Ainda sem palavras, Rui. Esta era a notícia que, de todo, ninguém esperava. A última vez que falámos foi na despedida da tua Teresa, ali para os lados do crematório de Sacavém. Amanhã, pelas 14 horas, lá nos reencontraremos outra vez...... Um abraço solidário aos teus putos, Hugo e Pedro.
Outro para todos os teus coralistas do nosso querido Orfeão de Abrantes e também de Ponte de Sor.
Só agora tropecei na tua dedicada reportagem sobre a inauguração da minha exposição "LISBOAS", em Abril de 2012. Creio que é a primeira vez que me debruço de forma empenhada sobre esse tempo cheio de tantas e tão saborosas memórias. Obrigado, Manel!... Obrigado, Sofia Silva pelo teu tão generoso quanto criativo bailado!
ABANÕES DE ABRIL! O QUE FAZ FALTA É ABANAR A MALTA!
ABANÕES DE ABRIL!O QUE FAZ FALTA É ABANAR A MALTA!
Inspirado no "abanão" do Presidente Marcelo, aqui está o contributo deste humilde artista plástico. Vai um abanãozinho?! O QUE FAZ FALTA É ABANAR A MALTA!!! Pim!
Pronto, eis a imagem com que me despeço das comemorações de Abril, que não do espírito de Abril. A imagem que eu próprio gostaria de ter feito.O Presidente Marcelo de cravo na mão. (Alguma má lingua preparava-se para desancar em Marcelo questionando, de véspera, se ele levaria o cravo na lapela!!!) Marcelo chegou para todos e, muito mais, desfolhou Abril aos molhos! Obrigado, Senhor Presidente! Pela última vez, JE SUIS MARCELO!!!
(Foto.Intervenção plástica a partir de foto de Enric Vives-Rubio, Público)
Tudo está consumado. Hoje, o Sol deita-se mais descansado. Em Portugal, agora, o Sol quando nasce é mesmo para todos, como reafirmou o Presidente Marcelo!
Reedito a celebração dos 40 anos de Abril. Quarenta anos depois regressei ao Quartel de onde nos acordaram para o ABRIL de um país 48 anos adormecido! 2 Nesta edição da ânimo/blog, a história de uma Exposição que, afortunadamente, pude realizar no velhinho Quartel da EPAM, naquela data, mas que ficará nos anais dos meus tantos fracassos: a Exposição que ninguém viu, ninguém inaugurou, porque queríamos todos ir para a Avenida da Liberdade! Fica o registo, que não,como diz o Pedro Mexia, o fraco consolo de uma exposição falhada. Ela celebrou ABRIL porque Abril EXISTIU, EU ESTIVE LÁ e isso, ao fim e ao cabo, foi o mais importante!
Ao meu querido amigo José António Rosado o meu obrigado. Pá, o que lá vai lá vai!!! antónio colaço
(Reafirmo o que escrevi há dois anos! Porque Abril é uma marca que sobrevive ao Tempo, a todos os tempos. Sobrevive a todo os equívoscos, às hesitações, aos excessos, às polémicas e até aos desvios mas....ABRIL, o glorioso dia 25 de Abril de 1974, nesse NINGUÉM LHE TOCA porque eu não deixo! Porque EU ESTIVE LÁ!! Quase me apetece dizer, parafraseando alguém..."quem se meter com o 25 de Abril...leva!!!!
Obrigado, Otelo, obrigado a TODOS os generosos militares de Abril! antónio colaço)
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O animador de serviço concluiu, em face de tudo o que aconteceu, hoje, ali para as bandas do RES PUBLICA, de que uma prévia pequena declaração de interesses, em nome do máximo de verdade porque aquilutamos, era recomendável.
É o que em três rápidas pinceladas se faz: o jornalismo de proximidade rege-se pelo Código Deontológico dos Jornalistas, porém, hoje, só hoje, tantos anos volvidos, o jornalista não consegue, por instantes, deixar de lado o soldado cadete que em Abril de 1974, na EPAM, ao Lumiar, teve o privilégio de participar activamente na data libertadora de um país amordaçado, tomando conta das instalações do maior aparelho de propaganda do Estado salazarento de então, a televisão. À minha frente – hoje, a primeira pessoa é a regra, também - tenho, finalmente, e depois de Vasco Lourenço, com quem iniciámos este ciclo, um dos líderes do então MFA tantas vezes mitificado, outras tantas crucificado, por vezes pondo-se a jeito, como costuma dizer-se, mas sempre, uma das decisivas vozes de comando da mudança de rumo que viria a ter lugar e para sempre nos devolveria a Liberdade.
