As minhas últimas horas ao serviço da Escola Profissional do Montijo numa gratificante colaboração que me tem feito descobrir os caminhos da montagem e realização audiovisual como forma de registar a pioneira prestação por parte de muitos alunos e professores romenos e também polacos beneficiários do programa Erasmus+.
No final do programa ocorre a chamada NOITE INTERCULTURAL, um jantar de convivio onde tem lugar a entrega dos respectivos diplomas.Nessa ocasião os alunos revêem os "dias andados" quer nas empresas onde estagiaram, quer nas visitas a alguns dos lugares mais destacados do nosso património nacional.
Desta vez, a noite montijense teve o Fado como factor de animação.
antónio colaço
NR
Reedito o que deixei escrito há algum tempo atrás.
Porque sim.
Porque António Nóvoa merece todo o apoio de que a gente de bem deste país é capaz!
antónio colaço
Até que enfim, rompendo os Gólgotas da desgraça em que temos vivido, que nos surge, promissora, uma notícia carregada de Páscoa por dentro e com sabor a VERDADEIRA RESSUREIÇÃO!!!
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Não é de agora o nosso entusiasmo, a nossa TOTAL ADESÃO, ao projecto político que a sua candidatura pode proporcionar no sentido de nos arrancar, de vez, do desânimo que parece ter tomado conta de toda a esquerda!
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Não quero perder tempo com a política ziguezagueante que vem seguindo o actual secretário-geral do PS, antes, desejo do coração - salvaguardando os estragos que as próximas notícias relacionadas com a investigação Marquês possam fazer no seio do próprio PS e que poderão obrigar a uma TOTAL reformulação de tudo o que até aqui se tem como adquirido em termos da própria organização da sua superestrutura - que a sua candidatura ajude, indirectamente, à verdadeira RESSURREIÇÃO que o próprio PS tanto carece!
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O argumento mais batido, desde logo por todos aqueles que adoram soluções prontas a servir, tipo Eng Guterres (sem desprimor para o próprio, claro) é o de que "é pouco conhecido" e, "não há tempo para se afirmar!!"
Ora aquilo de que todos estamos fartos é desta modorra de nos vermos sem uma voz que nos mobilize, sem uma vontade afirmada que nos empurre de vez para transformarmos todas inércias possíveis e necessárias por forma a ACREDITARMOS que VAMOS A TEMPO.
Claro que este projecto exige que cada um dê o melhor de si, saia da sua "zona de conforto" e, sobretudo, acredite que este pode ser o PROJECTO DE CIDADANIA de que Portugal há muito precisa.
Desde logo, uma candidatura aberta à participação de TODAS AS PESSOAS independentemente de filiações partidárias, que não deve rejeitar, mas que deve absorver no seu seio em total e absoluto pé de igualdade.
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Creio que o meu querido amigo António Nóvoa a quem já expressei os meus votos de CONTENTAMENTO por sabê-lo, FINALMENTE, empenhado neste desafio, sem querer imiscuir-se na vida de cada partido que o apoie, DEVE ASSUMIR que A ÚNICA CONDIÇÃO para aceitar o apoio de qualquer partido é de que alguma coisa possa também vir a mudar na forma de funcionamento desse partido .
Ou seja, esta é uma candidatura que pode, numa espécie de dois em um, ajudar também a encarar a necessidade de um NOVA FORMA DE ESTAR NA POLÍTICA, para que possamos ter em Belém alguém que se preocupa e tudo fará, dentro das conhecidas limitações dos poderes presidenciais, para um PORTUGAL NOVO que não se limita a entrar no palácio uma vez por ano e para piquenicar, antes, a entrar no PALÁCIO SEMPRE QUE PORTUGAL PRECISE POR QUE MORA LÁ UM PRESIDENTE COM QUEM OS PORTUGUESES SABEM QUE PODEM CONTAR!!!
Meu caro António, em ABRIL NÓVOAS MIL!!!
Ânimo!!!
António colaço
NR
Nestes links a participação de António Nóvoa nos AAA-Animados Almoços:
http://animo.blogs.sapo.pt/955348.html
http://animo.blogs.sapo.pt/954304.html
A Europa não pode esquecer a sua parte de responsabilidade pelo que se passa no Médio Oriente
1. Lampedusa é um dos cemitérios onde são afogados os que procuram fugir da guerra, da violência, da fome e da própria morte. Foi por aí que o Papa Francisco começou as suas visitas pastorais e onde fez a homilia mais breve da sua vida: Que vergonha!
Quando se perde a vergonha, perde-se a decência e tornam-se vazios os apelos às convenções internacionais, à justiça, à misericórdia e a qualquer princípio. Dir-se-á que estou a simplificar questões complexas de ordem económica, social, cultural e política que envolvem as migrações. As máfias do tráfego humano dominam os seus percursos. É evidente que deixar afogar os pais e os filhos é muito mais simples.
