, nascido no mundo judaico e greco-romano no Ano I, um dos mais importantes da História universal.
Foi em referência a Jesus de Nazaré que surgiu o movimento religioso mais significativo do Ocidente e provavelmente o de maior influência cultural e social do mundo. Isto, apesar dos crimes anticristãos que, em seu nome, foram cometidos.
Segundo o historiador Antonio Piñero, tanto entre os judeus como entre os gentios de há dois mil anos, havia uma grande aspiração a que o mundo mudasse de signo, como se pode ler nos oráculos de Sibila: com o menino que vai nascer concluir-se-á finalmente a época de ferro e nascerá, por todo o mundo, a idade doirada...
Os seguidores do Nazareno interpretaram, com eficácia, esses “sinais dos tempos”.
É urgente perceber que o rumo do mundo actual, com tantos recursos científicos e técnicos, facilmente globalizáveis, carece de lideranças que o pensem a partir dos que foram e são os mais sacrificados aos imperativos da idolatria do dinheiro, rei e senhor.
É verdade que o dominicano S. Tomás de Aquino (1225-1274) defendeu, com excelentes razões teológicas, que a eficácia salvadora, transformante, da intervenção histórica de Jesus, de há dois mil anos, atinge todos os tempos e lugares. O monge beneditino alemão, Odo Casel (1886-1948), morreu a cantar o Exultet, um hino muito belo da Vigília Pascal, na célebre abadia de Maria-Laach. Depois de ter defendido, contra ventos e marés, a convicção de que ao celebrar o mistério do culto cristão estamos sempre envolvidos pela presença misteriosa, actual e actuante da morte e da ressurreição de Cristo, entrou no reino da luz. Não se nega a memória. É, todavia, o presente, cheio de futuro, o que mais importa.
Mas então, o que haverá de novo na intervenção de Bergoglio para nos sugerir, nas formas mais surpreendentes, que o tempo e a geografia de Jesus são hoje, seja numa prisão, num hospital, em Nápoles, em Lampedusa, na Turquia, num bairro de lata em Roma ou no Parlamento Europeu?
Diria o seguinte: os teólogos bons e os bons liturgos pensam e celebram, com consciência, a absoluta transcendência de Deus conhecido como desconhecido. Trabalham, de forma brilhante, ideias brilhantes.
Francisco segue outro caminho: não defende apenas que a teologia, a liturgia, a pregação, a catequese, a pastoral devem cheirar a povo e a rua. Não traz apenas para o nosso tempo o que aconteceu naquele tempo, na história de Jesus, interpretada pelos escritos do Novo Testamento nem faz aplicações moralizantes desses textos fantásticos, muito desconhecidos do povo católico. Faz outra coisa: recria, com uma espantosa imaginação, as narrativas de antigamente com histórias e realidades dos pobres, dos doentes, dos desempregados, jovens e adultos de hoje, a quem roubam o presente e a todos roubam a dignidade, reduzindo os idosos a produtos descartáveis e sobrantes.
Prefiro dar-lhe a palavra: “A situação de Nápoles não é só uma responsabilidade da cidade, nem somente do país, mas do mundo! Porquê? Porque há um sistema económico que descarta o povo e agora toca aos jovens serem descartados, sem trabalho e isso é grave!
Diz-se que há obras de caridade, há os voluntários, há a Cáritas, há aquele centro, há aquele clube que dá de comer...”
O problema, diz Bergoglio, não é ter de comer, por esmola. “O problema mais grave é não ter a possibilidade de levar o pão para casa, de o ganhar! E quando não se ganha o pão, perde-se a dignidade. Esta falta de trabalho rouba-nos a dignidade. Devemos lutar por isso, devemos defender a nossa dignidade de cidadãos, de homens e mulheres, de jovens. Este é o drama do nosso tempo. Não devemos permanecer em silêncio.”
