Domingo, 29 de Novembro de 2015
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DEUS NÃO PASSA POR NÓS A CORRER
Frei Bento Domingues
In Público

1. Não esperava que me viessem pedir contas por Deus não ter feito nada para impedir o massacre de Paris. Essas pessoas acabaram por concluir que tinham batido à porta errada. Sugeri-lhes, com toda a paciência, que falassem directamente com Ele e aproveitassem o encontro para se esclarecerem acerca de todas as guerras e violências que, até em seu nome, foram desencadeadas ao longo da História. Algumas das narradas na Bíblia Hebraica até passaram a ser glorificadas na Liturgia católica, como acontece, por exemplo, na própria Vigília Pascal. Isto sem falar na recitação e canto de alguns salmos especialmente violentos!

Como não me lembro de ter, alguma vez, atribuído a Deus as asneiras da iniciativa humana ou os desconcertos da natureza, não me sinto atraído a abordar casos de polícia como altamente religioso-teológicos. Tanto os que o culpabilizam como os que o absolvem sabem demasiado da divindade. Não se dão conta que Deus, em si mesmo, nos é totalmente desconhecido (omnino ignoto).

Fui vacinado, muito cedo, pela corrente mística da teologia negativa ou apofática. Esta prática teológica tem o bom senso de fazer acompanhar todas as afirmações, acerca da divindade, de uma luminosa negação anti-idolátrica. A paradoxal oração do dominicano alemão, Mestre Eckhart (1260-1327) – Deus, livra-me de Deus – confessa, de modo enérgico, que não nos podemos fiar nas fórmulas que julgam apanhar Deus na sua rede. S. Tomás de Aquino sustentou que a própria letra dos Evangelhos, sem o sopro libertador do Espírito, se pode tornar uma prisão, uma letra que mata.

Quando me entregaram o grande roteiro da viagem teológica para principiantes, a Suma Teológica, fui logo avisado, pelo autor, de que não iria passar a saber como era Deus, mas sobretudo como Ele não era, Deus conhecido como desconhecido [i].

No âmbito religioso, pelo salto de significação que permite, a linguagem metafórica é a menos inconveniente. Na grande poesia e na grande música todas as viagens são possíveis, mistério do Mundo, mistério de Deus.

2. Ao falarmos tanto, sobretudo desde o séc. XIX, da morte de Deus, do silêncio de Deus, de se lançar a suspeita sobre tudo o que se relacionava com as religiões, foi esquecido um pequeno pormenor: tomou-se uma importantíssima questão cultural da modernidade europeia, como se fosse o retrato da situação religiosa universal. Resultado: não entendemos o que se está a passar na Europa, nem no resto do mundo. Não sabemos qual o sentido da civilização que herdamos, nem a que estamos a construir.

Vivemos num mundo de negócios. Sem negócios não se pode viver. Estes são cada vez mais globalizados. Mas o negócio dos negócios é o comércio de seres humanos e de armas. Chegámos a um ponto em que sem a indústria bélica, muita gente iria para o desemprego. Com o seu uso, muita gente vai para o cemitério.

Quando se pensava que o tempo das guerras religiosas, das Inquisições, das Cruzadas tinha acabado, reaparece a união entre armas e religião, em pleno coração da Europa. Os pseudo-religiosos, os terroristas, usam as armas em nome de Deus. Os laicos usam as armas para se defenderem dessa religião, confessando, e ainda bem, um respeito sagrado pelas religiões que ignoram. Petróleo oblige.

3. Quando João Paulo II se opôs, da forma mais firme, à guerra no Iraque, ignoraram-no. Ele estaria a defender os interesses cristãos da zona. Quando o Papa Francisco advertiu que era urgente suster a calamidade do Estado Islâmico, uns ignoraram-no, outros comentaram: o pacifista converteu-se à guerra justa. Também ele estaria a defender os cristãos dos massacres que os tinham por alvo preferencial.

Não basta intensificar o diálogo inter-religioso, embora seja muitíssimo importante que todos confessem que um deus que incita à violência gera uma religião diabólica, uma anti-religião.

Religiosos e não religiosos, místicos ou ateus teremos de aprender a viver no mesmo mundo, não como uma fatalidade, mas como uma oportunidade de nos tornarmos mais humanos, com o contributo de todos. Os cépticos dirão que não passa de uma utopia, mas que seria de nós sem aquilo que nos faz andar?

A liturgia católica celebrou, no domingo passado, Jesus Cristo Rei do Universo, ajuda difícil para as monarquias em dificuldades. É um rei coroado de espinhos e cravado na cruz. Ele próprio confessou que não era o poder que lhe interessava. Se assim fosse teria organizado um exército. Para ele só contava a alegria da vida humana, a sua verdade última. Assim terminava o ano litúrgico. Hoje recomeça, com o Advento, mas Deus na sua caminhada com os seres humanos não passa a correr.

Segundo o Novo Testamento, adopta os ritmos e os zigue-zagues da história humana, para que ninguém se sinta perdido. Insere-se nos seus movimentos para abrir brechas de esperança.

