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RTP MOSTRA INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA DA EPM
A NÍVEL LOCAL MAS TAMBÉM EUROPEU (PROGRAMA ERASMUS+)
Para os amigos da ânimo (que sabem da minha actual colaboração com a EPM-Escola Profissional do Montijo) aqui fica este recadinho:
Logo, na RTP1, entre as 18 e as 19, está prometida a divulgação de uma alargada reportagem sobre a EPM e a sua acção formativa quer a nivel da própria EPM quer a nível europeu e o seu pioneiro papel a nível dos programas ERASMUS+ (prevista para este ano a vinda de 500 alunos de vários pontos ds Europa.Neste momento estão em acção três grupos de estudantes romenos de diversas áreas).
A não perder, portanto.
antónio colaço
O Papa Francisco compreendeu que era preciso pôr a Igreja a mexer
1. Graças a Deus, há sempre algum amigo que se julga encarregado de me chamar à “realidade”. Convidado para umas mini férias na Semana Santa, observei que, para mim, não era a melhor altura. O amigo não me largou sem uma viagem pela sua visão do mundo, em forma de sermão, que passo a resumir: isto já não vai com cerimónias, nem com as da Páscoa, nem com as outras. Estamos cercados de guerras por todos os lados e sem qualquer proposta para enfrentar a desordem mundial em que estamos mergulhados. A paixão pela dominação económica e financeira não recua diante de nada. O apelo aos direitos humanos tornou-se uma invocação de rotina.
A chamada UE já não sabe para que nasceu. A promovida divisão entre a Europa rica e a Europa pobre - divisão reproduzida também dentro de cada país – fabricou a burocracia que esvaziou o seu desígnio primeiro. Esquecida da responsabilidade solidária, parece que nenhuma refundação a poderá salvar. Continuaremos na dúvida se vale a pena discutir a dívida.
Por outro lado, com a recusa, ao longo do tempo, em resolver o conflito israelo-palestino, sucederam-se, no Médio Oriente, loucas intervenções norte-americanas e europeias. O Ocidente, de alma vazia, confrontado com as estratégias terroristas de poder político-religioso (daesh), discute na Europa, a partilha dos refugiados. Nos Estados Unidos e no norte europeu crescem os desejos de muralhas salvadoras.
Agradeci este rápido percurso. Observei que, perante ameaças de guerra ou de catástrofes, nunca há dinheiro para as soluções razoáveis e baratas. Surgem sempre financiadores da estupidez desumanizante e nunca faltarão propostas de negócio depois do desastre. O sofrimento humano não conta e os mortos não se queixam.
2. Ao contrário do que pensa este amigo, não existem apenas celebrações vazias, onde não acontece nada, que se esgotam na encenação do seu teatro mais ou menos cuidado. Não é decisivo saber se tudo se passou, do ponto de vista histórico, como vem narrada, nos Evangelhos, a Paixão de Jesus Cristo.
Recorde-se que, no povo judeu palestino, desde os finais do séc. I a. C até ao séc. II d. C., surgiram diversos movimentos libertadores, directamente políticos ou proféticos. Eram, por isso, variadas as figuras messiânicas: chefe político libertador, em geral de ascendência de David; um profeta proclamando a vontade de Deus e actuando com sinais específicos ou, ainda, a de sacerdote à frente da nova e definitiva comunidade teocrática, com Deus como único soberano.
Segundo as circunstâncias e no meio de tantas propostas polémicas, é normal que os judeus que reconheceram em Jesus de Nazaré o Messias tivessem o cuidado de reconfigurar a originalidade de Jesus como Cristo, como Messias [1].
A celebração da Eucaristia estava enquadrada numa nova forma de entender e praticar a vida cristã, nas suas diferentes comunidades, como se pode ver na narrativa dos Discípulos de Emaús [2].
Não era apenas, nem sobretudo, a reprodução de uma cerimónia estereotipada. S. Paulo, que apresenta a narrativa mais completa da Ceia do Senhor [3], fez também o protesto mais acutilante contra a prática de descriminação social na celebração da Eucaristia, que ele próprio recebeu e transmitiu à comunidade de Corinto.
