PERTO DO PRINCÍPIO
Partiste, querido Pai Zé Jacinto, já lá vão mais de vinte anos, numa sexta feira, treze, de um Março assim.
Sim, digo que nunca morrerás e fico-me a olhar para ti, para os sinais que perpetuam a tua memória viva no mais íntimo de mim.
Quero cada vez mais, ser como tu, um cidadão do mundo, sem muito para ter, ambicionando tudo o que em mim, como em ti, possa SER.
Que nunca me falta a alegria que em ti bebi, a criatividade que contigo aprendi - aquela banda que criaste em Cardigos para animar as suas ruas naquela tarde de Carnaval a partir da recuperação das latas de farinha, das cabaças, das sacas das batatas com que artilhaste a miudagem do Arrabalde e não só, e onde só eu não pude participar porque estava longe...é um case study da animação cultural de antanho - o orgulho de ser teu filho, assim, a tentar dar o melhor de mim convivendo, agora, sem infundados temores, numa palavra, como tu, rendido a todos os louvores da Mãe Natureza que tu trataste como ninguém!
Pai, um beijo à tua Maria, ossa Mãe.
Numa sexta treze, a vossa celestial sorte, hein?!
MATINAS
A Beleza do meu antúrio - já foram cinco - o único que resta, neste momento, para celebrar este Sol esplendoroso que não pára de entrar na sala para me alegrar e, vaidoso de tanto contentamento, querer convosco partilhar este primaveril deslumbramento.
Obrigado.
NOTA
Sinto em mim uma revolta que me leva a quase esquecer que a ânimo/blog existe!
As novas ferramentas de edição do Sapo são HORRENDAS, MONSTRUOSAS!!!
Partem textos, saltam imagens.
UM HORROR.
Peço as minhas desculpas mas não tenho tempo para acertar com os caprichos do Sapo.
Estudo a hipótese de mudar de servidor.
Se alguém tiver sugestões....
Obrigado.
antónio colaço
A MISSA COMO ANTIDEPRESSIVO
Público
8Mar
Desde há dois mil anos que os cristãos confessam que o Domingo é a festa de Deus, nossa festa
Apesar de tudo isso e de muito mais, mantenho o título, porque julgo que a celebração cristã do Domingo – se a comunidade celebrante encarnar e encenar hoje a significação da sua origem e da sua verdade – torna-se um divino antidepressivo semanal, um dispositivo contra o medo neste mundo carregado de ameaças e seguranças, um belo processo de refazer a vida e enfrentar os desafios de uma nova semana.
Não digo isto apenas porque os textos do domingo passado - o de S. Paulo, “se Deus está por nós, quem será contra nós” (Rm 8,31-34) e o de S. Marcos, sobre a transfiguração, quando Jesus se começa a sentir cercado (Mc 9, 2-10) - são evidentes e poderosas fontes de energia espiritual.
Não alinho, no entanto, com liturgias destinadas a provocar estados de descontrole emocional, lavagens ao cérebro, simulações de curas milagrosas ou qualquer outra tática para atrair clientes. Não me parece que seja esse o bom caminho para acabar com as missas consideradas uma seca, um aborrecimento ou um sacrifício inútil.
Como Nietzsche observou, a questão de fundo é de ordem antropológica: O cristianismo deu de beber veneno ao Eros, mas este não morreu, degenerou em vício. Sem tentar saber o que é o ser humano, na sua complexidade e unidade, interna e relacional, no seu devir no arquipélago das culturas, não poderemos encontrar a linguagem simbólica que diga em cada tempo e em cada povo, o mistério da Páscoa de Cristo, páscoa do mundo, nossa páscoa.
A ascese culpabilizante esquece, como dizia Tomás de Aquino, que recrear-se no prazer é uma virtude. Um cristão que não seja capaz de se divertir com os outros e ser divertido, não é um virtuoso, é um chato. Sem humor nem o amor tem graça.