Na situação actual, parece que ninguém sabe para onde caminha a nossa civilização que, ao mesmo tempo que se globaliza, se despedaça em fragmentos irreconhecíveis, esquecendo que somos todos migrantes da mesma promessa.

Não passemos este Advento a correr. Precisamos de tempo para nascer de novo, para descobrir que outro rumo e outra vida são possíveis.

[i] S.T, I,q.2,prol.; q,13,a.4;Super Boet. De Trini. q. 2 a. 2 ad 1.

 



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MATINAS

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OS MIL SÓIS DO IRMÃO SOL
Rumando a Norte por entre um Alfa rompendo a densa neblina não me saem da cabeça os mil sóis de que se fez o nascer do Sol de hoje.
A captação do privilegiado e esplendoroso instante, em plena Vasco da Gama - que quase comprometeu "apanhar" o dito Alfa -surpreendeu-me como nunca: a pequenina bola de fogo, que nascia na minha rectaguarda lá para as bandas de Alcochete, começou a despontar e a reproduzir-se na multidão das tantas janelas da beira-rio alfacinha, chegando ao ponto de quase me encadear a partir da moderna e envidraçada arquitectura da Expo.
Um verdadeiro milagre da multiplicação do Irmão Sol!
A caminho do encontro com antigos seguidores de Francisco de Assis (mas sempre actuais e fiéis seguidores) nada mais inspirador....

Foto.Em plena Ponte Vasco da Gama a caminho da Gare Oriente!!!!

 



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TERCEIRA GUERRA MUNDIAL?

Pe Anselmo Borges
In DN 28 Nov

1- Coloquei no título uma interrogação. Mas poderia lá não estar. De facto, há muito que o Papa Francisco vem dizendo que a Terceira Guerra Mundial está em curso, mas "aos bocados", "às fatias". Veio relembrá-lo na condenação veemente da tragédia de Paris. E não está sozinho.

O que se teme, quando se olha para a complexidade do nosso mundo, tremendamente perigoso e ameaçador, é que, de repente, se dê uma explosão. Todos se lembram de como para o início da Primeira Guerra Mundial bastou o que pareceria um pormenor: o assassínio do arquiduque Francisco Fernando em Sarajevo, em 1914. Agora, Robert Farley, da Universidade de Kentucky, nos Estados Unidos, acaba de apresentar alguns rastilhos que poderiam desencadear um conflito à escala global: em primeiro lugar, a guerra na Síria, mas também a ameaça do mau relacionamento entre a Índia e o Paquistão ou entre a China e o Japão, a crise na Ucrânia e um confronto entre a NATO e a Rússia...

2- Presentemente, o perigo maior está no ISIS, o autoproclamado "Estado Islâmico", e no terrorismo global. Como se chegou até aqui?

Claro que são mais as perguntas do que as respostas. Aliás, um dos problemas maiores no actual momento é a confusão devida à complexidade da situação, aos interesses contraditórios e cínicos dos diferentes actores, políticos, económicos, militares, geoestratégicos, ideológicos. Falei na Primeira Guerra Mundial e, então, é preciso dizer que ainda estamos a sofrer as suas consequências, sobretudo por causa do Médio Oriente. E talvez não tenha ainda acabado o ressentimento que deriva do facto de a quase totalidade dos países de maioria islâmica ter sido colónia europeia. E houve a insensatez da invasão do Iraque e, depois, da Líbia. Diz-se que Saddam Hussein, diante da forca, terá profetizado: "Deixo-vos o inferno." Após o vazio criado, surgiu o diabólico "Estado Islâmico", que é preciso destruir, mas como, com quem?

Faço minhas algumas interrogações do filósofo José Arregi, na presença dos mortos de Paris e das lágrimas dos vivos. "Quem criou, financiou e treinou a Al-Qaeda para combater a Rússia? E quem concebeu e continua a sustentar na sombra o Estado Islâmico para desestabilizar todo o Médio Oriente e tirar maior proveito e lucro? Não se sentam no G20 dos grandes do mundo alguns governos amigos de países, com a Arábia Saudita à cabeça, nos quais encontram suporte ideológico e financeiro os jihadistas que nos combatem e que dizemos combater? Não são estranhamente coincidentes os interesses do "Estado Islâmico" e os do poder financeiro do mundo ocidental?" Mas há igualmente perguntas a fazer ao mundo islâmico. "E vós, dirigentes políticos dos países árabes, para onde conduzis os vossos povos, essa imensa maioria de gente pacífica, com as vossas lutas fratricidas sem fim, com o vosso confronto secular entre sunitas e xiitas, com os vossos impossíveis projectos teocráticos, com o vosso sonho de califado confessional, medieval, absurdo? E vós, os dirigentes religiosos da Umma ou comunidade muçulmana universal, para onde conduzis essa multidão de gente crente, cheia de bondade e de generosidade, empenhados como estais em mantê-la encerrada no passado?"