As comunidades joaninas celebravam, como todas as outras, a Ceia do Senhor em termos muito próximos da narrativa transmitida por S. Paulo. No entanto, no 4º Evangelho, a Ceia termina com o gesto que exprime a transformação que a Eucaristia semanal deve produzir nos seus participantes: a prontidão para o serviço [4]. Quando se diz: fazei isto em memória de Mim, com o Lava-pés afirma-se que a memória da Igreja terá de ser, no futuro, a reinvenção desta prática e não apenas uma colecção de ritos. Daí a discussão com Pedro, que não estava a gostar nada do programa incluído no gesto despropositado do Mestre. Ao referir apenas o Lava-pés dos discípulos, enuncia-se a lei geral do Cristianismo: a árvore conhece-se pelos frutos.
3. Diz-se que o Papa alterou o ritual da 5.ª feira Santa: as mulheres já podem ser incluídas na cerimónia do lava-pés. É uma forma miserável de anestesiar e reduzir o sentido da intervenção do Papa. A alteração que o seu gesto visa provocar não é de tipo ritual, mas de acção transformadora. Pertence ao seu programa de ver o mundo a partir dos excluídos. Levar o centro às periferias.
O Papa Francisco compreendeu que era preciso pôr a Igreja a mexer, como Maria Julieta Mendes Dias e António Marujo intitularam o 4.º volume da selecção das minhas crónicas [5], cuja realização só tem sido possível pela sua grande competência e extraordinária dedicação. Recolheram muitos anos da hospitalidade do Público e de esforço empenhado de Guilhermina Gomes.
O gesto chocante de Jesus, próprio de um escravo, tinha sido neutralizado pelo ritual. O Papa Francisco restituiu-lhe a força de interpelação. Ao questionar a sua solenidade aos pés de gente, aparentemente, pouco recomendável, fez dele a bússola da Igreja.
[1] Senén Vidal, Evagelio y cartas de Juan, Mensajero, Bilbao, 2013; Daniel Boyarin Le Christ juif, Cerf, 2007; Cadernos ISTA, Messianismo: ontem e hoje, nº 14, 2002
[2] Lc 24, 13-35
[3] 1Cor. 11,17-29
[4] Jo. 13
[5] Frei Bento Domingues, O.P., Francisco o Papa que põe a Igreja a mexer, Temas e Debates, 2016
PAI DE MIM QUE PAI ME TORNASTE, obrigado, Zé Jacinto, pá!
Ah!, Messejanense dos sete costados, moras PARA SEMPRE no meu coração!
Pe Anselmo Borges
In DN 19.03
A PAIXÃO E A POLÍTICA
Pascal observou agudamente nos Pensamentos: "Jesus estará em agonia até ao fim do mundo; é preciso não dormir durante este tempo." Todos sabemos do "calvário" do mundo, e as personagens são as mesmas.
1. Jesus sabia que, a continuar nas suas palavras, atitudes e comportamentos, o que o esperava era a morte, condenado pelos poderes religiosos e políticos. Assim, realizou uma ceia, a Última Ceia: "Isto é o meu corpo", "este é o cálice do meu sangue". Aquele pão e aquele vinho são a sua pessoa entregue, para dar testemunho da Verdade e do Amor.
2. Judas era discípulo, mas sentiu-se enganado, porque Jesus não tomava o poder. Assim, entregou-o, tendo recebido trinta moedas de prata. Depois, perdido, enforcou-se. De que valera aquilo? Mas o dinheiro, em conluio com o poder político, continua a ser o móbil da entrega de milhões de inocentes à ignomínia e à morte.
3. Fora Caifás, o sumo sacerdote, que dera este conselho: "Interessa que morra um só homem pelo povo." Tinha medo do poder dos romanos. Quantos inocentes não foram e são vítimas da razão de Estado ao longo dos tempos!
4. No Getsémani, Jesus entrou em pavor e angústia, pôs-se a rezar instantemente e suou sangue. Deus aparentemente não o ouviu, até os discípulos mais íntimos adormeceram. Todos, de um modo ou outro, fomos, seremos, confrontados com horas do horror da solidão mortal.