Hoje, Domingo de Ramos, começa a Grande Semana – a da esperança invencível – e dedicada, pela liturgia católica, a evocar a condenação à morte, por crucifixão, de Jesus de Nazaré. Pelo que consta, isto aconteceu devido a interesses político-religiosos, provavelmente, no dia 7 de Abril do ano 30, véspera do grande dia da Páscoa judaica.
Cristo não morre mais. Esta semana será santa se as vítimas da dominação económica, política, religiosa e de qualquer discriminação forem o nosso cuidado afectivo, orante, político. “Ao tocar nas feridas do mundo, tocamos em Deus” (T. Halík).
CANTADORES DO TERÇO EM MAÇÃO
Por estes dias a Semana Santa toma conta dos nossos dias em Mação.
Tradições que se perdem no tempo e que um grupo de dedicados maçanicos persiste em não deixar morrer.
No passado Sábado, já a madrugada ia alta e fria, ei-los, percorrendo as ruas da Vila entoando com as suas arrastadas vozes o Terço de Ramos....
Virão, nos próximos dias, o Terço da Paixão e muito mais rituais que a seu tempo reportaremos.
Parabéns pela persistência.
Pe Anselmo Borges
In DN
E SE DEUS FOSSE MÃE?
1- Os crentes sabem que Deus não é masculino nem feminino, pois está para lá da determinação sexual. No entanto, é preciso tentar representá-lo, figurá-lo, dizê-lo, pois aquilo de que nada se pode pensar nem dizer não existe para nós. O que será sempre necessário é ver nessas imagens apenas isso: imagens, que não podem ser reificadas, já que apenas apontam para o Mistério último, para o Sagrado, do qual se espera sentido, sentido último e salvação, sempre indizível, sempre para lá de tudo quanto se possa pensar e dizer.
Essas representações são sempre condicionadas pelo espaço e pelo tempo, pela cultura, pela sociedade, pela história, ao mesmo tempo que condicionam elas próprias a história, a cultura, a sociedade, a visão do mundo. Para dar um exemplo: se, no quadro da cultura ambiente cristã, em vez de se rezar o pai-nosso se rezasse a "Mãe Nossa": "Mãe Nossa, que estais no Céu, santificado seja o vosso Nome...", que influência teria essa formulação da oração característica dos cristãos na sua visão do mundo humano e do próprio cosmos, na sua vivência das relações entre homens e mulheres, na economia, na educação, no exercício do poder?
2- Precisamente sobre esta problemática e a partir do meu último livro - Deus ainda Tem Futuro? - organizei, recentemente, em Lisboa, um debate subordinado ao título em epígrafe - E se Deus fosse Mãe? - com a presença da escritora Lídia Jorge e da deputada Maria de Belém - Guilherme d"Oliveira Martins presidiu.
Tanto Lídia Jorge como Maria de Belém estiveram de acordo. É preciso descobrir os lados maternos de Deus, descobrir Deus como ser fusional do masculino e do feminino: são dois géneros nos quais, mais do que "diferenças", há "percentagens" de sensibilidades. Infelizmente, não há palavra para dizer Deus como masculino e feminino ao mesmo tempo - Ele também não é neutro, pois não é uma coisa, um isso -, a gramática é imperfeita. Sim, Deus é ultragénero, mas precisa de uma representação ao mesmo tempo masculina e feminina. Na figuração humana de Deus, precisamos das duas vertentes, masculina e feminina, que se completam e acrescentam, pois o todo é mais do que a soma das partes. Esse é o Deus da Bíblia, onde aparecem traços femininos, como a Sabedoria de Deus, que é feminina. A teóloga feminista, Isabel Gómez-Acebo, chamou a atenção para estes traços: um grande útero, no qual, na imagem da romã com muitos grãos, estávamos já todos desde sempre; um grande ventre aconchegador; Deus como imanência, que partilha a nossa dor, alimenta como a mãe no aleitamento e nos acolhe na morte. Que Deus seja então o grande Pai e a grande Mãe! Deus é um Deus amoroso, Pai e Mãe, que, mesmo que não responda, ouve.