3- Como combater o terrorismo fora, se há terroristas cá dentro? Pergunta imensa: o que é que leva tantos jovens europeus, e não se trata apenas de gente pobre dos arrabaldes das grandes cidades, a alistar-se para combater no "Estado Islâmico"? Que ideias, que valores lhes entregamos? Segundo o politólogo Gilles Kepel, especialista do islão e do mundo árabe contemporâneo, não bastam as explicações sociológicas, escreve no último L"Obs. "Jovens sem referências, perdidos no meio das desordens do mundo que a torneira mediática espalha, podem ser tentados a ir procurar num passado mitificado, o do islão das origens revisitado e falsificado, uma ordem que vai dar-lhes normas, valores. Sonhar com a jihad é fantasiar a sua vida, é projectar-se numa existência épica, viril. E é inscrever-se num projecto colectivo, a construção do califado, apresentado como uma utopia terrestre, onde todos têm um trabalho, onde não há pobres; é viver um antegosto do mundo perfeito do além.

4- Há muito que o famoso teólogo Hans Küng tornou claro que "não haverá paz entre as nações sem paz entre as religiões". O Papa Francisco sabe disso. Por isso, denuncia toda a violência, que, se for em nome de Deus, é "uma contradição", "blasfémia". "Uma guerra pode justificar-se, entre aspas, com muitas razões. Mas quando o mundo todo, como hoje em dia, está em guerra?! Uma guerra mundial, aqui e ali, por todos os lados. Não existe nenhuma justificação. E Deus chora."

E, sem medo, apesar do alto risco, seguiu para África, visitando o Quénia, o Uganda e a República Centro-Africana, para anunciar a paz, a justiça social, a reconciliação, o diálogo entre cristãos e muçulmanos. Em nome de Deus

 



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Sexta-feira, 27 de Novembro de 2015
LOUCURAS DE QUINTA ...a ânimo no Freeport

LOUCURAS DE QUINTA

Do consumo e da arte do consumir ou, quem e o quê é que verdadeiramente nos consome?

Boa sexta com imagens de Quinta!

 

 



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Domingo, 22 de Novembro de 2015
WEBANGELHO SEGUNDO FREI BENTO DOMINGUES

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DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS
Frei Bento Domingues
In Público

1. A Revista Islâmica Portuguesa [1] Al Furqán fez uma declaração muito ampla sobre os acontecimentos de Paris. Destacamos a seguinte passagem: O ser humano merece viver em paz, independentemente de raça, credo ou cor. Não ao que aconteceu em Paris. Não ao que se passa na Palestina. Não ao que ocorre na Síria. Não ao que acontece no Iraque. Não ao que ocorre no Afeganistão. Não ao que se passa na Birmânia. Não e não aos massacres, não às atrocidades, não ao egoísmo e não à hipocrisia. Ninguém deve ser outro, mas sim o respeito mútuo. Merecemos viver num mundo melhor.

 

No mundo contemporâneo, global, nada é simples. Já quase não existem sociedades homogéneas do ponto de vista étnico ou religioso. Ao contrário da opinião corrente, como mostra L’Atlas des Religions (2015), nem todas as religiões são instituições petrificadas. Muitas delas evoluem, deslocam-se, recompõem-se como as culturas e as civilizações.

Se é verdade que as religiões podem motivar e aumentar os conflitos, também podem e devem fortalecer a coabitação pacífica e intensificar a comunicação. Com uma diferença: quando a religião é convocada para abençoar a violência e para legitimar a guerra, atraiçoa a sua própria natureza; quando religa as pessoas, as comunidades e os povos vive a sua missão essencial. É próprio da cultura e da religião produzirem significações múltiplas. A violência e a guerra respondem quase sempre ao absurdo, com mais absurdo.

Em 1986, João Paulo II convocou para Assis, em Itália, os líderes das grandes religiões para rezarem pela paz, proclamando: nunca mais uns contra os outros; sempre uns com os outros. Participaram, nesse acontecimento memorável, personalidades judaicas, cristãs, muçulmanas assim como de religiões orientais e de tradições africanas. Foi retomado depois do 11 de Setembro para recusar o choque das civilizações e das religiões.

Diz-se que há mundos religiosos e políticos que recusam, por princípio, o caminho do diálogo. Perante a crise síria por exemplo, os grupos do califado ou do império islâmico declaram que não é o diálogo que lhes interessa, mas a luta armada até à morte ou à vitória. Seguem o caminho de bin Laden: os ocidentais querem diálogo, nós queremos a sua morte.

Por tudo isto e muito mais, nas últimas décadas, tornou-se corrente associar a violência e o terrorismo ao Islão. Porque não dar a conhecer as personalidades, os países e os movimentos muçulmanos que lutam contra o ódio e a guerra?

Deixemos, por instantes, outras questões históricas e os terroristas profissionais e seja feita a pergunta: qual poderia ser o contributo dos muçulmanos que vivem em países de liberdade religiosa para que esta seja reconhecida e praticada nos países islâmicos?

Pode parecer uma pergunta ingénua, mas é tempo de a fazer. Será longo e difícil este caminho para a grande maioria. Esta julgará normal que os seus países de origem recusem a liberdade às outras religiões e que, nos países onde vive e trabalha, lhe reconheçam não só a liberdade de culto como o absoluto respeito pelas suas expressões públicas. Isto por uma razão muito simples inculcada desde a infância: o Islão considera-se a si próprio como a religião mais simples e perfeita da revelação divina. O Corão é o próprio ditado de Alá a Maomé e constitui a fonte de toda a lei e de todo o direito: relações com Deus, culto, higiene, urbanidade, educação, moral individual, vida social e política.