5. Jesus é condenado em primeiro lugar pela religião oficial, cujos sacerdotes viram os seus poderes e privilégios ameaçados. Do pior que há: viver à custa da religião e condenar à humilhação, à submissão e indignidade, à violência, à morte, utilizando o santo nome de Deus.
6. Pedro era um homem espontâneo, amigo e generoso. Tinha prometido que acompanharia Jesus para todo o lado. Seguiu-o de longe até à casa do sumo sacerdote. Aí, uma criada atirou-lhe: "Esse também estava com ele." Pedro acobardou-se e negou o Mestre. Depois, recordou-se da palavra de Jesus: "Antes de o galo cantar, negar-me-ás três vezes." "E, vindo para fora, chorou amargamente." Ainda hoje aparece por vezes um galo nas torres das igrejas lembrando o facto. Pedro foi o primeiro papa. A Igreja está assente na fé de Pedro, uma fé vacilante e sempre ameaçada. "Senhor, aumentai a minha fé."
7. O conselho dos anciãos do povo, sumos sacerdotes e escribas levaram Jesus ao seu tribunal. Não tendo poder para o executar, entregaram-no a Pilatos, o governador romano, representando o império. Pilatos ter-se-á apercebido da inocência de Jesus. Mas, ao ver que os judeus se não calavam e que podiam acusá-lo ao imperador, lavou as mãos e mandou crucificá-lo. Pilatos é talvez o nome mais repetido ao longo dos séculos, porque está no Credo. Lavou as mãos, proclamando inocência. Mas elas estão manchadas pelo sangue de um poder cobarde. Ainda hoje se diz de alguém que se encontra num lugar indevido: "Está ali como Pilatos no Credo."
8. A multidão gritava: "Crucifica-o, crucifica-o." No Domingo de Ramos, tinha aclamado Jesus: "Hossana, hossana ao filho de David!" Não se pode confiar nas multidões: são volúveis, interesseiras, manipuláveis. No fim, preferiram Barrabás.
9. Ao saber que Jesus era galileu, Pilatos remeteu-o a Herodes, que se encontrava naqueles dias em Jerusalém e que tratou Jesus com desprezo. Herodes e Pilatos ficaram amigos, pois antes viviam em mútua inimizade. Interesses comuns, políticos, económicos e outros, podem levar ao corte de relações ou à amizade. Mas será amizade mesmo?
10. Simão de Cirene foi obrigado a carregar com a cruz. Na via dolorosa da vida, também há cireneus, gente que apoia, por vezes até forçada. Mas apoia.
11. Os soldados riram-se, fizeram chacota e imensa troça de Jesus. Afinal, a sua própria vida não era feliz.
12. As mulheres, talvez porque são mais cuidadoras da vida e amem mais, foram as únicas que não fugiram e estiveram sem medo junto à cruz.
13. Mesmo no final e na suprema dor, os seres humanos comportam-se de modo diferente. Também foram crucificados dois malfeitores: um continuou a blasfemar, o outro reflectiu e pediu a Jesus que se lembrasse dele no seu Reino. O centurião deu glória a Deus: "Realmente este Jesus era justo."
14. No total abandono, Jesus perdoou a quem o matava, e rezou, a gritar, perguntando, aquela oração que atravessa os séculos: "Meu Deus, meu Deus, porque é que me abandonaste?" Deus não disse nada, mas Jesus continuou a confiar: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito."
15. Depois, os discípulos fizeram a experiência avassaladora de fé de que este Jesus crucificado está vivo em Deus, e acreditaram, porque Deus é Amor. Nasceu assim a esperança para todas as vítimas da história. Mas é em Sábado que vivemos: entre o horror da Sexta-Feira e a esperança do Domingo da Páscoa.
AS MÚSICAS DA MÚSICA
TOCATA Nº 2 PARA A REDENÇÃO DAS ALMAS OBSERVADAS
Desculpa-me, Irmã Música, mas nunca como nesta noite de 16 de Março recorri a ti como refúgio derradeiro para a serenidade que quero manter.