A Europa não pode esquecer a sua parte de responsabilidade pelo que se passa no Médio Oriente. Os horrores da Palestina, do Iraque, da Síria, da Líbia, do Egipto, etc. obrigam as populações a pagar muito caro a morte no Mediterrâneo.
Antes, porém, de repartir responsabilidades, importa perceber que precisamos de crescer numa solidariedade que permita a todos os povos tornarem-se artífices do seu destino, como já dizia Paulo VI em 1967. Em 1971, lembrou que os mais favorecidos deviam renunciar a alguns dos seus direitos, para poderem colocar, com mais liberalidade, os seus bens ao serviço dos outros.
Para o Papa Francisco, em 2013, a solidariedade é uma reacção espontânea de quem reconhece a função social da propriedade e o destino universal dos bens, como realidades anteriores à propriedade privada. A posse privada dos bens justifica-se para cuidar deles e aumentá-los, de modo a servirem melhor o bem comum. Por isso, a solidariedade deve ser vivida como a decisão de devolver aos pobres o que lhes corresponde. Animados pelos seus Pastores, os cristãos são chamados, em todo o lugar e circunstância, a ouvir o clamor dos pobres.
Isto não basta, diz, Bergoglio: é preciso assegurar a educação, o acesso aos cuidados de saúde e, especialmente, ao trabalho. No trabalho livre, criativo, participativo e solidário, o ser humano exprime e engrandece a dignidade da sua vida[1].
2. O Papa anda a ser acusado de não ser um teólogo, mas, apenas, um pastor. É uma tentativa ridícula para dizer o quanto ele os incomoda. Neste Domingo, em que Jesus se chama a si próprio pastor — o bom Pastor — a acusação é o maior dos elogios. Vou, no entanto, deixar aqui, a base teológica das opções de Francisco.
“O pobre ocupa um lugar epistemológico central, isto é, o pobre constitui o lugar a partir do qual se procura pensar o conceito de Deus, de Cristo, da graça, da história, da missão das Igrejas, o sentido da economia, da política, o futuro das sociedades e do ser humano. Partindo da perspectiva do pobre, percebemos até que ponto são excludentes as actuais sociedades e em que medida as religiões e as Igrejas são arrastadas pelos interesses dos poderosos”[2].
Bergoglio pertence, sem dúvida, à “fecunda geração dos bispos latino-americanos que, a partir da década de sessenta do século passado, mudaram a face do cristianismo desse continente: antepuseram a ortopraxis à ortodoxia, a fidelidade ao povo à obediência ao Vaticano; optaram pela solidariedade com as maiorias populares empobrecidas face às alianças com os poderosos e fizeram seu o princípio-libertação frente ao princípio-resignação que, durante muito tempo, caracterizou o cristianismo da América Latina”[3].
Porque será que tantas pessoas, de tantos países — católicos ou não —, se reconhecem, se solidarizam e se sentem interpeladas pelas atitudes e mensagens deste Papa, como se ele fosse o seu guia espiritual?
Talvez por ele não querer mandar em ninguém e denunciar aqueles que querem tornar a Igreja uma instituição de poder, de dominação das consciências, em vez de uma fraternidade de serviço, seja de quem for, mas, sobretudo, daqueles que sobram na sociedade.
3. A grande dificuldade que Jesus encontrou na relação com os seus discípulos pode exprimir-se de forma muito simples: andavam dominados pela ânsia do poder que criava rivalidades entre eles. Jesus foi obrigado a ser muito claro: entre vós quem quiser ser o primeiro coloque-se ao serviço de todos. O próprio Jesus sentiu-se desesperado com a persistência desta atitude, até mesmo depois da ressurreição (Act 1 6-9). Prometeu o Espírito Santo, Espírito de conversão permanente da Igreja, para que viva ao serviço de todos na oração, na fraternidade, na partilha dos bens. Este é o regime da Igreja quando não se atraiçoa a si própria.
por ANSELMO BORGES
In DN
Haverá alguém que duvide de que vivemos num mundo, por um lado, exaltante, mas, por outro, sobretudo um mundo perigoso, ameaçador?
Numa conferência recente, o filósofo e teólogo Xabier Pikaza alertava para os perigos e as ameaças e enumerava as quatro bombas que pesam sobre a humanidade e o seu futuro.
Chamava a atenção, em primeiro lugar, para a possibilidade da guerra universal, com armamento nuclear: a bomba atómica. O Big Bang foi há 13 700 milhões de anos, e nós, Homo sapiens sapiens - acrescente-se sempre, e demens demens: homem sapiente sapiente e demente demente -, aparecemos recentemente, quando se considera todo o processo de 13 700 milhões: há uns 150 mil anos. Mas, se até aos meados do século passado, vivíamos ainda separados uns dos outros e, sobretudo, a capacidade de destruição era limitada, com a bomba atómica a humanidade pode destruir-se e acabar. O processo que permitiu o nosso aparecimento tem milhares de milhões de anos, mas agora temos a possibilidade de nos matar e destruir em poucos dias ou mesmo poucas horas. Podemos optar por uma morte global. Quem pode garantir, por exemplo, que grupos terroristas não venham a ter acesso ao armamento atómico?