Deveria ser possível praticar as realidades mais sérias da fé com a inteligência do humor, protecção contra o puritanismo. Quem toma tudo a sério e sobretudo quem se toma muito a sério, pensa que a inteligência se deveria calar onde começa a piedade. Contaram-me que um miúdo que acompanhava a avó à Missa, depois de comungar, ela vinha tão constrangida, com um rosto de tanto sofrimento que o neto lhe perguntava: “ó Avó, isso dói muito?”
O Papa fala muito contra o clericalismo. Os padres são poucos e não deixam ordenar as mulheres. Não havendo boas soluções à vista, os clérigos têm tendência a remediar-se chamando colaboradores e colaboradoras que os reproduzam, esquecendo que os ministérios, sejam eles quais forem, não são para substituir, mas para dinamizar toda a comunidade. A celebração é dela.
A condenação de Jesus de Nazaré à morte – por crucifixão – e o silêncio de Deus deixaram os Apóstolos perdidos e sem reacção, salvo as mulheres. As narrativas do NT são muito claras a esse respeito. A belíssima peça literária - Os Discípulos de Emaús - uma espantosa catequese das componentes estruturais do itinerário cristão, mostra que é à volta da mesa, no partir do pão, na Eucaristia, que se revela, sem se ver, a força antidepressiva da presença do Ressuscitado.
SOBRE O SEXO E GÉNERO (2)
Pe Anselmo Borges
In 7 Mar
Como escrevi aqui no sábado passado, o historiador Yuval Harari, na obra De Animais a Deuses, escrevendo sobre as injustiças da História, que estabelece arbitrariamente hierarquias imaginadas, refere-se a uma que "tem sido de suprema importância: a hierarquia de género". Em quase toda a parte, os homens sobrepuseram-se hierarquicamente às mulheres, que ficaram numa situação de subordinação e humilhação. Porquê? Seja como for, "durante o último século, os papéis dos géneros passaram por uma tremenda revolução".
Nesta transformação, tiveram, entre outros, papel determinante dois factores: por um lado, por causa das guerras, o acesso das mulheres ao trabalho dos homens que partiam para combater e a consequente autonomia económica e, depois, o acesso ao ensino, e, por outro lado, a revolução operada pela chamada "pílula", que deu a possibilidade mais fácil de separar actividade sexual e procriação.
Assim, lentamente, percebeu-se melhor que afinal o sexo biológico não é um determinismo. Na identidade da pessoa enquanto homem e mulher não conta apenas a biologia, pois é igualmente essencial a cultura, as normas sociais, a história, a educação. Radicam aqui os chamados gender studies e a reflexão sobre sexo e género.
O que é o género? Entre nós, estes estudos não estão muito divulgados. Mesmo em França, "quando os bispos começama interessar-se por esta questão em 2007, ninguém sabia o que é. Mesmo no seio das universidades, estes estudos eram na altura muito marginais", explica Céline Béraud, socióloga na universidade de Caen. De qualquer modo, o debate acendeu-se e tem havido posições extremadas sobre o tema, a ponto de o ministro da Educação francês, Vincent Peillon, ter afirmado que a educação nacional "recusa totalmente a teoria de género". Esta afirmação vem no contexto de grupos de pais e associações católicos que ameaçavam com boicote às aulas por causa de uma certa concepção que, no seu entender, eliminaria a dimensão biológica para a identidade: "Ou aceitamos a teoria de género (vão ensinar aos nossos filhos que não nascem meninas ou meninos, mas que escolhem sê-lo, isto é, tornarem-se meninas ou meninos... ou defendemos o futuro dos nossos filhos."