Obrigado por não me teres rejeitado....
Sei que foste tão bem tratada ao longo dos tempos por grandes mãos que de ti souberam arrancar grandes e esplendorosos momentos de tão inumeráveis quanto agradáveis sons.
Por mim, só te agradeço que não me tenhas feito tremer as minhas cada vez mais artríticas mãos e mesmo que não te tenhas deixado levar pelas duas lágrimas furtivas quais colCHEIAS cheiaS de raiva e de algum lamento.
Raiva e lamento pela sem vergonhice e mesmo, por que não confessá-lo, raiva e lamento pela canalhice e desplante de que fui alvo por parte de algumas pessoas em quem acreditei.
Resta-me agradecer a tua gratuidade numa altura em que, cada vez mais, a criatividade tem de seguir o seu caminho, sem olhar às deslumbradas lentilhas com que tentam seduzi-la a todo o custo.
antónio colaço
NR
Sugiro a utilização de auscultadores para que nada se perca do excelente Órgão da Matriz do Montijo, o qual me segredou alguma satisfação pela violenta execução, a suficiente para conter a minha incontida presunção.
Obrigado.
VÉSPERAS
Confirmo que esta imagem foi colhida há poucos instantes, fruto da minha atenta e privilegiada o-b-s-e-r-v-a-ç-ã-o da irmã Natureza junto ao Mar da Palha, em Alcochete.
Ao fundo, esforçadamente, homens e mulheres , muitos deles vindo do Leste, perscrutando as esquinas da policia marítima no horizonte, escavam nas lodosas e lamacentas areias as pepitas que tornarão mais dourados os seus dias.
É isto que me dá gozo, pôrra, OBSERVAR o que ACONTECE, aqui como em qualquer outro lugar, quem sabe, umas vezes mais do que outras, com uma esganada vontade de FAZER ACONTECER dias melhores e mais dignos para todos os que só querem viver em paz.
Chamo-me antónio colaço, pôrra, outra vez!
Ainda persiste o gosto de novas formas de apedrejar “suspeitos” em praça pública.
1. Bergoglio, desde que foi nomeado bispo de Buenos Aires, empenhou-se em transfigurar, a partir da sua prática, o imaginário religioso do confessionário. Viu que era preciso fazer dos lugares de tortura psicológica e moral espaços e tempos de festa, mediante a manifestação da misericórdia infinita de Deus no comportamento dos confessores.
O sacramento de reconciliação tem e teve muitos nomes, até o de "tribunal". Numa aula de teologia dos Sacramentos, um estudante, ao ouvir tal designação, exclamou: só podia ser um tribunal fascista! Para o Papa Francisco, o confessionário tornou-se um dos lugares da prática mais profunda da sua teologia da libertação e da sua actuação pastoral.
No passado dia 9 de Fevereiro, na celebração da Eucaristia, rodeado de franciscanos Capuchinhos, disse-lhes directamente: "a vossa tradição é a do perdão, oferecer o perdão". Só aquele que se sente pecador pode ser um grande perdoador no confessionário. Os que se julgam puros e mestres sabem apenas condenar.
O argentino universalizou depois, de modo coloquial, a sua exortação [1]: "Falo-vos como irmão e, em vós, gostaria de falar a todos os confessores, especialmente neste Ano da Misericórdia: o confessionário existe para perdoar. Se tu não puderes dar a absolvição — admito esta hipótese — ‘não maltrates!’ A pessoa procura conforto, perdão, paz na sua alma; quer encontrar um sacerdote que a abrace, lhe diga e lhe faça sentir: ‘Deus ama-te!’ Lamento ter de o dizer, mas quantas pessoas se queixam — creio que a maioria de nós já terá ouvido esta observação: ‘nunca me vou confessar porque certa vez me perguntaram, fizeram-me isto e aquilo .’ Por favor!"