No passada quarta-feira, deveríamos ter lembrado de modo especial a Terra. De facto, o dia 22 de Abril foi estabelecido pela Assembleia Geral da ONU como o Dia Internacional da Mãe Terra. A Terra é efectivamente nossa mãe. No processo da evolução da Terra e na Terra, aparecemos como fruto seu: somos natureza, embora natureza humana, significando isso que somos da Terra, servindo-nos dela, mas ao mesmo tempo sendo responsáveis por nós e por ela. Sabemos que está em perigo e, consequentemente, que nós estamos em perigo. Se não cuidarmos dela, ela expulsar-nos-á dela. Os perigos são iminentes: pense-se no aquecimento global, nos índices da poluição, na destruição da biodiversidade... O célebre biólogo Edward O. Wilson, autor do termo "biodiversidade", conhecendo bem as ameaças, escreveu: "A criação: salvemos a Terra". O conhecido geneticista Albert Jacquard acha que estamos a preparar "o suicídio colectivo". James Lovelock, autor da teoria de Gaia, isto é, da Terra como organismo vivo, alerta para o risco de nos finais deste século desaparecer grande parte da humanidade.
A produção de ciência e tecnologia é característica essencial da pessoa humana. Mas será que tudo o que é tecnicamente possível é moralmente bom? Há agora possibilidades até há pouco insuspeitadas de manipulação genética e, mediante cruzamentos de várias tecnologias que se aproveitam dos conhecimentos da genética e também das neurociências, da computação, da cibernética, de fabricar humanóides em série, uma espécie de híbridos humanos, "máquinas espirituais" com algum tipo de consciência. O que acontecerá então com essas novas entidades, controladas e ao serviço de poderes incontroláveis?
A quarta bomba não é a menos ameaçadora: "o cansaço vital". Até agora, apesar de todas as crises, continuámos, porque havia um estímulo, um prazer, a vida era sentida como um dom e uma aventura. Mas hoje muitos sentem que já não vale a pena existir, a vida é sentida mais como um risco, uma tragédia e um fardo do que como um dom e uma aventura que valem a pena. Por isso, negam-se a ter filhos, promovendo uma espécie de suicídio, pelo "cansaço de uma vida que parece sem fundamento nem futuro".
É na Europa que este cansaço parece mais sentido, sendo bem possível que a desafeição religiosa contribua para a vivência do vazio existencial e axiológico. Assim, o filósofo agnóstico Gilles Lipovetsky faz notar que a reactivação da crença hoje, com o reinvestimento em antigas e novas espiritualidades, se explica pela exigência de sentido englobante, de referências, de uma integração comunitária: "É o que o homem necessita para combater a angústia do caos, a incerteza e o vazio."
Neste sentido, quando a Europa parece envergonhar-se das suas raízes cristãs, foi para muitos uma saudável e bela surpresa a saudação de Páscoa do primeiro-ministro britânico, David Cameron, de que fica aí o essencial. "A Semana Santa é um tempo no qual os cristãos celebram, com a ressurreição de Jesus, o triunfo da Vida sobre a morte. Para todos os outros, é o momento de reflectirem sobre o papel que desempenha o cristianismo nas nossas vidas." O cristianismo é "uma forma de vida": quando há sofrimento, necessidades, a Igreja está presente. "Sei por experiência que, nos piores momentos da vida, a proximidade da Igreja é uma enorme consolação." Através de toda a Inglaterra, a Igreja pratica o amor; por isso, "deveríamos sentir orgulho em dizer: este é um país cristão". Acolhemos e abraçamos todas as religiões e quem não tem nenhuma, "mas somos um país cristão". Como tal, "temos o dever de erguer a voz e denunciar a perseguição dos cristãos no mundo". Devemos recordar e agir a favor de todos estes "cristãos valentes" que sofrem.
Mais palavras para quê!
Obrigado, Abril!!!!
Nos links que se seguem, apenas alguns ( é uma questão de percorrer todo o mês de Abril de 2014 para ter acesso à totalidade dos AAAninados Almoços) fica, em jeito de grata memória, o contributo da ânimo para a celebração dos 40 anos de Abril em colaboração com a Associação 25 de Abril.
Tudo porque desejamos poder assistir outra vez ao Abril do Abril português!
O Abril da Justiça, da Solidariedade e da Igualdade de oportunidades já se vê!!
Uma homenagem sentida ao nosso querido amigo Almirante Vítor Crespo que recentemente nos deixou!
Até sempre, camarada!
http://animo.blogs.sapo.pt/aqui-posto-de-comando-video-4-1090114
Dos diversos AAAnimados Almoços destacamos dois aspectos dos AAA dedicados quer ao papel da Rádio quer ao importantíssimo papel dos homens do Posto de Comando da Pontinha.
http://animo.blogs.sapo.pt/a-conversa-com-1083329
http://animo.blogs.sapo.pt/aqui-posto-de-comando-video7-a-1090839
MEMÓRIAS DE ABRIL
EXPOSTAS NO ATRIUM DA EPM
Mais do que uma qualquer rotineira exposição, os presentes trabalhos, agora pela primeira vez assim reunidos, atestam o Abril que se adivinhava em 1973.