3- Significativamente, a primeira grande representação do Mistério, do Sagrado, foi no feminino: o culto da Grande Deusa ou da Deusa-Mãe, ligada à fecundidade e à fertilidade, que dá a vida - tive o privilégio de contemplar, há anos, em Viena, a famosa Vénus de Willendorf (24 000 a. C.).
Como se passou para o patriarcalismo religioso, que faz que na quase totalidade das religiões a mulher seja de facto oprimida? Tudo se transforma com a sedentarização. Como escreve Frédéric Lenoir, "a evolução da religião segue a das sociedades que se tornam um pouco por toda a parte patriarcais entre o terceiro e o segundo milénio antes da nossa era, quando os povoados crescem e se tornam grandes cidades, reinos e impérios. A partir do momento em que as sociedades se tornam patriarcais, onde o homem domina, onde os sacerdotes são maioritariamente homens, também o Céu se vai masculinizar."
Não há dúvida de que Jesus contribuiu decisivamente para a emancipação feminina. Também São Paulo reconheceu a radical dignidade de homens e mulheres e refere nomes de apóstolas - na Carta aos Romanos, por exemplo, escreve: "Saudai Andrónico e Júnia que tão notáveis são entre os apóstolos." No entanto, a Igreja Católica é hoje a última grande instituição machista no Ocidente. Sem uma rápida conversão, ela, que, sucessivamente, desde o século XVIII, foi perdendo os intelectuais, os operários e os cientistas, os jovens, acabará por perder as mulheres.
4- Como Frédéric Lenoir também estou convencido de que muitos dos "disfuncionamentos" das nossas sociedades estão ligados ao "desequilíbrio" entre o feminino e o masculino na humanidade. Também na Igreja.
Mas, aqui, há quem pergunte: as mulheres no poder não acabam por mimetizar os homens? Pense-se em Thatcher e Merkel. Como lidam as mulheres com o poder? É este que as masculiniza ou a questão é o próprio poder? Lídia Jorge e Maria de Belém responderiam: há maneiras de exercer o poder no feminino, o que se passa é que, uma vez que o não podiam exercer, foram obrigadas a arranjar defesas, precisaram de afirmar-se historicamente.
Meu caro Vasco Ribeiro, aqui vai "em directo" - fechou-se agora mesmo - este deslumbramento de um SOL MAIOR em...frequência eternamente modulada!!!!
Obrigado!!!
Partilha aí com os amigos Ana Isabel Reis,Pedro Portela e Fábio Ribeiro!!!!
(No facebook, Vasco dá conta de estar a participar no lançaemto de um livro onde, com muito gost participo,
"'Das Piratas à internet: 25 anos de rádios locais".)
A ouvir o último trabalho "Tracker" de Mark Knopfler enquanto o sol se aconchega para um novo dia....
Foto.A saudosa Rádio O Ribatejo, Santarém, Beco dos Tanoeiros,1988...
VÉSPERAS
Já não cheguei a tempo mas, hoje, seguramente, tudo para muito melhor para cima deste deslumbramento que trago guardado no coração.
Montijo, Frente Ribeirinha.
A mentalidade tridentinista que o marcava e o pânico diante do chamado "modernismo" fizeram com que muitas pessoas e algumas faculdades de teologia fossem severamente vigiadas, castigadas e silenciadas.
Em geral, tentavam responder ao primordial apelo de S. Pedro: capacitar-se para dar razão da esperança cristã (1Pd.15) na actualidade, segundo as solicitações dos "sinais dos tempos". Partiam de uma convicção teológica óbvia: aquilo que não fosse capaz de exprimir a fé, nos vários contextos do presente, era uma traição ao Novo Testamento e à verdadeira Tradição, que passou a ser cada vez mais investigada, para não ser abafada pelas florestas de tradições em expansão.