Finalmente, com humor carinhoso, apresentou o exemplo de um grande perdoador capuchinho que ele conheceu. Tinha sempre pessoas em fila de espera para se confessarem. "Uma vez, ao visitá-lo, disse-me: Tu és bispo e podes esclarecer-me: eu penso que peco porque perdoo demais; ando com este escrúpulo, mas encontro sempre o modo de perdoar". Que fazes, perguntou-lhe Bergoglio, quando te sentes assim? "Olha, vou à capela e, diante do tabernáculo, digo: desculpa-me, Senhor, perdoa-me, penso que hoje perdoei demais. Mas, foste tu, Senhor, quem me deu este mau exemplo".
2. O Sumo Pontífice aproveitou a ocasião para tornar o seu discurso ainda mais abrangente: "Existem outras linguagens na vida. Não há apenas a palavra. Temos também os gestos. Se uma pessoa se aproxima de mim, no confessionário, é porque sente algo que lhe pesa, do qual deseja libertar-se. Talvez não saiba como dizer, mas o gesto fala. Se esta pessoa se aproxima, é porque gostaria de mudar, deixar de fazer isto ou aquilo, de se transformar, ser pessoa de outra maneira. Isto é dito através deste gesto de aproximação. Não é preciso fazer perguntas do género: mas tu?... Se alguém se aproxima é porque na sua alma quer mudar. Mas muitas vezes está condicionada pela sua psicologia, pela sua vida, pela sua situação. Ad impossibilia nemo tenetur" (ninguém é obrigado a coisas impossíveis).
Com esta peça de antologia, Francisco desautorizou séculos de práticas de opressão pseudo-religiosa. No entanto, o que o preocupa é o presente e o futuro. Encerrou a sua homilia com uma exortação cheia de afecto responsabilizante: O perdão é uma carícia de Deus. Na Bíblia, o grande acusador é o diabo ou os que o imitam, os que têm gosto em acusar, como os escribas e os fariseus.
3. A cena evangélica deste domingo é muito conhecida e vai na mesma direcção. Levaram a Jesus, para lhe armarem uma cilada, uma mulher surpreendida em flagrante adultério [2]. O texto não está muito preocupado com questões jurídicas concretas a esse respeito [3]. O que lhe interessa é mostrar Jesus a desmascarar as pessoas que se julgam santas, cumpridoras exemplares das leis religiosas e que andam sempre à procura de poderem acusar alguém, no caso, escribas e fariseus. Hoje, ainda existem muitas sociedades que usam os mesmos bárbaros processos. Importa encontrar os meios adequados para varrer da face da terra essa vergonha.
A preocupação de Jesus era, pelo contrário, desmascarar a hipocrisia desses acusadores, prontos a matá-la à pedrada. Jesus escreve na areia com um desprezo infinito por aquele zelo bíblico. Desarma os atiradores com uma simples observação: Quem de entre vós estiver sem pecado atire a primeira pedra. Remédio eficaz: puseram-se todos a andar a começar pelos mais velhos.
Nas sociedades ocidentais, esta prática desarmada por Jesus já não é a mais comum. Em questões de sexo, vale tudo ou quase, embora o voyeurismo ainda alimente alguns meios de comunicação social. Mas o gosto perverso de acusar, de encontrar alguém em falta, dentro e fora das religiões, nos espaços sagrados ou profanos, diz-nos que os fariseus e os escribas ainda não são uma espécie em extinção. Quem dera! Mas ainda persiste o gosto de novas formas de apedrejar "suspeitos" em praça pública.
[1] Cf. L’Osservatore Romano semanal
(11.02.2016). A tradução, mesmo com arranjos, é sempre má. Os itálicos e as deslocações das aspas são da minha responsabilidade
[2] Jo 8, 1-11
[3] Cf. Deuteronómio 22, 13-29
A Eucaristia é um convite para a festa, para a festa de Deus revelada nos gestos e nas palavras de Jesus.
1. Segundo os evangelhos sinópticos [1], Jesus não deu nenhum contributo para o avanço das ciências, nem revelou um grande pendor metafísico, embora não faltem investigadores que, hoje, o reconheçam como um filósofo.