Em tempos de crise, os fundamentalistas - de várias origens e diversas reconfigurações - acabarão por se considerarem os guardas da pureza islâmica, recorrendo, se for preciso, aos métodos mais radicais. A submissão a Deus pratica-se na vida toda. Não me espanta.

2. Ainda conheci, na Igreja Católica, o império de certos teólogos que atacavam, como heréticas e inimigas da sã doutrina revelada, as correntes cristãs que defendiam a tolerância e a liberdade religiosa e consideravam uma loucura o diálogo inter-religioso.

 A argumentação era muito simples: só a verdade tem direito a afirmar-se e a defender-se publicamente. Para o erro não pode haver nem tolerância nem liberdade. A Igreja Católica é a única verdadeira Igreja cristã e a única verdadeira religião. Deve fazer tudo para impedir a divulgação do erro.

O mais espantoso é o seguinte: investigada sob todos os aspectos, desde o começo do Concílio Vaticano II, a declaração Dignitatis Humanae, sobre a liberdade religiosa, encontrou tantos obstáculos que só foi aprovada a 7 de Dezembro de 1965, apenas um dia antes do seu encerramento por Paulo VI. Seremos capazes de imaginar, hoje, a Igreja Católica contra a liberdade religiosa? Dir-se-á que é um texto menor comparado com as grandes constituições do Concílio. Sem estas não teria sido possível, mas é esta breve declaração que constitui o contributo maior do catolicismo para o diálogo entre os povos e entre as religiões.

Enquanto os países de maioria islâmica não deixarem praticar, nos seus espaços, a liberdade religiosa que para si reivindicam, estão a exigir que entre os seres humanos haja dois pesos e duas medidas. É a desumanidade. Não é bonito.

[1] Cf. Reflexões Islâmicas, Ano III, nº. 160, 15.11.2015  



publicado por animo às 21:49
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WEBANGELHO SEGUNDO ANSELMO BORGES

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A VIOLÊNCIA NAS RELIGIÕES
Pe Anselmo Borges
In DN 21Nov

1 Na base das religiões está a experiência do Sagrado, de Deus, de quem se espera salvação para todos. Mas, depois, é o que se sabe: há uma brutal "história criminosa" das religiões, devendo, porém, acrescentar-se que essa história se estende ao ateísmo, que cai no mesmo paradoxo: uma das suas razões é a tolerância, mas, depois, foi também o horror - basta citar o nazismo e o comunismo e o seu ateísmo. E isto dá que pensar.

Como faz notar o teólogo J. I. González Faus, "a violência não é própria da experiência crente: é, sim, intrínseca ao ser humano", por necessidade de autodefesa e de sobrevivência, sobretudo por causa da sua dimensão racional e da pretensão de universalidade, intrínseca à razão: "A maior parte das violências impostas por alguns contra outros apenas pretendiam, em teoria, fazê-los "entrar na razão" ou "aceitar a verdade"." Nas religiões, lá está o alegado encontro exclusivo com a verdade e a necessidade de impô-la, precisamente para defender a verdade e Deus. Foi isso que aconteceu também com o comunismo, que, segundo uma expressão de Karl Marx, "é a resolução do enigma da história e sabe que o é".

O ser humano é finito, carente e mortal. Quando julga encontrar a verdade, a verdade única e toda, encontra o bálsamo da existência: o da verdade salvadora. Como precisa de segurança, de reconhecimento, de superar a carência, a finitude, a mortalidade, não tolera a dúvida, a diversidade, e vai impor "a verdade", justificando-se, nesse propósito, a agressão e a violência.

O pensamento total desemboca em totalitarismo. Por isso é que quem julga deter a verdade única, toda, não pode ter do seu lado o exército e a polícia. Para não acontecerem as tragédias da barbárie. Quando a Igreja pensou deter a verdade toda e tinha do seu lado o poder, surgiu a Inquisição. Com o "socialismo real" e a pretensa solução do enigma da história, foi o goulag. Lá está a perversidade: a alegada posse da verdade total também serve para justificar interesses outros que não são os da verdade e que têm que ver com a dominação, o poder, que quer sempre mais poder. É mesmo isso: levamos connosco a ilusão de que, se fôssemos omnipotentes, com o poder todo, mataríamos a morte. Sempre a ilusão de ser Deus, concebido como omnipotência, no sentido de domínio total. Mas o núcleo da revelação cristã é que Deus não é Poder infinito enquanto dominação, mas Força infinita de criar e de amar. No entanto, no Credo, mesmo no Credo, não se diz explicitamente a única "definição" de Deus no Novo Testamento: "Deus é amor incondicional." E ainda funciona um "Deus dos exércitos" e, segundo a tradição, há um bispo das Forças Armadas e Segurança, mas não há um bispo da Cultura, da Saúde e da Segurança Social.