A cultura, para se manter viva, tem de assumir a tradição nas expressões mais significativas dos panoramas culturais em mudança. Foram as pessoas e as instituições mais castigadas que abraçaram, com mais entusiasmo, o espírito do aggiornamento de João XXIII. Essas tendências conseguiram, marcar o Vaticano II. A revista internacional, Concilium, continuou até hoje esse caminho, sem qualquer exclusivismo.
Diz-se que as turbulências pós-conciliares resultaram, em parte, do rápido desabrochar das teologias políticas e contextuais: europeias, latino-americanas da libertação, asiáticas, africanas, feministas, hermenêuticas, da inculturação do diálogo inter-religioso, etc. É verdade. Mas o que será uma teologia sem contexto espiritual, eclesial, religioso e cultural, isto é, sem mundo, quimicamente pura?
O cristianismo tornou-se rapidamente multiétnico, mais católico. A verdade cristã realiza-se na inculturação e adultera-se no colonialismo religioso. A lei do diálogo é simples: quem dá, recebe e quem recebe, dá. Em suma: o catolicismo é colorido e as suas teologias também.
TEÓLOGOS A CHEIRAR A POVO E A RUA
Frei Bento Domingues
In Público
No discurso que o Papa Francisco fez aos membros da Comissão Teológica Internacional (05.12.2014), ao saudar a presença de algumas mulheres, destacou a sua contribuição específica para a interpretação da fé e o seu génio para aprofundar certos aspectos inexplorados do mistério insondável de Cristo.
Por ocasião do centenário da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Argentina (UCA) (03.03.2015), Bergoglio enviou ao seu Chanceler uma carta que não pode ser ignorada. Vou destacar alguns pontos.
Varre décadas de medos que levou a teologia a esgotar-se em disputas académicas e a olhar para a humanidade a partir de um castelo de vidro. Neste tempo, a teologia também deve enfrentar os conflitos: não só os que experimentamos na Igreja, mas também os relativos ao mundo inteiro e que são vividos pelas ruas da América Latina.
Não vos contenteis, diz o Papa, com uma teologia de gabinete. Sejam as fronteiras o vosso lugar de reflexão. Não cedais à tentação de as ornamentar, perfumar, consertar nem domesticar. Até os bons teólogos, assim como os bons pastores, cheiram a povo e a rua. Com a sua reflexão derramam azeite e vinho sobre as feridas humanas. Que a teologia seja a expressão de uma Igreja-hospital de campanha.
Pe Anselmo Borges, in DN 21.Março
PERIFERIAS ELEIÇÕES E PORTUGAL
Deus ama o mundo: este é o núcleo da mensagem do Evangelho, o que significa que, ao contrário do que tem feito frequentemente, a condenação do mundo, concretamente, do mundo moderno, não pode constituir programa para a Igreja. Esta é a mensagem do Papa Francisco, que conquistou o coração das pessoas precisamente pelo amor. No meio deste nosso mundo perigoso e sem esperança, ele "constitui a única e a grande reserva moral global", escreveu o eurodeputado Paulo Rangel. Francisco é um pároco que entregou a vida aos que lhe foram confiados, que são todos. Um pároco universal. Nessa qualidade, acaba de dar uma entrevista, não a profissionais, mas a La Cárcova News, revista de um bairro pobre argentino. Deixo aí pontos essenciais.
Tem medo de fanáticos que o querem matar? "A vida está nas mãos de Deus." "Peço-lhe um único favor: que não me doa. Porque sou muito cobarde em relação à dor física."