Julgo que, neste contexto, é Nathalie Sarthou-Lajus, chefe adjunta de redacção da revista jesuíta Études, que tem razão, ao defender uma posição que se quer equilibrada. No seu editorial de 26 de Setembro de 2013, intitulado "Não diabolizemos as teorias do género", considera que "as correntes mais radicais dos gender studies merecem uma análise crítica quando vão ao ponto de negar a parte biológica da identidade sexual, a sua ancoragem numa anatomia corporal, ou de recusar toda a diferença entre um homem e uma mulher tal como se exprime num corpo"; mas também escreve que seria "prejudicial no ensino dos saberes diabolizar estas teorias do género"; "de facto, elas criticam de modo útil uma forma de essencialismo que se refere à natureza para explicar diferenças entre o homem e a mulher, e justificar a maior parte das vezes uma dominação masculina, encerrando as mulheres nos papéis de passividade, de solicitude em relação aos outros ou num destino reprodutivo". Ora, as identidades sexuais e as relações homens/mulheres "são o fruto de representações culturais que evoluem lentamente no tempo, segundo as sociedades, e não sabemos o que acontecerá no futuro. Estas evoluções não são necessariamente lineares, pois as rupturas com as estruturas do passado nunca são tão radicais quanto se poderia pensar". Nesta perspectiva, "este trabalho de reflexão sobre as representações culturais das identidades sexuais e das relações homens/mulheres é necessário, também no próprio seio das nossas Igrejas, não só para lutar contra as discriminações educativas, sociais e profissionais que se exercem ainda contra as mulheres mas também para a abertura à criatividade das recomposições identitárias em curso".
Por isso, não se entende a luta da Igreja oficial contra o feminismo e o que chamam a ideologia de género. Não têm faltado na Igreja vozes a levantar-se por causa do "empoderamento" das mulheres, acusando o feminismo de procura do poder. Mas é Isabel Gómez-Acebo que tem razão, quando escreve que as raízes do poder se combatem justamente com o poder: "O exemplo das democracias nórdicas demonstra que dá bom resultado, pois, na medida em que as mulheres alcançaram os postos de responsabilidade na política, fomentaram as férias por maternidade, os jardins-de-infância, a conciliação laboral..., com a consequência de um aumento da taxa de natalidade nesses países."
Também penso que "as mulheres devem preservar a sua diferença, porque ela é enriquecedora", como diz Maria Antónia Palla. Mas a potenciação do acesso das mulheres ao poder e aos lugares de decisão, também na Igreja, não poderia, por isso mesmo, facilitar e enriquecer a vida da própria Igreja?
OUTRAS ANIMAÇÕES . ESPECIAL
ESTÁ NO AR O LIVRO "DAS PIRATAS À INTERNET:25 ANOS DE RÁDIOS LOCAIS"
É com muito gosto que damos conta de que o livro "Das Piratas à Internet: 25 anos de Rádios Locais", editado por Ana Isabel Reis, Fábio Ribeiro e Pedro Portela, será apresentado publicamente na próxima terça-feira, dia 3 de março de 2015, às 17h, na Sala de Atos do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, em Braga.
...Às 17.30 estarei na aldeia de Atalaia, Montijo, com os meus pequenos alunos a construir um quadrinho "NAVEGAR É PRECISO":
Outras ondas, sim, a mesma vontade de sempre:
COMUNICAR!!!
A ARTE por companheira.
Muito gostaria de subir a Braga.
Por todos os canudos e mais um: a RÁDIO ESTÁ VIVA!!!
A Rádio SOMOS NÓS!!!!
Boa festa, rapazes!!!
Um despretensioso ensaio. Nada mais.
Frei Bento Domingues
In Publico
MUDAR RADICALMENTE A RELIGIÃO 2
Não parece que Bergoglio ande muito assustado
1. Ao fazer das periferias o centro da Igreja Católica, Bergoglio tenta mudar, a partir da diocese de Roma, os sinais de trânsito de todas as dioceses do mundo, das paróquias, dos movimentos, das Conferências episcopais e da vida consagrada. O centro das igrejas locais terá de se deslocar para as periferias geográficas, sociais e culturais.
O processo vai levar o seu tempo, pois não falta quem espere que o Papa acabe por se cansar, sobretudo se os padres, os bispos e os cardeais fizerem de conta que não estão para aí virados.
O antigo aforismo imperial - “todos os caminhos vão dar a Roma” – poderia ser substituído por outro: todos os caminhos das igrejas vão dar às periferias, aos “bairros problemáticos”, às cadeias, aos hospitais, às pessoas que vivem sós, ignoradas dos familiares e dos vizinhos. Seria apenas uma questão de tomar a sério um dos textos escolhidos para o começo desta Quaresma (Mt 25, 31-46).