2 A questão não é a experiência religiosa mística, pela sua própria natureza, antiviolenta, felicitante e que traz salvação. A questão é o que as religiões fizeram e fazem de Deus.

No dizer do filósofo Frédéric Lenoir, isto vê-se concretamente nos monoteísmos, por se julgarem detentores da "verdade única que lhes foi dada por Deus". Deve juntar-se a tal atracção do poder, que torna as religiões violentas. "O caso do judaísmo é típico, pois durante mais de dois mil e quinhentos anos foi uma minoria politicamente dominada ou perseguida." E lá está ainda hoje o terrível fanatismo. De qualquer modo, Javé é um Deus muito violento. O cristianismo é a religião do amor e começou por ser pacífico e violentamente perseguido. As coisas mudaram desde o século IV, com Constantino, e sobretudo a partir de 380, ao tornar-se religião de Estado, numa união religioso-política. De religião perseguida, começou a tornar-se perseguidora e implacável para com os infiéis não cristãos e os cristãos heréticos. Santo Agostinho já fala em "perseguição justa". Depois, são as cruzadas, fazendo o papa Urbano II apelo à guerra santa: "Deus o quer." E a "santa inquisição". Santo Tomás de Aquino escreveu: "Os hereges merecem ser suprimidos do mundo pela morte." E o ódio aos judeus. E a brutalidade da conquista da América e do tráfico de escravos. O Alcorão prega a guerra santa contra os infiéis: "Profeta, combate contra os infiéis e sê duro com eles" (9, 73); "Infundirei o terror nos corações dos que não acreditem. Cortai-lhes o pescoço" (8, 12). E Lenoir lembra que Maomé foi ele próprio "ao mesmo tempo um chefe espiritual e político, e um guerreiro". Participou em 60 batalhas.

A história mostra que também o hinduísmo e o budismo não estão imunes à violência, por vezes brutal, exercida até por monges.

3O casamento das religiões com o poder e a política corrompe-as. Aí está porque, para lá da urgência do diálogo inter-religioso, condições essenciais para a paz são a leitura histórico-crítica dos textos sagrados e a laicidade do Estado, com a separação da(s) Igreja(s) e do Estado e o respeito pelos direitos humanos.

* Padre e professor de Filosofia

Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.



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Quinta-feira, 19 de Novembro de 2015
MAR DA PALHA. ZONA C reportagem de Rita Colaço na Antena1

 

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Há um negócio ilegal no rio Tejo. Todos os dias, centenas de pessoas percorrem o estuário do Tejo, na apanha da amêijoa. Do mar da palha, saem diariamente toneladas de amêijoa japonesa, que seguem um circuito ilegal até Espanha. As que ficam em Portugal chegam à mesa dos consumidores, muitas vezes, contaminadas.

O LINK PARA OUVIR, AQUI:
http://www.rtp.pt/noticias/grande-reportagem/mar-da-palha-zona-c_a874935#



publicado por animo às 21:23
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Quarta-feira, 18 de Novembro de 2015
A MINHA PRIMEIRA VEZ.....NOS JERÓNIMOS

Encho-me de uma ternura que me derrota.
A solicitude de António Esteireiro, o privilégio da sua amizade mas, sobretudo, a sua materna bondade ( a forma como tempera os sons, como ciranda, protegendo a minha fragilidade e insegurança - tinhamos pouco mais de dez minutos antes que as beatinhas dos Jerónimos começassem o seu terço na Basílica - derrotam-me sempre que me abeiro do histórico do Youtube, como agora.
Quando me sinto acossado, ...fustigado,encharcado pela intempérie política que assola o meu país, é para aqui que corro a refugiar-me.
São sete minutinhos de um improviso que me deixam aqui neste cantinho do nosso épico mosteiro mais aconchegado, de lencinho na mão para secar as duas ou três gotinhas de água que me rolam dos cataráticos olhos.
Se eu pudesse ficava a vida toda neste Mosteiro e faria da MÚSICA o alimento para a minha alma, porque só a Eternidade chega aos calcanhares da música.
Obrigado, António, por tanta disponibilidade assim revisitada e sempre enaltecida.

 



publicado por animo às 22:50
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Terça-feira, 17 de Novembro de 2015
MATINAS

 

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MATINAS
De passagem por Belém, sem tempo para esperar que as neblinas te despertassem, de todo, eis-te aqui, adorada Ponte, sempre solícita, assim desnudada.
Obrigado por este voluptuoso pedacinho.

 

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MATINAS

Terá sido assim, voluptuosa, que acordaste há alguns anos, tal como hoje.
Então, eu vi.



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Segunda-feira, 16 de Novembro de 2015
VÉSPERAS

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Em cima, Entardecer, Alcochete.Ontem

Em baixo:
TITANIC.
Montijo, Frente Ribeirinha,entardecer. Ontem. 



publicado por animo às 19:23
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VÉSPERAS

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VÉSPERAS

Recosta a tua cabeça no horizonte, Sol.
Como pudeste imaginar que te ia pescar?.....

Foto.Montijo.Frente Ribeirinha.Entardecer, há instantes

 



publicado por animo às 19:15
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ABRAÇO-TE PARIS

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 ABRAÇO-TE PARIS!