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Como é hábito oferecemos aos nossos convidados uma pequena caixa pintada pelo nosso próprio punho, com o símbolo da ânimo e com um dedal de licor de poejo no seu interior. Hoje, face à polémica instalada pela últimas declarações de Otelo, decidimos oferecer-lhe duas caixas/algarismos, como documenta a imagem, para que Otelo jamais se esqueça…. do 25 de Abril!
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A conversa decorreu animada mas, desde logo, bem afastada do clima de ajuste de contas para que apontavam algumas das questões colocadas pelos leitores e centrada, sim, sobre os desafios que se colocam nos angustiantes dias que vivemos.
Curiosamente, no diálogo que se seguiu com os comensais, dois dos participantes, ambos militares, colocaram algumas questões que pareciam ressuscitar de novo aquilo que, avisadamente, tínhamos alertado não desejávamos, de todo, acontecesse.
Quer isto dizer que devemos ignorar o passado? Nada disso, mas na ânimo, e na linha do que aqui reafirmou FreiBento Domingues, está na hora de puxar “por aquilo que cada um tem de melhor dentro de si!”
A conversa que vai ver e ouvir com Otelo é a prova provada do que afirmamos. Mais do que a procura da cacha gratuita, quisemos, seja-nos permitida a expressão, devolver à sociedade o melhor que continuamos a descobrir em Otelo, a sua generosidade, mesmo que tropeçando, aqui e ali, nalguma salutari ngenuidade.
Pudemos, assim, comprovar e reforçar com a nossa palavra, o quanto era importante a presença dos militares de Abril nas comemorações que vão ter lugar, este ano – com alguma originalidade, diga-se - no Palácio de Belém.
O lead desta conversa é a prova provada do que afirmamos. Mas é, também, a marca da diferença que queremos continuar a introduzir no mediático quotidiano dos nossos dias nem sempre preocupado com a substância das causas… por causa da substância das....estafadas audiências.
Há 42 anos o povo encheu as ruas.Neste momento, na vermelha Almada, na Primark do seu Forum,o povo acotovela-se nos tantos corredores dos seus artigos. Ou, como diria o Miguel Gulherme na TSF....."e não é mau"!!!
Está inaugurada a época "Fonte da Telha". Escalamos as altas escarpas das arribas montados num crocante "Robalo Escalado".O combustível deste arriscado voo ficou por conta de um verde fresquinho! Em boa hora aterrámos no "Retiro do Pescador"!... E até o "director" do aeroporto aceitou posar para a "reportagem"! Sempre,mas sempre, fotografias com gente dentro! Obrigado.
1 A Exortação A Alegria do Amor, do Papa Francisco, é isso: um hino ao amor. Cita, por exemplo, M. Benedetti: "Se te amo, é porque és/o meu amor, o meu cúmplice e tudo/e na rua, lado a lado,/somos muito mais do que dois." Sobre o prazer erótico no amor, cita J. Pieper: por um momento, "sente-se que a existência humana foi um sucesso". Mas Francisco conhece o coração humano, a sua exaltação e as suas misérias e há as pulsões e o amor e as histórias de cada um. Por isso, aponta ideais, mas conhecendo a realidade e falando para pessoas concretas, criticando os que na Igreja "agem como controladores da graça e não como facilitadores".
À Exortação é devida uma leitura atenta e meditada. Deixo aí apenas algumas questões que concitam mais a atenção.
2 O documento constitui uma defesa, sem hesitações, da vida humana, rejeitando como "inaceitáveis" "as intervenções coercitivas do Estado a favor da contracepção, da esterilização e até mesmo do aborto". Ao mesmo tempo apela à paternidade responsável, admitindo que "a consciência recta dos esposos os pode orientar para a decisão de limitar o número dos filhos". E supõe-se que os métodos de limitação ficam à responsabilidade da consciência, respeitando a dignidade humana. Critica que não se dê "espaço à consciência dos fiéis, que muitas vezes respondem o melhor que podem ao Evangelho no meio dos seus limites". Repete que a paternidade responsável "não é procriação ilimitada" e que "o matrimónio não foi instituído apenas para a procriação".