Em que pensa, quando fala de periferias? Movemo-nos à vontade em espaços que controlamos. "Esse é o centro. À medida que vamos saindo do centro, vamos descobrindo mais coisas. E, quando olhamos para o centro a partir das novas coisas que descobrimos, das novas posições, da periferia, vemos que a realidade é diferente. Uma coisa é ver a realidade a partir do centro e outra é vê-la a partir do último lugar aonde chegaste." Magalhães viu a Europa de modo diferente a partir das Américas. "A realidade vê-se melhor a partir da periferia do que a partir do centro." Também a realidade da pessoa e do pensamento. Quando confrontamos o que pensamos com quem pensa diferente, enriquecemo--nos. Por isso, ele escuta as pessoas, também as que não concordam com ele. "Sempre te vão dar algo ou pôr-te numa situação na qual tens de repensar as coisas."
O mais importante a dar aos filhos? "A pertença a um lar. A pertença dá-se com amor, com carinho, com tempo, levando-os pela mão, escutando-os, jogando com eles. Sobretudo dando--lhes lugar para que se exprimam. Se não brincas com os teus filhos, estás a privá-los da dimensão de gratuidade. Se lhes não dás lugar para dizerem o que sentem e até para discutirem contigo, porque se sentem livres, não os estás a deixar crescer." "Mas o mais importante é a fé", que não é "um sentimento", mas um combate numa relação viva com Jesus Cristo.
Sobre a droga: "O que mais me preocupa é o triunfalismo dos traficantes."
E os jovens e as relações virtuais? "Evidentemente, o desejável é a relação não virtual, isto é, a relação física, afectiva, a relação no tempo e em contacto com as pessoas. Vós podeis amar outra pessoa, mas, se não lhe apertais a mão, não lhe dais um abraço, isso não é amor."
E sobre as eleições na Argentina? "Primeiro, um programa eleitoral claro. Que cada um diga: nós, se formos governo, vamos fazer "isto". Bem concreto. O programa é fundamental, ajuda as pessoas a verem o que cada um pensa. Por vezes, os próprios candidatos não conhecem o programa eleitoral. Um candidato tem de apresentar--se à sociedade com um programa eleitoral claro, bem estudado, dizendo explicitamente: "Se for eleito, vou fazer "isto", porque penso que "isto" é o melhor que há para fazer." Segundo: impõe-se "honestidade na apresentação da própria posição". Terceiro: há uma coisa que "temos de conseguir, oxalá a possamos conseguir: uma campanha eleitoral de tipo gratuito, não financiada. Porque nos financiamentos das campanhas eleitorais entram muitos interesses que depois "te passam a factura". Ora, é preciso ser independente de quem me possa financiar uma campanha eleitoral." Claro que isso é um ideal, pois há necessidade de dinheiro para cartazes, para isto e aquilo. "Mas então que o financiamento seja público. Desse modo, eu, cidadão, sei que financio este candidato com esta determinada quantia de dinheiro. Que tudo seja transparente e limpo."
De facto, embora com inegáveis sinais positivos, o país não tem razões para euforias. Como e quando se paga a dívida externa e interna? Quando se pensa no tsunami demográfico à vista, com a inversão da pirâmide das idades, pergunta-se: quem pagará as reformas, a Segurança Social, a educação, a saúde? Que políticas para minorar as assimetrias sociais, criar emprego? Como foi possível ir tão longe na corrupção? A população não tem confiança na justiça nem nos políticos, que, em vez de apresentarem políticas viáveis e coerentes para o futuro, continuam entretidos em casos e em interesses partidários (oxalá sem cumplicidades com grandes interesses económico-financeiros). Sem ética, não vamos lá.
E a Igreja? Paulo Rangel, depois de ter apresentado Francisco, que "tem sabido ser um profeta do exemplo", escreveu que "à Igreja portuguesa falta o sentido profético e a nós mingua-nos o exemplo".
JE SUIS TIMISOARA
A pouca frequência com que tenho subido a este terreiro nas últimas horas está aqui.
Troco por miúdos.
Colaboro com muito gosto com a AFPDM/EPM, ou seja, a Associação para a Formação Profissional e Desenvolvimento do Montijo proprietária da Escola Profissional do Montijo, a qual, para além da credibilizada oferta formativa, recebe e orienta jovens oriundos da Europa Central ao abrigo do Programa Erasmus....