Foto.Paris.Imagem colhida no Arco do Triunfo.Janeiro de 2014.



publicado por animo às 19:13
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WEBANGELHO SEGUNDO ANSELMO BORGES

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Pe Anselmo Borges
In DN 14Nov
JESUS E O VATICANO

1- Como se pode andar distraído! Como é que, tendo estado várias vezes na Praça de São Pedro, não fui ler o que está escrito no famoso obelisco, no centro da praça?! Foi preciso lê-lo agora em Jesús Bastante, que lembra que o obelisco veio do Egipto no ano 37 da nossa era, tendo sido trasladado, 15 séculos depois, do circo de Nero para o lugar que agora ocupa, fazendo o Papa Sisto V, em 26 de Setembro de 1586, gravar na sua base de mármore uma antiga fórmula de exorcismo: "Ecce crux Domini" (eis a cruz do Senhor), "Fugite, partes adversas" (Fugi, forças do caos) - um autêntico exorcismo, "Vicit Leo de tribu Juda" (o Leão da tribo de Judá venceu). Desse modo, a Praça de São Pedro delimitaria simbolicamente o enfrentamento entre o Bem e o Mal, "e o exorcismo impediria que o Demónio chegasse à sede de Pedro".

2- Desgraçadamente, não foi nem é assim. Constantemente lemos sobre os escândalos no Vaticano. E, infelizmente, não se trata de meras efabulações romanescas. Por isso, muitos se foram e vão perguntando como é que foi possível chegar até aqui. Gandhi também andou pelo Vaticano, olhou para aquilo tudo e conta-se que terá dito: se nem estes conseguiram acabar com o cristianismo, então o Evangelho de Jesus é verdadeiro. Ele distinguia muito bem entre o Vaticano e Jesus.

3- É urgente evangelizar o Vaticano. Mas há quem pergunte: Será a Cúria Romana reformável? O que é facto é que, após a publicação de documentos secretos, que denunciavam a existência de lutas pelo poder e pelo dinheiro entre membros da Cúria - o célebre VatiLeaks -, Bento XVI, num gesto histórico de imensa coragem, renunciou, pois, disse, já não tinha "forças físicas nem espirituais" para continuar. Na altura, L"Osservatore Romano referiu-se-lhe como "um pastor rodeado de lobos".

Seguiu-se o Papa Francisco, hoje talvez o homem mais popular do mundo e um dos mais influentes. Estimado, amado, querido, acarinhado por causa da sua bondade, da sua humildade, porque ele próprio estima e ama as pessoas, interessa-se por elas, quer a sua felicidade, bate-se por elas, não se poupa a sacrifícios por elas, a começar pelos mais débeis, pobres e abandonados. As pessoas vêem nele a manifestação do que Jesus foi e é, do que Jesus fez e faz, do que Jesus manda.

A Igreja tinha caído demasiado abaixo do que o Evangelho quer. Foi preciso impor tolerância zero para a pedofilia do clero - soube-se agora que a Igreja americana já pagou quatro mil milhões de dólares em indemnizações às vítimas - e caminha-se para reformas estruturais, a começar pela Cúria, que é um cancro na Igreja por causa dos escândalos do poder e do dinheiro. Já em 1965, durante uma entrevista privada, quando Paulo VI lhe propôs uma "oferta de trabalho", dizendo: "Deve confiar em mim", o famoso teólogo Hans Küng respondeu: "Eu tenho confiança em Vossa Santidade, mas não nos que estão à sua volta." O Papa Francisco sabe que há excepções, pessoas excelentes na Cúria, mas também sabe que vive num vespeiro. A quem se escandalizar peço que releia o discurso arrasador de Francisco sobre as doenças da Cúria, que aqui sintetizei. E aí está o VatiLeaks II, com a publicação, na semana passada, de dois livros com documentos secretos, incluindo conversas privadas de Francisco: Via Crucis, de G. Nuzzi, e Avarizia, de E. Fittipaldi.

Por um lado, é uma traição ao Papa, mas, por outro, ficam informações de que os lobos continuam actuantes, lutando pelas suas prerrogativas ameaçadas. Por lá moram ganância, corrupção, gestão danosa, contas milionárias sob suspeita, carreiristas, gente com uma vida dupla. Enquanto o Papa vive num apartamento de 50 metros quadrados, há cardeais e membros da Cúria em apartamentos de luxo até 400 metros quadrados. Os valores do arrendamento de imóveis a amigos podem ficar entre dois e cem euros. O custo das canonizações pode ultrapassar o meio milhão de euros. O pior: destinos obscuros de milhões de euros, que deviam ser para obras de beneficência.

4- No domingo passado, Francisco veio garantir aos fiéis que não cederá: "Sei que muitos estais perturbados com as notícias que circularam sobre os documentos confidenciais da Santa Sé roubados e publicados." Trata-se de "um delito, um acto deplorável que não ajuda. Eu mesmo tinha pedido que se fizesse esse estudo, e os meus colaboradores e eu conhecíamos muito bem esses papéis. De facto, foram tomadas medidas que começaram a dar frutos, alguns visíveis. Por isso, quero assegurar-vos que este triste acontecimento não me desviará do trabalho de reforma que estamos levando a cabo com os meus colaboradores e com o apoio de todos vós".