3 Salienta que é necessário avançar mais "no reconhecimento dos direitos da mulher e na sua participação no espaço público". "A história carrega os vestígios dos excessos das culturas patriarcais, onde a mulher era considerada um ser de segunda classe, mas recordemos também o "aluguer de ventres" ou a "instrumentalização" e a comercialização do corpo feminino na cultura mediática contemporânea". Embora previna contra "uma ideologia genericamente chamada gender por prever "uma sociedade sem diferença de sexo" e esvaziar "a base antropológica da família", afirma que "é preciso não esquecer que o sexo biológico (sex) e a função sociocultural do sexo (gender) podem distinguir-se, mas não separar-se". Há quem considere que "muitos problemas actuais ocorreram a partir da emancipação da mulher. Mas este argumento não é válido, é falso, não é verdade! Trata-se de uma forma de machismo". Assim, afirma o feminismo, "quando não pretende a uniformidade nem a negação da maternidade".
4 Afirma que "só a união exclusiva e indissolúvel entre um homem e uma mulher realiza uma função social plena, por ser um compromisso estável e tornar possível a fecundidade", mas, embora não possam "ser simplistamente equiparadas ao matrimónio", "devemos reconhecer a grande variedade de situações familiares que podem fornecer uma certa regra de vida", como "as uniões de facto ou entre pessoas do mesmo sexo". Reafirma que "cada pessoa, independentemente da própria orientação sexual, deve ser respeitada na sua dignidade e acolhida com respeito, evitando qualquer sinal de discriminação injusta".
5 Reclama a educação sexual como elemento essencial da educação, dentro de um humanismo integral para o amor e que não pensa só no "sexo seguro". Neste contexto, sublinha que "os ministros sagrados carecem, habitualmente, de formação adequada para tratar dos complexos problemas actuais das famílias", acrescentando que "para isso pode ser útil também a experiência da longa tradição oriental dos sacerdotes casados", podendo ver-se nesta afirmação a possibilidade de pôr fim ao celibato obrigatório.
6 Sobre a separação e o divórcio, lembra as normas recentes para agilizar as declarações de nulidade do matrimónio.
Quanto à possibilidade da comunhão para os divorciados que voltam a casar pelo civil, afirma e reafirma que não estão "excomungados" e que "ninguém pode ser condenado para sempre, porque esta não é a lógica do Evangelho". E impõe-se o devido discernimento, de tal modo que, atendendo aos condicionamentos e circunstâncias atenuantes, "já não é possível dizer que todos os que estão numa situação chamada "irregular" vivem em estado de pecado mortal, privados da graça santificante". Assim, "em certos casos poderia haver também a ajuda dos sacramentos. Por isso, aos sacerdotes lembro que o confessionário não deve ser uma câmara de tortura, mas o lugar da misericórdia do Senhor. E de igual modo assinalo que a Eucaristia não é um prémio para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os fracos". "Compreendo aqueles que preferem uma pastoral mais rígida, que não dê lugar a confusão alguma, mas creio sinceramente que Jesus quer uma Igreja Mãe que, ao mesmo tempo que expressa claramente a sua doutrina objectiva, não renuncia ao bem possível, ainda que corra o risco de sujar-se com a lama da estrada."
Nem quero imaginar como terá sido o seu reencontro com esse outro grande amigo António do Rosário Bandos. Acabei de saber que nos deixou e aqui me tem apenas para lhe dizer muito obrigado por me deixar partilhar da sua amizade enquanto Abrantes foi a pátria comum.
De facto, as então rádios livres a lutarem pela legalização, com a saudosa Rádio Antena Livre à cabeça, muito lhe devem pelas primeiras tentativas, não só de defesa dos ataques dos então rigorosos Serviços Radioeléctricos e suas tantas multas, como, sobretudo, pelos primeiros ensaios jurídicos em busca de um estatuto para ao nascimento da futura Associação Portuguesa de Rádios que já então em Abrantes ensaiávamos.
Para além do mais, não é preciso dizer-lho, sempre me fascinou esse seu lado de enfant terrible da política abrantina. Quase sempre desalinhado da situação, nomeadamente, do PS que ajudou a implantar em Abrantes.
Mas, meu caro, a minha coroa de glória deu-se naquele nosso célebre encontro à mesa do saudoso Pelicano ( que golpe de estado civilizacional termos deixado criar ali um "pronto a vestir" que nos deixou todos despidos da mais elementar falta de vergonha em não termos conseguido dizer NÃO!) eu quase acabadinho de chegar a Abrantes e o meu amigo , director do então Correio de Abrantes, perguntar-me quem seria um tal Augusto Sérgio que lhe escrevera para o jornal e que o tinha deixado hesitante quanto à publicação do artiguelho. Tendo-lhe eu, então, perguntado se o mesmo tinha algum interesse e obtendo resposta positiva, disse-lhe, "então publique-o, ó Dr.!! Sem o saber, o meu amigo acabara de falar com o tal Augusto Sérgio!