No final da sua passagem por Portugal, e articulando o estágio profissional propriamente dito, nas mais diversas áreas (Turismo, Contabilidade, Electricidade, Informática, Agricultura, Enfermagem, etc) com as visitas culturais aos locais mais importantes da nossa história, é feito um jantar de despedida, tradicionalmente chamado de NOITE INTERCULTURAL, no qual, para além da entrega de diplomas é apresentado um pequeno filme que testemunha a sua estada entre nós.
Gostava de partilhar o pequeno filme que se segue, e no qual trabalhei horas a fio, e que, creio, revela alguns progressos estéticos, sendo certo que nesta matéria ainda muito tenho a aprender.
Para os meus jovens amigos de Timisoara, da área de Contabilidade e Turismo, aqui fica um abraço de muita saudade pelas tantas cumplicidades estabelecidas.
Até sempre.
Até, quem sabe, um dia....Timisoara!!!!
VÉSPERAS
Não queria que te sentisses só no derradeiro adeus a mais um dia.
Tudo porque, graças a Ti, também nunca me sinto só mesmo que pareça estar aqui sózinho.
Obrigado.
OS PASSOS DOS PASSOS EM MAÇÃO
Por estas horas, em Mação, o momento mais aguardado: na Praça, o ENCONTRO.
Há cinco anos foi assim.
Com muita pena minha, os meus passos fazem com que permaneça neste meu chão montijense.
UM RELIGIÃO QUE CONDENA ESTÁ CONDENADA
Público 15/03/2015
Em pouco tempo, Bergoglio tornou-se o pragmático da reforma da Igreja Católica.
Encontrei algumas pessoas que, desde a adolescência, me mostraram que as dúvidas e o questionamento são intrínsecos ao processo da fé cristã. Ninguém tem a verdade, mas é possível viver no horizonte da sua busca, com o contributo de todos os que a procuram, em todas as áreas de conhecimento, seja qual for o universo cultural e religioso. Tudo na vida é uma criação de possibilidades, de acontecimentos imprevisíveis. Nunca me dei bem com crenças inamovíveis, com o determinismo.
Uma “religião” que se apresente como inimiga do questionamento, da investigação e da liberdade deve ser denunciada pelas pessoas e instituições religiosas, como ridícula blasfémia.
Já na pré-história há indícios de religiosidade, a começar pela ritualização da morte, o que implica a existência de uma concepção simbólica, isto é, de um mundo feito de visível, invisível e imprevisível. Apenas no ser humano, e em nenhum outro ser vivo, se observa semelhante comportamento e tão extrema resistência simbólica.
Alguns investigadores e hermeneutas criaram a categoria de sagrado para caracterizar a ancestral atitude perante o “mundo tremendo e fascinante”. É a religião – subjectiva e objectiva - que o ritualiza e codifica. No âmbito da cultura latina, o termo religião, segundo Cícero, vem de reler, examinar com a atenção, isto é, não ser leviano na observação da complexidade da natureza, do ser humano e da sociedade. Para o cristão Lactâncio, a sua etimologia é mais construída e mais evidente: significa religar, como se os seres humanos reconhecessem que precisam de se religar a uma transcendência e uns aos outros, numa comunidade. O mediólogo, Regis Debray, analisou cuidadosamente a função política da religião, mostrando que a sociedade precisa de reunir os indivíduos através de algo invisível – seja ele qual for - que os transcende.
A consciência desenganada da nossa evidente finitude levanta a questão fundamental acerca do sentido da vida, sem resposta única para todos.
O grande filósofo pragmático, John Dewey, desejaria que o futuro da religião estivesse ligado à hipótese de desenvolvimento de uma fé nas possibilidades da experiência humana e na capacidade humana para estabelecer relações que criem um sentido vital da solidariedade dos interesses humanos e inspirem acções capazes de transformar esse sentido em realidade.