Esta reforma não apela apenas à conversão pessoal. Ela tem de ser estrutural: exige instâncias de controlo do poder, divisão de poderes. É preciso avançar sinodalmente, isto é, caminhar juntos: o povo todo de Deus, que a hierarquia deve servir.



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Domingo, 15 de Novembro de 2015
WEBANGELHO SEGUNDO FREI BENTO DOMINGUES

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Servir e não servir-se

Também na Igreja, há carreiristas e apegados ao dinheiro.

 

 

Dizem-me que a papolatria, que denunciei várias vezes nestas crónicas, morreu. Era um culto hipócrita usado para esconder as manobras anticristãs da Cúria vaticana e de algumas cúrias diocesanas. Quando o Papa Francisco manifestou que esses poderes arbitrários seriam desmantelados, os ratos não abandonaram a barca. Criaram redes, internas e externas, de sabotadores das iniciativas da liderança de Bergoglio.

Segundo essa opinião, não se trada da defesa da liberdade e do pluralismo na Igreja que, aliás, raramente tiveram um clima tão favorável. Procura-se semear alguns escândalos e multiplicar as insinuações para convencer os carreiristas clericais e os dirigentes de movimentos e instituições da Igreja de que o argentino está velho e um tumor no cérebro seria o responsável pelos seus desmandos doutrinais. A voz diária das missas na capela de Santa Marta, os discursos e as mensagens, a enumeração das quinze doenças da Cúria, desde a falta de autocrítica, avidez de poder, acumulação de bens materiais até à hipocrisia, não irão sobreviver a um funeral mais ou menos solene e próximo.

Confesso que essa tese me pareceu demasiado elaborada e vizinha das teorias da conspiração, mas foi o próprio Papa Francisco que, no passado domingo, dia 8, a confirmou, quanto ao essencial.

Após a celebração da missa de domingo, dirigiu-se aos fiéis, presentes na Praça de São Pedro, afirmando que sabe que muitos deles estão indignados com as notícias que têm circulado, nos últimos dias, sobre os documentos da Santa Sé que foram roubados e publicados. Nas primeiras palavras sobre o escândalo, o Papa indicou que foi ele que pediu para se fazer o estudo sobre as finanças do Vaticano e que sabia, tal como os seus colaboradores mais próximos, da existência dos referidos documentos. Tomaram-se medidas que já estão a dar frutos. Quero dizer que este triste facto não me afasta do trabalho e das reformas que estou a realizar com os meus colaboradores e com o vosso apoio. O papa disse ainda que a Igreja se renova através da oração e com a santidade quotidiana de cada batizado. Pediu aos fiéis que rezassem por ele e pela Igreja, avançando com confiança e esperança.

O inquérito sobre o caso já levou à detenção, no fim-de-semana passado, do sacerdote espanhol Lúcio Ángel Vellejo Balda e da italiana Francesca Chaouqui, entretanto libertada.

  1. O que mais aborrece o Papa Francisco, como declarou na homilia do dia 6, em Sta Marta, é uma Igreja morna, ensimesmada, com avidez de negócios, sem escrúpulos. Essa não é uma Igreja que está ao serviço, mas que se serve daqueles que deveria servir.

Na sua homilia, pediu ao Senhor que nos dê a graça que deu a Paulo, cuja honra era ir sempre mais longe, renunciando às regalias e às tentações farisaicas de vida dupla: apresentar-se como ministro do Evangelho, como aquele que serve, mas no fundo estar a servir-se dos outros, a exibir-se.

Também na Igreja, há carreiristas e apegados ao dinheiro. Quantos sacerdotes e bispos não vimos já assim? Sei que é triste dizer isto, mas também quanta alegria ao ouvir as narrativas daqueles e daquelas que, desde a Amazónia a África, me vêem dizer, sorrindo, que “há 30 anos sou missionário, missionária” ou que “há 30 ou 40 anos sirvo em centros hospitalares pessoas com necessidades especiais”. Isto é aquilo que Paulo fez: servir. Igreja que não serve torna-se Igreja mercantil!

  1. Hubert Wolf [1], ao falar na Igreja-Reforma da cabeça e dos membros, chama a atenção para o seguinte: “um Papa que aplica em si mesmo o projecto de oposição à rica e faustosa Igreja papal – isso tem uma potência explosiva. Francisco precisará de aliados influentes para impor as suas reformas, de modo a que não lhe aconteça o mesmo que ao seu antecessor Adriano VI: este Papa nascido em Utrecht ficou marginalizado em Roma. O seu estilo de vida simples, que abdicou de toda a pompa da autoencenação papal, a sua austeridade e a sua humilde piedade foram rejeitados pela Roma renascentista. As suas ideias radicais de reforma ameaçaram a alteração do estilo de vida de cardeais e prelados que se viam mais como príncipes do Renascimento do que como homens da Igreja. Assim, não tardou muito até que as Eminências lamentassem, num momento de fraqueza e impulso religioso, ter elegido um reformador e começassem a torpedear todas as suas iniciativas. Adriano VI morreu derrotado, após um pontificado de escassos treze meses. É de Plínio, o Velho, uma frase que Adriano citava regularmente durante o seu pontificado e que foi inscrita no seu túmulo [2]: Ah, como influem os tempos na eficácia dos actos até do melhor dos homens”.