Deixámos tanta conversa por acabar, tanta iniciativa por concretizar, mas, creia-me, foi um privilégio ter podido com meu querido amigo privar.
Vejá lá no que se vai meter.Mas....conte comigo para o que der e vier!
Parece que foi ontem.Cinco anos passaram desde o dia 18 de Abril de 2011.O professor Marcelo é agora o Senhor Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa.
Sabíamos da preenchidíssima agenda mas não desistimos da ideia de convidar o senhor Presidente para um regresso à Associação 25 de Abril.
...
E a resposta chegou-nos através dos seus assessores.
Uma "agenda louca" impede, de momento, que o Senhor Presidente possa aceitar o convite. Mas deixou-nos o sinal de uma expectativa no ar.
Enquanto aguardamos, deixamos os links onde poderemos recordar como tudo aconteceu:
Triste seria uma pastoral das falências sem apontar os caminhos para a alegria do amor sem a qual não se pode falar de família
. A partir do século XIX, pode-se falar de uma crescente inflação de documentos pontifícios sobre tudo e mais alguma coisa, mas, como já foi observado muitas vezes, ainda não apareceu nenhum sobre o humor. A queixa é muito mais antiga. Humberto Eco, no seu romance O Nome da Rosa, refere um debate monacal para responder a uma pergunta transcendente: Jesus riu ou não? Para o grande historiador, Jacques Le Goff, esse foi um tema constante da IdadeMédia.
Se alguém tentasse fazer uma enciclopédia do humor e do riso provocados pelas figuras da Bíblia, dos evangelhos, da história da Igreja, dos monges do Deserto, da prática dos sacramentos, da vida dos santos, das devoções, do céu, do inferno e do purgatório, nos diferentes países e continentes, teria matéria hilariante para muitas vidas. Pode ser intermitente, mas na área católica, nunca se esgota.
Depois do sisudo catolicismo da primeira parte do século XX, foi eleito papa, João XXIII. Passado pouco tempo, perguntaram-lhe: quantas pessoas encontrou a trabalhar no Vaticano? – Mais ou menos metade. Quando é que decidiu convocar o Concílio? – Quando estava a fazer a barba. Os seus Fioretti correram o mundo.
Ao angustiado Paulo VI, sucedeu João Paulo I, o abreviado Papa do sorriso. Esquecendo-se de que estava no Vaticano, continuou com o seu costume de chamar a Deus Pai e Mãe e de manifestar, com bonomia, a vontade de varrer a cúria romana. Não teve sorte.
Veio um longo inverno e depois precipitou-se a primavera com um argentino, chamado Mário Bergoglio que, sendo jesuíta, se fez franciscano radical, Francisco. Parece habitado por uma paixão estranha que mistura indignação e misericórdia, bom humor e gestos proféticos, reforma da cúria vaticana e deslocação às periferias mais abandonadas. Desde a primeira Exortação Apostólica até à mais recente, tudo é feito por causa da alegria [1].
2. A Exortação A Alegria do Amor, sobre a família – uma análise, uma autocrítica e uma proposta – não é de alguém que se julga infalível a definir doutrina ou a ditar leis irreformáveis. Procura que a Igreja, na sua intervenção pastoral, abandone o inveterado mau gosto de lamentar e condenar. No capítulo II, ao apresentar a realidade actual e os desafios que ela representa para a vida familiar, destaca, por um lado, a tentação de querer resolver os problemas actuais, reproduzindo receitas gastas. Nem a sociedade em que vivemos, nem aquela para onde caminhamos, permitem a sobrevivência indiscriminada de formas e modelos do passado [2]. Por outro lado, também não se pode cair na ideia de que tudo é descartável, cada um usa e deita fora, gasta e rompe, aproveita e espreme enquanto serve e, depois… adeus.
Entretanto, o Papa não se limita a mostrar que esses são becos sem saída. Adverte, no entanto, que devemos ser humildes e realistas para reconhecer que, às vezes, a nossa maneira de apresentar as convicções cristãs e a forma como tratamos as pessoas ajudaram a provocar aquilo de que hoje nos lamentamos, pelo que nos convém uma salutar reacção de autocrítica. Além disso, muitas vezes apresentamos de tal maneira o matrimónio que o seu fim unitivo, o convite a crescer no amor e o ideal de ajuda mútua ficaram ofuscados por uma ênfase, quase exclusiva, no dever da procriação.