Os movimentos de leigos e, sobretudo os mais elitistas, que se julgam a verdadeira Igreja, a do futuro, não escapam às interpelações de Bergoglio. Ao caminho “Neocatecumenal” fez-lhe observações muito concretas para as correcções de rumo e de métodos, inscrevendo-o nas igrejas locais, de forma inculturada, vencendo as suas tentativas monopolistas.
Foi, porém, no encontro de 7 de Março, com o movimento Comunhão e Libertação – que se julgava um modelo de fidelidade a Roma na luta contra todos os desvios do catolicismo pós-conciliar –, que o Papa aproveitou para marcar o primado na moral cristã e fazer a denúncia da substituição da centralidade de Cristo pelo meu método espiritual, o meu caminho espiritual e o meu modo de o implementar. É uma forma de sair do Caminho e ficar com o carisma petrificado numa garrafa de água destilada, de se tornar guias de museu e adoradores de cinzas.
A Igreja, para encontrar o seu centro em Cristo, tem de sair para todas as periferias do mundo contemporâneo.
Deus não enviou o Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele.
O discurso está na íntegra, em italiano, no site do Vaticano. Que bom seria encontrá-lo em português, sem acordo!
Pe Anselmo Borges
In DN
DOIS ANOS COM FRANCISCO PAPA
Fez ontem dois anos que, ao anoitecer, perante uma multidão expectante na Praça de São Pedro, em Roma, compareceu, humilde e simples, sem a pompa da indumentária papal, com uns sapatos negros já gastos e uma cruz peitoral barata, Jorge Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires, que os cardeais tinham escolhido como novo Papa. "Buona sera!" (boa noite), foi a saudação de um homem normal. Que o tinham ido buscar ao fim do mundo para bispo de Roma. E, antes de dar a bênção, ele próprio pediu a bênção ao povo e que rezassem por ele. Agora, chamava-se Francisco. Ainda quiseram começar a tratá-lo por Francisco I, à maneira das dinastias, mas ele que não, era simplesmente Francisco. Lembrando Francisco de Assis, a caminho de uma Igreja pobre e para os pobres, como Jesus queria e fez. Logo no dia seguinte, foi normalmente pagar o seu alojamento daqueles dias em Roma, e acabaram as limusines, e foram de autocarro, ele e os cardeais. E que não queria viver no Palácio Apostólico, precisava de conviver, ficou a habitar na Casa de Santa Marta.
E toda a gente percebeu que uma realidade nova na Igreja estava em marcha. E não enganou. Está aí como um cristão na sua pureza e exemplo vivo. Beija, abraça, está junto de quem mais precisa, gosta das pessoas e manifesta-lhes afeto e elas sentem isso como autêntico e gostam dele também, ri, chora, não tem vergonha da ternura, fala em termos acessíveis do essencial da vida para todos, telefona a este e àquela, a doentes e amigos, lava os pés a mulheres incluindo uma muçulmana, quer abrir a comunhão aos recasados, batiza filhos de mães solteiras e de uniões de facto, quem é ele para julgar os homossexuais, recebe transexuais, apela à paternidade e maternidade responsáveis, confessa-se pecador, que não é infalível, que tem dúvidas, condena veementemente o capitalismo desenfreado e a finança especulativa que matam, vai a Lampedusa chorar a morte no Mediterrâneo, instala no Vaticano balneários para os sem-abrigo e arranja-lhes uma barbearia, viaja para o Rio, para a Jordânia, Israel, a Palestina, a Coreia do Sul, a Albânia, o Parlamento Europeu, a Turquia, o Sri Lanka, as Filipinas, e o que o move é o diálogo, a paz e uma humanidade feliz, pede a opinião dos católicos do mundo inteiro sobre a família e os seus problemas, porque o Sínodo tem de ser participado por todos, contra a globalização da indiferença, a sua verdadeira obsessão são os pobres e excluídos, a Igreja não é uma alfândega, mas um hospital de campanha, as palavras perdão e misericórdia são as mais repetidas.