O facto é que não deixou nada escrito. A sua breve intervenção pública acabou num fracasso tão vergonhoso, que ninguém poderia descobrir alí qualquer caminho de futuro. Aconteceu que os seus seguidores, depois de várias crises, não recalcaram a sua memória. Alguns judeus continuaram a ver, naquele carpinteiro de Nazaré, o messias esperado; outros recusaram-no, o que nada tem de surpreendente. Passados dois mil anos, Daniel Boyarin, conhecido especialista do Talmude, observa que se há alguma coisa que os cristãos sabem bem a propósito da sua religião é que ela não é o Judaísmo. Se há alguma coisa que os judeus sabem bem a propósito da sua religião é que ela não é o cristianismo. Segundo esse professor de Berkeley, reexaminando as suas fronteiras, nem sempre foi assim nem tem que continuar assim [2]. Mais ainda: certos judeus que o tinham considerado um traidor, como aconteceu com Paulo de Tarso, acabaram por descobrir que Jesus era e é o Cristo de uma dimensão tal que não cabia nos horizontes de um só povo. As suas cartas são reconhecidas como os primeiros escritos cristãos. São textos de interpretação da significação de Jesus Cristo nas experiências de transformação da vida das comunidades cristãs.
Nas famosas Epístolas paulinas, o Jesus pregador da vinda do Reino de Deus reaparece como Cristo pregado, esperança da ressurreição e fonte divina de salvação universal, cósmica.
Os fogosos escritos de S. Paulo, deslumbrados pela fé no Ressuscitado, não apagaram, no entanto, a memória “histórica” de Jesus.
Dispomos de quatro narrativas, com objectivos, origens e estilos diferentes, mas com o mesmo assunto: Jesus de Nazaré, o amado de Deus cravado na Cruz e que a morte não pode conter. Os três Evangelhos sinópticos insistem em Jesus pregador da proximidade do Reino de Deus. Gosto de ler esses textos imaginando Jesus a contar histórias e a participar em acontecimentos subversivos.
Os historiadores preocupam-se em destrinçar o que se pode dizer de Jesus observando o método histórico e o que deve ser atribuído às reconstruções feitas a partir da fé das comunidades cristãs. Os textos dos Evangelhos testemunham de Jesus Cristo vivido nas antigas e novas experiências humanas das comunidades. Não cortam nem com a história nem com a realidade presente. As Escrituras crescem com os seus leitores. O real não é só o comprovadamente histórico.
Quando os pregadores repetem as leituras bíblicas da missa, atraiçoam a sua missão. Não fazem a ponte - nem pedem para ser ajudados a fazer essa ponte - entre o passado e a nossa actualidade tão complexa.
2. Neste Domingo, é proclamada a parábola do Filho Pródigo [3]. Espero que nenhum pregador a vá apresentar como uma boa prática a recomendar aos pais e educadores. Seria um desastre. Compensar e festejar os mais mal comportados!? Mas não há nada como ler essa bela narrativa de um filho estroina, um pai que perde a cabeça e do filho ajuizado, completamente indignado.
A linguagem das parábolas não é a dos catecismos nem a dos manuais de boas maneiras. Destina-se, no caso dos Evangelhos, a subverter as representações que temos de Deus e da religião. A nossa tendência é fazer um Deus à imagem dos nossos interesses. O que as parábolas dizem, sem dizer, é que a lógica de Deus é muito diferente da nossa mediocridade e justiça mesquinha.
A parábola não ensina, dá que pensar. Liberta a imaginação. Não nos deixa acorrentados às religiões que herdámos. A fé cristã, ao proclamar, na Eucaristia dominical, a parábola do Filho Pródigo vem dizer: não estraguem o Domingo! É a festa das pessoas em processo de transformação. A Eucaristia - o Papa Francisco tem insistido muito neste ponto - não é um prémio, uma recompensa para os bem-comportados, segundo um código de moral convencional. É um convite para a festa, para a festa de Deus revelada nos gestos e nas palavras de Jesus.