No meu caso, como no de muitos dos jovens que tinham encontro marcado para Janeiro de 1974 com o enorme Casarão do Convento de Mafra, o horizonte só podia ser o do medo da ida para uma guerra injusta que durante anos roubou a vida a milhares de jovens.
Desse Abril de medos feito, os desenhos assinalados como tal e em que sobressai o esboço daquilo que pretendi ser a minha “GUERNICA” na militante imitação de Picasso, pintor que há época tanto me influenciou: -O drama de uma maternidade ameaçada pelas garras de um poder militar, então, ao serviço de um estado fascista.
Numa segunda dimensão, a felicidade de, como miliciano de Abril, ter podido registar o Abril da festa de um povo que ousou sair à rua para se juntar aos corajosos militares que assim viram confirmada a sua vontade de lhe devolver o poder durante 48 anos usurpado.
Numa altura em que o Abril daquele Abril redentor parece ter-se fechado num quotidiano de crescente desilusão e algum temor, possam estas despretensiosas “Memórias de Abril” ajudar-nos a acreditarmos no Abril da Justiça e da Solidariedade com renovado fervor.
antónio colaço
PS
Deu-se o caso de que, numa feliz coincidência, o Presidente da Câmara Municipal do Montijo, eng Nuno Canta, tendo-se deslocado ao Auditório da EPM para participar num encontro com a Protecção Civil, amavelmente, a nosso pedido, aceitou como que fazer uma inauguração desta pequena exposição juntamente com o professor João Martins, director da EPM.
A ambos, na qualidade de colaborador da EPM, o meu muito obrigado.
É verdade: pessoas, povos e testemunhos de civilizações estão ameaçados. Os cristãos que o digam!
1. Creio que a nossa ressurreição depois da morte é tarefa exclusiva do Deus dos vivos. Está bem entregue.
É a ressurreição dos mortos-vivos, dos sem rosto, dos mais pobres, dos mais desfavorecidos, dos não rentáveis, dos ejectados do círculo virtuoso do liberalismo económico, que constitui o desafio lançado a todas as pessoas de boa vontade. A peça de teatro de Jean-Pierre Sarrazac, O Fim das Possibilidades - uma Fábula Satânica –, encenada por Nuno Carinhas e apresentada nos TNSJ e TNDII [1], mede-se precisamente com o que há de mais arcaico e persistente no livro de Job, confrontado com as características da crise actual, aprofundando, em parábola, o seu conhecimento, a partir de muitos afluentes.
Temos de enfrentar a desesperança, mas sem recorrer à publicidade enganosa: “o futuro está de volta”. José Silva Lopes era considerado um dos maiores economistas do país, mas não confundia a esperança com ilusões. Recebeu o Expresso [2] para uma entrevista, dois meses antes de morrer. Temos, agora, acesso à sua opinião sobre algumas questões incontornáveis da nossa actualidade.
Segundo Silva Lopes, a austeridade está para durar e só por si não resolve nada. Os resultados da austeridade são zero ou mesmo negativos, como ficou demostrado na Grécia. Por outro lado, em Portugal, os donos das grandes empresas distribuem muitos dividendos ou tiram dinheiro às empresas para o colocar no estrangeiro. Constituíram grandes dívidas cá para não pôr o (dinheiro) deles na empresa, ou até para o tirar.
Com o subsídio ao abate de carros, arranjamos empregos para a Alemanha, em vez de os criar em Portugal. Há muitas palavras sobre exportações, mas não correspondem a investimentos novos a elas destinados e não travámos as importações. Atreveu-se a dizer que o governo sabe pouco de economia. Destaca, no entanto, que tivemos duas sortes enormes: a descida do preço do petróleo, que é um alívio extraordinário, assim como a baixa nas taxas de juro.
2. Uma das nossas situações mais calamitosas é a questão demográfica, mesmo tendo em conta os 22% de desempregados da população activa. No entanto, a ministra das Finanças, na sua mensagem aos novos, confia no alcance genesíaco da sua divina palavra: jovens, multipliquem-se! Com o aumento de cortes drásticos no abono de família, é de pasmar este encorajamento. A taxa de fecundidade é de 2 filhos por mulher em idade fértil. Não se vai além dos 83.000 nascimentos por ano. Por cada 100 crianças, existem 133 velhos. Será o aumento da esperança de vida o nosso pior inimigo?
Sem abandonar os problemas caseiros, a Revista do Expresso [3] resolveu levar-nos até às tribulações da governação europeia, que também são nossas. A longa entrevista de Cristina Peres a Antony Beevor, reputado historiador da II Guerra Mundial, goste-se ou não, merece atenção.