Francisco é hoje talvez a figura mais popular do mundo e uma das mais influentes. No meio deste nosso mundo ameaçado, perigoso e incerto, Francisco surge como despertador de esperança e confiança. Como escreveu o eurodeputado Paulo Rangel, "tem sido a única voz carismática e a única referência ética a nível global". "Interpela-nos pelo exemplo; toca-nos pelo sentido profético".
E as pessoas souberam, depois de tantas condenações, que a única missão da Igreja é anunciar o Evangelho, notícia boa e felicitante para todos. A única mensagem: Deus é amor, não condena, salva. Assim, a tarefa primeira de Francisco é tentar converter os católicos, começando pelos cardeais, bispos e padres, a esta "alegria do Evangelho". E facilitar a compreensão da fé, no diálogo com a razão. Graças ao novo espírito, a teologia tem respirado liberdade.
Mas, se isto é o núcleo essencial, a sua missão não se esgota aqui. Porque se impõem outras tarefas, que começou a implementar.
Ninguém duvida da situação desgraçada, intolerável, a que a Igreja tinha chegado. E impõe-se a tolerância zero para a pedofilia entre o clero. E impõe-se a transparência dos dinheiros no Vaticano, sem que possa haver sequer a suspeita de lavagem de capitais e evasão fiscal. E impõe-se uma reforma radical, consistente e duradoura, constitucional, da Cúria Romana, Governo central da Igreja. E Francisco tem sido claro por palavras e atos nestes domínios.
Por outro lado, quer se queira quer não, o papado é uma instituição de relevância mundial e Francisco tem sido modelar enquanto voz político-moral global. Aí está a denúncia do sistema económico iníquo imperante, que exclui. Aí estão os exemplos de mediação entre Israel e a Palestina, os Estados Unidos e Cuba, no conflito da Ucrânia. Há vias de abertura da e para a China. São aguardados com expectativa a encíclica sobre a ecologia e o discurso nas Nações Unidas e a reunião dos líderes das religiões mundiais, a favor da compreensão e da paz.
Essencial é a desclericalização, a democratização na Igreja, voltando à Igreja-Povo de Deus, e a presença das mulheres em igualdade de direitos com os homens.
Mas a questão decisiva mesmo é o próprio papado como instituição. De facto, como está, há sempre o perigo, escreve o teólogo José Arregi, de "tudo ficar à mercê do próximo Papa".
QUIOSQUE
Abrindo a "vermelhidão" do Expresso questiono-me sobre se os criativos da Vodafone quiseram jogar com a possível "Colisão do FMI com o Governo" e todas as outras notícias assim escarrapanchadas e embrulhadas nesta SUPOSTA primeira página dos meus amigos do Expresso.
O primeiro gesto, confesso é amarfanhar e jogar for mas....HELÁS, na contra páginas há matéria informativa!!!
Passa-se, então, ao VERDADEIRO Expresso e lá estão as MESMAS notícias mas sem o celofane vermelho da Vodafone!!!
2
Questiono-me (ajuda aí Manuel António Pereira) vale tudo?
Nada disto configura "publicidade enganosa"?!
A crise financeira dos media, nomeadamente, do Expresso (ignoro,confesso) justifica todas estas concessões?!
3
Ou..a anunciada "Fibra de Última Geração da Vodafone" que "está a mudar o país" também mudará estes princípios deontológicos que era bom não se perdessem?
Ordeno-te, Sol, que não voltes a deixar-te ultrapassar pelas adivinhadas nuvens com que a metereologia nos ameaça.
Lembra-te de como és belo e garboso, sentindo-nos, à tua volta, rendidos, deslumbrados, os corpos desnudados, correndo pelas praias e pelos descampados, à solta, maravilhados
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