Pe Anselmo Borges
In DN 12.Mar
BEM-AVENTURADOS OS RICOS
1 Mais de mil milhões de pessoas têm de viver com menos de 1, 14 euros por dia. A cada dia morrem de fome entre 30.000 e 40.000 pessoas (16.000, crianças). Em 2015, 6% apenas da população detinham metade da riqueza do mundo, mas neste ano de 2016 a situação agravar-se-ia, pois aquele número desceria para 1%, o que significa que a distribuição da riqueza seria a mais desigual de sempre, disse o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Nos últimos anos, tem-se assistido ao aumento da concentração da riqueza nos bolsos de uma elite cada vez mais restrita: entre 2010 e 2015, a fortuna dos mais ricos aumentou em cerca de 44%, mas o património dos mais pobres diminuiu. Os pobres, apesar de, em geral, estarem menos mal, são cada vez mais pobres. É o que acaba de confirmar o relatório da ONG Oxfam: o 1% dos mais ricos tem 50,1% da riqueza mundial. As 62 pessoas mais ricas do planeta possuem tanta riqueza como a metade mais pobre da população mundial: 3.600 milhões.
Os famosos "mercados", com a financeirização especulativa da economia, potenciados pelas novas tecnologias e pela falta de uma governança global, fazem, numa linguagem esotérica, inacessível ao leigo, jogos que causam crises em cadeia e que os mais pobres acabarão por ter de pagar. E também há trafulhice explícita, sendo um exemplo disso (só um exemplo) o construtor automóvel Volkswagen, que fez batota, ao falsear as emissões dos motores em caso de teste, derrubando assim, como lembrou A. Lacroix, a teoria de Max Weber, segundo a qual a Europa do Norte seria "mais séria e virtuosa" do que a do Sul.
2 Portugal vive e participa neste mundo caótico e explosivo. Os casos de corrupção sucedem-se. A distância entre os muito ricos e os pobres é uma das mais acentuadas da UE. Continuam as cumplicidades entre a política, os boys e os negócios. São por vezes escandalosos os salários e as benesses dos gestores da banca e públicos: alguns gestores públicos viram salários aumentados em 150%. O IRS subiu em média, desde 2012, 28%, mas apenas 5% para os milionários. Não se entende muito bem as subvenções vitalícias de políticos - os ex-Presidentes da República são, evidentemente, um caso especial, mas, mesmo assim, têm privilégios a mais. Leio que o resgate de bancos já custou aos contribuintes 16.000 milhões de euros. Soube-se agora: a banca concedeu quase 30.000 milhões de euros sem qualquer garantia, e pergunta-se quem vai pagar e sobretudo como se vai gerir a descredibilização da banca, que, por natureza, deveria ser o espaço da confiança. A situação do sistema financeiro é dramática. De modo geral, as "elites" são incompetentes, autocentradas, distanciadas do "povo". E assiste-se a isto tudo no meio da impotência. E faltam, na expressão de Adriano Moreira, "vozes encantatórias". O Papa Francisco seria uma excepção.
3 Jesus disse que não se pode servir ao mesmo tempo ao Deus vivo e ao deus Dinheiro. Referindo-se ao capitalismo selvagem, o filósofo G. Agamben veio recentemente dizer que, "para entendermos o que está a acontecer, é preciso tomar à letra a ideia de Walter Benjamin, segundo o qual o capitalismo é, realmente, uma religião, e a mais feroz e implacável que alguma vez existiu, porque não conhece nem redenção nem tréguas. Ela celebra um culto ininterrupto, cuja liturgia é o trabalho e cujo objecto é o dinheiro. Deus não morreu, tornou-se Dinheiro".
Jesus também declarou bem-aventurados os pobres em espírito (não de espírito), os limpos de coração, os que têm fome e sede de justiça, os que se batem pela paz, os misericordiosos... Mas essas bem-aventuranças entraram em desuso (alguma vez estiveram em uso?). O que está em vigor são as bem-aventuranças ao contrário, como escreve Jesús Mauleón: "Bem-aventurados os ricos, porque têm "massa", manjares, luxo e abundância para pagar todas as suas necessidades e caprichos. Bem-aventurados os ricos, porque muita gente crê que são mais respeitáveis do que os pobres. Bem-aventurados os ricos, porque podem permitir-se ter à sua volta gente que os serve e lhes recorda que o são. Bem-aventurados os ricos, porque, embora neste mundo nem tudo se possa comprar com dinheiro, pode-se comprar tantas coisas e tantas pessoas... Bem-aventurados os ricos, porque, quanto mais dinheiro acumulam, embora não seja muito claro como, mais espertos parecem." Etc.