Para este observador, estamos numa sociedade pós-democrática. Só agora começamos a ver os efeitos de mudanças que ocorreram nos anos 80 e 90. Foi aí que aconteceu a grande revolução que ainda estamos a tentar compreender. Nessa altura, houve uma combinação de acontecimentos que vai obrigar os historiadores a esperar mais 50 anos para concluírem se todas essas alterações estavam ligadas ou se foram pura coincidência: mudanças geopolíticas da Guerra Fria, mudança económica, colapso do controlo do comércio e a globalização; esta é a maior mudança de todas e teve como efeito directo a diminuição do valor do trabalho, em quase todo o mundo. Não se pode “desinventar” a internet.
Os governos perderam o controlo sobre as suas fronteiras virtuais e económicas. A subida incrível do poder das empresas internacionais teve, muitas vezes, efeitos aterradores. Para A. Beevor, é grotesco ouvir Junker falar de valores europeus quando foi ele que introduziu, em Bruxelas, todas as vantagens fiscais para as multinacionais.
3. A entrevista toca em muitas questões. Para este historiador, o verdadeiro desastre foi o culto do multiculturalismo, uma agressão aos países de acolhimento da imigração. As ameaças de terrorismo vão exigir um controlo permanente da vida dos cidadãos, a morte da democracia.
À medida que o Estado Islâmico avançar, aumentarão as migrações e as tensões sociais. Mesmo assim, a Europa será olhada, cada vez mais, como o salva-vidas do mundo. A democracia, com todos os seus defeitos, é considerada o melhor regime político, mas está em risco, mesmo nos países onde tinha mais raízes. Perdeu-se a autoconfiança nas suas capacidades. Também aqui estamos no fim das possibilidades, acima evocadas.
A BARBÁRIE E A INDIFERENÇA
In DN
Pe Anselmo Borges
O direito à liberdade religiosa é um direito fundamental garantido pela Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. Mas acaba por ser um dos menos respeitados. De facto, o cristianismo já esteve do lado dos perseguidores, hoje é a religião mais perseguida. Os dados são verdadeiramente trágicos, a ponto de o Papa Francisco ter feito um apelo à comunidade internacional para que não permaneça "silenciosa e inerte". Na via-sacra de Sexta-Feira Santa foram lembrados todos os que presentemente são perseguidos, nomeadamente na Síria, no Iraque, no Egipto, na Nigéria, no Quénia, na Coreia do Norte: "Os nossos irmãos são perseguidos, decapitados, crucificados por causa da sua fé, sob o nosso silêncio cúmplice." O secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros espanhol, Ignacio Ybáñez, também reconheceu nesta semana que "presentemente a situação é dramática", atingindo o seu auge com o Estado Islâmico: "Em cada hora que passa um cristão é morto."
Nos finais do ano passado, foi publicada uma obra importante: Le Livre Noir de la Condition des Chrétiens dans le Monde, com 811 páginas. Dirigida pelo francês J.-M. di Falco, o britânico T. Radcliffe e o italiano A. Riccardi, contém mais de 70 testemunhos, reportagens e análises de peritos de 17 nacionalidades. A religião cristã é hoje realmente a mais ameaçada e perseguida: entre 150 e 200 milhões de cristãos encontram-se na situação de discriminação ou perseguição. Concretamente no Médio Oriente, na África subsariana, na Ásia, são alvo de grupos armados e organizações terroristas ou sofrem pressão social e repressão do Estado.
A violência sobre a população cristã no Médio Oriente leva à sua redução constante, por causa do aumento dos deslocados e da emigração, que podem conduzir ao desaparecimento da presença cristã na região. Neste sentido, o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros espanhol lembrou que, embora o cristianismo "mergulhe as suas raízes no mundo árabe e semita", os números atestam que os cristãos têm aí uma presença cada vez mais diminuta, representando na actualidade apenas 2% da população de Israel, Palestina e Jordânia, 4% no Iraque, 8% na Síria, 10% no Egipto.
Javier Elzo pergunta: Porquê precisamente os cristãos? E tenta responder.
Em primeiro lugar, representam a religião com maior número de fiéis e mais espalhada: 2300 milhões, dos quais 1200 milhões católicos. São um terço da humanidade, seguindo-se os muçulmanos, com 1700 milhões.
Depois, num século, entre 1910 e 2010, a distribuição dos cristãos no mundo transformou-se radicalmente. Assim, na Europa: passou-se de 66,3% para 25,9%, respectivamente; nas Américas: 22,1% e 36,8%; Médio Oriente e Norte de África: 0,7% e 0,6%; Ásia: 4,5% e 13,1%; África subsariana: 1,4% e 23,6%.
Este aumento de cristãos fora do Ocidente é visto em alguns países como constituindo uma ameaça. São considerados por vezes como pontas avançadas de interesses ocidentais. Por outro lado, há quem os considere também como adversários na ascensão social. E têm um modo diferente de viver e de interagir com os outros, considerado inaceitável nomeadamente para o fanatismo.