No passado dia 15, no final da homilia da Missa com os “novos purpurados”, o bispo de Roma enunciou, de modo sintético e incisivo, essa reorientação pastoral:
“Amados irmãos novos Cardeais, com os olhos fixos em Jesus e na nossa Mãe, exorto-vos a servir a Igreja de tal maneira que os cristãos – edificados pelo nosso testemunho – não se sintam tentados a estar com Jesus, sem quererem estar com os marginalizados, isolando-se numa casta que nada tem de autenticamente eclesial. Exorto-vos a servir Jesus crucificado em toda a pessoa marginalizada, seja pelo motivo que for; a ver o Senhor em cada pessoa excluída que tem fome, que tem sede, que não tem com que se cobrir; a ver o Senhor que está presente também naqueles que perderam a fé, que se afastaram da prática da sua fé ou que se declaram ateus; o Senhor, que está na cadeia, que está doente, que não tem trabalho, que é perseguido; o Senhor que está no leproso, no corpo ou na alma, que é discriminado. Não descobrimos o Senhor, se não acolhermos de maneira autêntica o marginalizado. Recordemos sempre a imagem de São Francisco, que não teve medo de abraçar o leproso e acolher aqueles que sofrem qualquer género de marginalização. Verdadeiramente, amados irmãos, é no evangelho dos marginalizados que se joga, descobre e revela a nossa credibilidade!”
2. Entre os vários textos, intervenções e homilias deste Papa, esta é particularmente sugestiva. Recomendo vivamente a sua leitura, bem meditada e partilhada. É uma ponte entre a prática de Jesus e o que hoje é pedido aos cristãos. Ele não se resigna a fazer da Igreja uma tertúlia, um clube para bem-pensantes, um círculo bíblico, uma ONG ou um centro de apuramentos teológicos, canónicos e litúrgicos. Se as hermenêuticas bíblicas são infindáveis, ele não está à espera de as percorrer a todas para, finalmente, dizer qual é a boa e verdadeira. O que o preocupa é uma Igreja entretida com ela mesma e as suas sacristias, as discussões sem fim para nada. Uma Igreja auto-referente perde-se de Cristo e do mundo e só pode gerar marginalizados da boa doutrina e da moral consagrada, em vez de integrar os que o farisaísmo afastou. Dizia-se de Jesus que Ele não era como os fariseus e os doutores da lei: falava com autoridade, era autor de um novo caminho. Era vinho novo que não cabia em odres velhos. Não vinha remendar o que já não tinha conserto. É precisamente isto que Bergoglio está a partilhar, não a partir de uma cátedra, mas de uma experiência iluminada pelo encontro do Evangelho com as muitas periferias que foi encontrando ao longo dos anos.
Não se pode esquecer que esta homilia está tecida a partir do atrevimento revolucionário de um leproso e de Jesus – em campo aberto - violando ambos a Lei da marginalização de Moisés, preocupada, como é normal, em “salvar os sãos” e “proteger os justos”.
3. O Papa Bergoglio não está preocupado em resolver os problemas que Jesus enfrentou há dois mil anos. Isso já está feito. Mas ao seguir a mesma lógica, a prática deste Papa está a encontrar um grande entusiasmo, mas também grandes resistências nos interesses instalados. Recorro às suas palavras: Jesus, novo Moisés, quis curar o leproso, quis tocá-lo, quis reintegrá-lo na comunidade, sem se autolimitar nos preconceitos; sem se adequar à mentalidade dominante do povo; sem se preocupar de modo algum com o contágio. Jesus responde à súplica do leproso sem demora e sem os habituais adiamentos para estudar a situação e todas as eventuais consequências. Para Jesus, o que importa acima de tudo é alcançar e salvar os afastados, curar as feridas dos doentes, reintegrar todos na família de Deus. E isto deixou alguém escandalizado!
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