4 Mas, dito o que aí fica dito, e talvez por isso mesmo, por causa do que aí fica dito, é preciso entre nós seguir uma política realista, prudente. Porque, se tivermos de ir para outro resgate, também precisaremos de nos preparar para o pior. De facto, quem mais sofrerá são a classe média e os pobres. Há uma coisa terrível para a qual preveniu Bismarck, ao dizer que, com as bem-aventuranças do Evangelho, não conseguia governar a Prússia. É que, na Bíblia, o autor da Primeira Carta a Timóteo também já prevenira: "a raiz de todos os males é a paixão pelo Dinheiro".
IN MEMORIAM ZÉ JACINTO
E vão 24 anos que nos deixaste, quero dizer, que quiseste ficar entre nós PRESENTE de uma outra maneira.
Partiste numa sexta, dia 13, só podias, tu, para quem a sorte foi madrasta mas, azar dela, sorte a nossa, nunca em ti encontrou queixume algum.
Querido Pai, Zé Jacinto, Zé Padeiro, cidadão do mundo, cá um beijo pá!...
Já agora, Maria José, Maria dos Remédios, não fiques ciumenta, querida Mãe, os beijos para o teu homem nossos beijos são. Cá beijiiiiiiiiiiiiiiiiinhos também.
in memoriam Nicolau Breyner
OBRIGADO, NICOLAU
É assim, no instante de um clic, zás, alguém dá pela nossa partida.
Agora mesmo a ser surpreendido pela noticia do Sapo....
(Foto, sapo).
MONTIJOS & REGOZIJOS
Ei-las, esplendorosas, como sempre.
Bem-vindas, irmãs glicínias.
Foto.Montijo, Praça da República.
ONDAS GALOPANTES NO MAR DA PALHA
Estás de regresso a casa. O Sol, hoje, para as bandas de Alcochete, parece não "estar a dar nada" de significativo, quero dizer, de Belo.
Oportunista, diz uma voz no mais íntimo de ti, lá bem no mais íntimo onde te dás conta do Belo, de todas as situações de Beleza.
Resolves cruzar para a direita, a caminho da futura Praia do Sal, entre Alcochete e o Samouco, e....eis que te surgem, vindos da tua esquerda, relinchando, meia dúzia de velozes cavalos.
Levantas as mãos aos céus, perdão, pegas no sony z3 e zás, zás,zás.
Um pequeno exercício a partir de inesperadas imagens.
Um pequeno hino ao sol posto da Praia de Alcochete.
antónio colaço
PODEMOS DAR-NOS AO LUXO
NOS TEMPOS QUE CORREM
DE DIZER QUE NOS DISPENSAMOS
DE UMA PARTICIPAÇÃO ACTIVA NA POLÍTICA?
Foi esta a grande questão lançada por Vitor Soromenho Marques na concorridíssima sessão de lançamento do último trabalho de António José Seguro "A reforma do Parlamento Português", edição Quetzal.
2
A sensação do "regresso" de Seguro perpassou em toda a sala.
Seguro, no final, aos jornalistas, nada disse.
Nada adiantou.
Nós próprios quisemos uma antecipação e a resposta foi clara "ainda não"!
Para o Presidente Marcelo, que disse um dia de Seguro " não ter nenhuma ideia na cabeça", este lançamento, precisamente no dia a seguir à sua entronização, poderá ser uma resposta.
(Marcelo, o comentador, já não poderá divulgar o livro na TVI).
3
De que mais sinais precisam "os discípulos" ( Soromenho falaria no "Mestre" Seguro, esta foi a sua tese de Mestrado...) para acreditar que o seu Mestre, afinal, está vivo?!
A reportagem.
Para ver e ouvir.
antónio colaço
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