E como explicar o silêncio do Ocidente? O historiador Andrea Riccardi, fundador da comunidade de Santo Egídio e um dos directores do livro, nota que em grande medida poderá ser esta a explicação: "Na realidade, a cultura ocidental alimentou um autêntico sentimento de culpa por causa das responsabilidades dos cristãos pelas violências que cometeram ao longo da sua longa história", lembrando a conquista da América, o colonialismo, as cruzadas, a Inquisição...
O agnóstico Régis Debray aponta realisticamente para o politicamente correcto, interesses políticos e económicos e a indiferença religiosa do Ocidente. Afinal, as vítimas são "demasiado cristãs" para poderem interessar a esquerda e "demasiado estrangeiras" para poderem interessar a direita.
Mas o filósofo André Comte-Sponville, que professa um ateísmo com espiritualidade, chama justamente a atenção para o facto de ninguém poder ignorar as perseguições operadas pela Igreja, "mas isso não é razão para fazer recair sobre os cristãos de hoje as faltas e os crimes dos seus predecessores. Ninguém é culpável pelos pecados dos seus pais. Os direitos dos seres humanos transmitem-se pelo nascimento; a culpabilidade não. Os cristãos são, antes de mais, seres humanos. O que é suficiente para outorgar-lhes direitos e, por conseguinte, para obrigar--nos a deveres para com eles".
Neste sentido, voltarei, no próximo sábado, à saudação pascal do primeiro--ministro britânico, David Cameron, reivindicando as raízes cristãs do Reino Unido, que "é um país cristão", e assegurando aos cristãos perseguidos: "Estamos convosco." Ignacio Ybáñez também declarou ser um "imperativo moral" e uma "responsabilidade política" a implicação da Espanha face à perseguição dos cristãos no Próximo Oriente.
Coloquei um ponto final na minha relação com o Facebook.
Durante muito tempo, ainda sem saber com que regras se cozia, olhei para o Facebook como algo que me parecia exigir demasiado de quem nele apostasse.
Talvez para me defender, após ter-me rendido aos seus encantos, propalei aos quatro cantos que não vivia para facebookar, antes, facebookava porque vivia.
E nessa doce ilusão, quase sem me dar conta, deixei-me ir ao ponto de que esta máxima cada vez menos correspondia à verdade dos factos. Ou seja, de tão enfronhado na vivência dos dias quase não parei para, pelo menos, distanciadamente, perceber o que estava a acontecer.
2
De facto, os meus dias, a sua intensa vivência, como que estavam ao serviço de uma "agenda" que, de todo, e de forma crescente, me escapava . Uma agenda feita de "likes", comentários, estados de alma sem hora marcada, num frenesi estonteante de coisas a acontecer, a qualquer hora e momento, de mais de 1500 "amigos" ou de amigos de amigos que, como num tsnunami de qwerts feito, arribavam à grande praça do "feed das notícias" que Mark Zuckerberger para nós criou.E ai se alguém em redor ousasse questionar a nossa facebookiana militância feita de apaixonados comentários e/ou devotas "partilhas". Eram logo corridos com proclamações de fé nas virtudes das novas tecnologias quais bíblicos bezerros de ouro que nenhuma hesitação consentiam.
Os méritos do facebook nada têm a ver com a sua compulsiva utilização, daí que, também, para quem em adiantado estado de obsessiva manietação, o corte radical "com a conta" seja a mais aconselhada solução.
Entre o completo desfrute de um fantásico pôr-do-sol, de uma gaivota rasando a quietude das águas do Tejo, de um mar de vermelhas papoilas ondulantes em seara de trigo e a sua urgente "edição" porque se adivinha um ávido auditório esperando, como de pão para a boca, com a partilha de tanta beleza que em si já se não contém, quantas faltas de atenção, quantas tarefas adiadas a exigirem imediata execução, quantos olhares perdidos naqueles mais próximos e que assim se sentem preteridos?!
O Facebook, o tweeter (que sempre recusei), o instagram são meios ao nosso dispor para nos facilitar a comunicação nunca deslumbrados fins em si próprios que acabem por, quase sem sabermos, nos substituirem no muito que permanece por comunicar.
Quando hoje em dia observo meia dúzia de jovens à mesa de um suposto convívio agarrados aos seus telemóveis sem entre si trocarem uma palavra sequer, a não ser para comentarem o que cada um está a ver ou a "editar", e a mesma cena se repete com ajuntamentos de outras faixas etárias, na rua, no restaurante, etc, de facto, a conclusão é aterradora: aquilo que foi inventado para nos facilitar a comunicação aí está para, de forma subtil, nos atirar para simulacros de comunicação.Ao final do dia a sensação só pode ser mesmo a de quantos bytes se fez mais um dia que passou?
Mais do que os "órfãos amigos" que deixei para trás esta tarde, sinto que estive muito próximo de ficar órfão daqueles que mais amo tal a distância a que estava a ficar deles permanecendo, no entanto, a seu lado, mas sem chão, sem emoção, porque essa estava a esvair-se toda no frenético instante dos mil cliques da feicebookiana obsessão.