 



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Domingo, 8 de Novembro de 2015
WEBANGELHO SEGUNDO FREI BENTO DOMINGUES

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800 anos é muito tempo!

Cada sociedade tem a sua história e reescreve-a à medida que ela mesma muda.

1. Continuam a perguntar-me o que significa o acrescento, O.P., à minha assinatura, nomeadamente nestas crónicas.

 Explico. Em 1953, no Convento de Nossa Senhora do Rosário, em Fátima, abrindo o tempo de Noviciado, o Prior conventual, numa celebração comovente, perguntou-me: que pedis? A misericórdia de Deus e a vossa, respondi.

Disse-me que esperava que já tivesse recebido a misericórdia de Deus, mas a da Ordem dos Pregadores (O.P), não era incondicional. Depois de um tempo de experiência, haveria uma avaliação recíproca e nela se veria se queríamos continuar juntos ou não. Entretanto, Frei Bento passava a sobrepor-se ao nome que usara até esse dia.

Não estranhei muito, pois o padroeiro da minha aldeia é S. Bento e muito perto havia a romaria de S. Bento da Porta Aberta, a mais importante do norte de Portugal. Por outro lado, o meu irmão chamava-se Domingos e ao entrar na Ordem fundada por S. Domingos, passou a chamar-se Frei Bernardo!

 2. Dou agora esta explicação, porque ontem, em Fátima, no Convento que há 62 anos me acolheu, participei na abertura do Jubileu do VIII Centenário desta Ordem a que pertenço. O Papa Honório III reconheceu-a, mediante algumas Bulas de recomendação (1216 e 1217), como a Ordem dos Pregadores (O.P.).

Vale a pena atender a esta designação cuja história sempre me fascinou. Fala-se, com frequência, da Ordem de S. Domingos, da Ordem Dominicana e, para abranger todos os seus ramos, da Família Dominicana. É verdade que o seu fundador foi São Domingos de Gusmão (1170-1221). Era castelhano, viveu em França e morreu em Itália. Em muito poucos anos, rodeado de alguns companheiros, decidiu responder a uma lacuna grave na Igreja do seu tempo: a pregação do Evangelho ao povo que reclamava a reforma de uma Igreja feudal.

Existiam, é certo, várias tentativas para enfrentar a situação minada pela heresia cátara, maniqueia. As tentativas existentes não seguiam nem o caminho nem o estilo de Jesus Cristo e dos Apóstolos. Ao propor o Evangelho, atraiçoavam-no. O grande poeta, Francisco de Assis, encontrou um caminho: seguir nu o Cristo nu. Domingos de Gusmão era um teólogo e viveu os primeiros anos de pregação missionária no Sul da França com um bispo espanhol extraordinário, Diego de Acebes. Quando este regressou a Espanha, Domingos ficou sozinho até decidir fundar a Ordem dos Pregadores.

Esta designação não encontrou bom acolhimento em Roma. Por uma razão simples: a Ordem dos pregadores era a ordem episcopal. Que surgissem fundações dedicadas à pregação, era desejável. Domingos, no entanto, não aceitou uma bula papal que recomendava a sua fundação, como de irmãos que pregam (praedicantes). Ele queria uma fundação de irmãos cuja vocação e ofício era a pregação e não a de meros pregadores eventuais. Por isso, conseguiu que a bula fosse raspada e por cima de praedicantes, o Papa tenha mandado escrever Praedicatores.  

Isto pode parecer um pormenor, mas não é. Estava em jogo a própria essência desta nova e insólita ordem religiosa.

3. S. Domingos não queria palradores. Desejava pregadores, pessoas que no silêncio, na oração, no estudo se deixassem transformar pela graça da Palavra feita carne, para a salvação do mundo. Ficou cunhada para sempre a expressão sintética deste carisma: contemplar e anunciar a Realidade contemplada.

Para transformar os sonhos em realidade, o santo castelhano decidiu, com os seus companheiros, que a Ordem dos Pregadores seria uma instituição democrática. As suas Constituições e Ordenações poderiam ser sempre revistas, mas segundo regras estabelecidas para e pelos Capítulos Gerais. Para unir as leis humanas e a fidelidade à graça do Evangelho, os Capítulos reuniam-se no Pentecostes.

A democracia dominicana permite o melhor, mas cede ao pior quando atraiçoa o seu carisma e se abandona à vontade de dominar. Todas as vezes que, ao longo dos séculos, soube ver e escutar a novidade dos sinais dos tempos; sempre que a fidelidade às suas origens foi vivida nas novas fronteiras do presente, a Ordem dos Pregadores foi espantosamente criativa. Quando, pelo contrário, confundiu fidelidade com repetição e se deixou manipular pelos poderes da igreja ou da sociedade, ofendeu o seu carisma.



publicado por animo às 18:46
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