A ânimo/blog que também foi vítima desse frenesi, continuará, serena, por aqui.
antónio colaço
Frei Bento Domingues
In Público
A RESSURREIÇÃO NÃP PODE SER ADIADA
1. Encontrei-me, nesta Páscoa, com um grupo de antigos alunos que me veio convidar para um colóquio sobre os novos caminhos da cristologia.
Alguns deles situam-se nas trajectórias de nomes famosos como os de G. Vermes, Sanders, Theisen, Meier, Piñero, Torrents, S. Vidal e outros, mais ou menos alinhados na “terceira busca” ou investigação, do Jesus histórico. É inegável o valor extraordinário dessas reconstruções, embora para alguns comecem a ser entediantes.
A maioria segue os resultados dos importantes Colóquios organizados por Anselmo Borges, no Seminário da Boa Nova, em Valadares, entre os quais Quem foi/quem é Jesus Cristo?. Conhecem as múltiplas iniciativas editoriais de Tolentino de Mendonça, coroadas pela bela colecção Biblioteca Indispensável. J. Carreira das Neves é, desde há muito e para todos, a abelha incansável da Bíblia. Nenhum tinha ainda lido, por óbvias dificuldades de comunicação, O rosto humano de Deus, de A. Cunha de Oliveira, sobre o qual espero vir a escrever, com o vagar que o conjunto da obra deste autor merece.
2. Na conversa, os meus amigos começaram a lembrar–se do método que praticávamos, no século passado, nas iniciações ao conhecimento intelectual e afectivo, de Jesus de Nazaré, nossa paixão comum. Era um método algo anárquico, de desconstrução e de pistas para novos ensaios, sempre provisórios, alicerçados na convicção de que a eternidade teológica não era do nosso mundo.
A crítica exegética impedia o biblismo fundamentalista, o testemunho de Paulo e dos Actos dos Apóstolos, pareciam libertar Jesus das amarras da religião em que tinha sido educado, mas dividiam os seus primeiros discípulos acerca da “teologia patriótica” do povo eleito.
Ao contrário do que acontece agora, vivíamos preocupados sobretudo com a originalidade dessa fantástica figura judaica, rompendo com as tentativas da sua redução a uma simples tendência do judaísmo. Para nós, o que interessava era o Jesus homem livre, profeta de um Deus diferente, para a construção de um mudo novo. Não nos importávamos com a observação melancólica de Albert Scheweitzer, de 1906: cada época reconstrói o Jesus que lhe convém. Afinal, não era precisamente dessa evidência que testemunhavam os textos do Novo Testamento? Não se tratava de “processos verbais” dos passos de uma vida, mas peças interpretativas, geográfica e historicamente situadas já muito depois dos acontecimentos.
As nossas tentativas cristológicas começavam sempre pelas interrogações acerca do sentido ou sem-sentido do mundo, da história e da vida pessoal, ética e estética. Só depois desse percurso existencial e cultural, partíamos para as perguntas inevitáveis: Jesus Cristo, testemunhado pela multiplicidade e diferenciação dos textos do Novo Testamento, que sentido, que beleza, que exigência, que impulso vital e que responsabilidade ética e política trazia à nossa vida pessoal e cidadã? Este quadro aberto permitia incursões em muitas áreas de investigação e obrigava a debates que integravam percursos culturais e espirituais muito diversos.
Era um caminho que exigia um trabalho nunca acabado de religação entre todos os contributos. No âmbito teológico, viver a complexidade com alegria, recusando tanto o dogmatismo como o vale tudo, não era fácil para todos, sobretudo para quem tinha sido moldado pela repetição do credo, pelo catecismo e por uma educação moralista que conhecia o catálogo das proibições mas desconhecia as energias transformantes e criadoras das virtudes humanas e divinas.
Vivíamos uma convicção fundamentada: sem vigilância filosófica, sem cultura estética, sem diálogo com as questões emergentes das ciências, sem o conhecimento da história das outras experiências religiosas não se podia superar certa mentalidade católica com a obsessão das vozes da verdade gémea das vozes da estupidez.
3. Acabei por dizer aos meus amigos: viestes por causa da avaliação das novas tendências da cristologia e caímos na armadilha da saudade, como se fosse uma reunião de antigos combatentes. Tentemos não ser mortos vivos e escutemos as dores e as alegrias de parto desta época de grandes esperanças, mas também de muitos possessos da loucura desenfreada: Vão para a guerra, vão matar, roubar, violar. Deus olha (H. Helder). A comunidade internacional está cega.
Pe Anselmo Borges
In DN 11.04.2015
A VERDADE NUA E CRUA
1. Era um daqueles beatos que julgam amar a Deus por Ele, mas que apenas pedincham em vez de agradecer. Lá estava ele permanentemente diante do Cristo crucificado: "Senhor, cuida dos meus campos, dá-me saúde e faz que eu não morra." Um dia, farto, o sacristão escondeu-se por trás do crucifixo: "Filho, tens de tratar tu dos campos e da saúde e já sabes que um dia tens de morrer como todos os outros." O beato, furioso: "Porque és assim, pelo teu mau falar, é que foste, e bem, pregado na cruz."
Quem gosta de ouvir a verdade nua e crua?
Vamos supor que, num funeral, o padre se ergue a dizer: "Meus irmãos, levamos hoje a sepultar este irmão que era um estupor. Não sabe a mulher das suas infidelidades? Não sabem todos que era um corrupto? Alguém conhece um acto seu de generosidade? Como tratou os filhos? Um ateu crasso, materialista, que fugiu ao fisco, matou, e todos, lá no íntimo, consideram que era tão-só um crápula. Graças a Deus, estamos livres dele, vai hoje a sepultar."
A verdade nua e crua. Mas alguém, incluindo as suas vítimas, toleraria o discurso?
E aquele pensamento de Pascal: se se soubesse o que os amigos dizem nas costas, talvez não sobrassem no mundo mais do que dois ou três amigos.
Afinal, quem diz a verdade nua e crua? E quem quer conhecê-la? Os políticos, por exemplo, descredibilizam-se, porque a hipocrisia e os interesses impedem a verdade limpa. O que é a verdade na sociedade-espectáculo? Facto é que da morte, a verdade nua, se fez tabu, o último tabu. E deve-se dizer sempre a verdade? Deve ser norma o médico dizer ao doente a verdade bruta da iminência do fim? Porque é que há o segredo da confissão? A. Comte-Sponville: arrepiante um "olhar omnisciente". "Quem quereria viver sempre sob o olhar da mãe? Quem o suportaria, se ela soubesse tudo?"
2. Aliás, pergunta-se: a verdade existe e é possível conhecê-la? Definiu-se geralmente a verdade como adequação entre o pensamento e a realidade. Ora, para quem reflecte, a coisa é bem mais complexa. De facto, no conhecimento, há três realidades em jogo: o sujeito, a imagem ou o objecto em nós e a realidade mesma. O objecto é a coisa em nós, e qual é a correspondência entre essa imagem ou objecto e a coisa mesma e como saber que há adequação, se não é possível sair do pensamento?
Que o conhecimento não é mera construção subjectiva, como pensaria o idealismo, mostra-o o facto de a realidade não seguir os nossos desejos e nos resistir. E algo conhecemos dela, estando a prova em que os conhecimentos científicos aplicados ao mundo funcionam: em princípio, os comboios andam e as pontes estão paradas e já fomos à Lua. Mas seria estultícia pensar que conhecemos a realidade toda como é em si mesma e que lentamente nos apoderaremos plenamente dela e do seu mistério.
3. Mas há quem não tolere não possuir a verdade toda e ter de conviver com dúvidas e aproximações. Quanto à verdade científica e também moral. Diz a Bíblia que nem o justo se pode julgar a si mesmo e não sabe se é justo. Ninguém pode ser plenamente moral a não ser que tenha tido a possibilidade de ser imoral. É fácil, no nosso conforto, condenarmos quem pactuou com o nazismo, mas lá, naquele horror, teríamos tido a coragem de dizer: não? "Como saber que entregaríeis ao seu dono a carteira com uma fortuna, se ainda vos não sucedeu ter encontrado uma?", pergunta B. Piccard. "Estaremos seguros de dizer sempre a verdade, se nunca fomos forçados a mentir?" Ou que não faremos um aborto ou que não denunciaremos um amigo?
O pensamento da posse da verdade toda é a ilusão dos fundamentalismos. Por isso, quem julga detê-la não pode ter o poder político coactivo do seu lado. É que, nessas circunstâncias, a Inquisição queimou os que considerou hereges e o comunismo soviético ergueu o gulag e, agora, o Estado Islâmico degola, decapita, queima, vivos, os "infiéis". E aí está o horror da verdade na nudez da barbárie.
4. Se a História há-de ter sentido e sentido último, se a História toda não for pura e simplesmente amoral, exige-se um juízo definitivo sobre o que entretanto aconteceu, o bem e o mal.
Esta era uma exigência da Escola Crítica de Frankfurt: não se pode compreender a História sem a ideia de Juízo Final e de Messias. Porque é preciso saber a verdade sobre o acontecido, a verdade sobre bem e mal, justo e injusto, digno e indigno, o que verdadeiramente vale e o que não vale, e é exigido moralmente que se salde a dívida para com as vítimas inocentes, que clamam por justiça. E quem pode pagar essa dívida a não ser Deus?
A realidade é processual e, por isso, a História lê-se do fim para o princípio. O que é verdadeiramente?
No fim, toda a verdade sairá do oculto e será revelada. Mas, segundo os cristãos, o Juízo Final será, sem vingança nem sadismo, um juízo de misericórdia e salvação para a vida eterna, para o qual, por outro lado, a história presente, não sendo indiferente, tem consequências.
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