Bergoglio lembra que não fizemos o acompanhamento dos jovens casais nos primeiros anos, com propostas adaptadas aos seus horários, às suas linguagens, às suas preocupações mais concretas. Outras vezes, apresentamos um ideal teológico do matrimónio demasiado abstrato, construído quase artificialmente, distante da situação concreta e das possibilidades efectivas das famílias tais como são.
Esta excessiva idealização, sobretudo quando não despertámos a confiança na graça, levou a que o matrimónio deixasse de ser desejável e atraente; muito pelo contrário [3].
3. Na acção pastoral, custa-nos deixar espaço à consciência dos fiéis, que são capazes de realizar o seu próprio discernimento, mesmo em situações onde se rompem todos os esquemas. Somos chamados a formar as consciências, não a substituí-las.
Muitas vezes agimos na defensiva e gastamos as energias pastorais multiplicando os ataques ao mundo decadente, com pouca capacidade de propor e indicar caminhos de felicidade. Muitos não sentem a mensagem da Igreja sobre o matrimónio e a família, como um reflexo claro da pregação e das atitudes de Jesus, o qual, ao mesmo tempo que propunha um ideal exigente, não perdia jamais a proximidade compassiva às pessoas frágeis, como a samaritana ou a mulher adúltera [4].
Hoje, destacamos apenas a mudança radical de atitude e de método da pastoral da Igreja sobre a família, realidade incontornável na sua diversidade, em todos os povos e culturas. Triste seria uma pastoral das falências [5] sem apontar os caminhos para a alegria do amor sem a qual não se pode falar de família [6].
[1] Evangelii Gaudium (A alegria do Evangelho), 24. 11.2013; Laudato Sí (Louvado sejas), 24. 05. 2015; Amoris Laetitia (A alegria do Amor), 19.03.2016
[2] Amoris Laetitia, 32-39
[3] Amoris Laetitia, 36
[4] Amoris Laetitia, 38
[5] Amoris Laetitia,308
[6] Os itálicos das citações da Exortação Apostólica são da minha opção
1. Segundo o mito bíblico, a Criação [1] é uma vitória sobre o caos. Deus viu tudo o que tinha feito e era muito bom. Um paraíso. Os antigos próximo-orientais faziam um balanço da história da humanidade diametralmente oposto ao dos modernos ocidentais. Contrariamente à ideia do progresso irreversível, os antigos pensavam que o mundo começou perfeito, mas degradou-se progressivamente. Os mitos mesopotâmicos também expressam essa convicção. No mundo grego, esta ideia esquematizou-se no mito das cinco idades do universo [2]. Esses mitos veem no dilúvio a principal fronteira dos primórdios da humanidade. Na versão bíblica, é uma descriação [3].
No entanto, quando parece que se chegou à degradação sem remédio, surge sempre uma esperança. A título de exemplo, cito o Profeta Isaías [4]: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz (…) porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado que anuncia uma paz sem fim”. A IV Bucólica de Virgílio [5] parece copiada desse profeta. No seu poema há também um Menino que vai deixar o mundo livre do medo, governando a terra em paz.
Os cristãos viram nessas figuras míticas do Menino, Jesus de Nazaré, o príncipe da paz, cuja proposta foi rejeitada em público e em tribunal. Acabou na cruz. Este facto foi tão traumatizante para os discípulos que lhes matou a esperança. Todas as narrativas da Ressurreição testemunham que se sentiram completamente perdidos. O Ressuscitado encontrou, nas mulheres que o seguiram e procuravam, as evangelizadoras dos apóstolos, paralisados pelo medo. A era da audácia, dentro e fora do judaísmo, é atribuída à irrupção do Espírito de Cristo.
2. Na sua apologia da Roma cristã, o bracarense Paulo Orósio [6] vê no Império Romano um sistema quase perfeito, no preciso momento em que está a ruir, dilacerado pelas contradições internas e pelas invasões germânicas: “as mesmas leis que se subordinam ao Deus único reinam por toda a parte e por onde quer que eu vá, sem ser conhecido, não receio uma violência repentina, como se fosse um homem sem protecção. Entre romanos, como disse, sou romano; entre cristãos sou cristão; entre homens sou homem; apelo para a república pelas suas leis, para a consciência pela fé, para a natureza pela igualdade. Faço uso temporariamente de toda a terra como se fosse a minha pátria, porque aquela que é a verdadeira pátria e que eu amo não está, de modo algum, na terra [7]”. Sol de pouca dura.
Na Idade Moderna, entramos noutro mundo. Desenvolveu-se a suspeita de que a religião era a fonte de todos os males, de todas as opressões, de todas as guerras. Para que o ser humano fosse livre e criador do seu destino, precisava de se desfazer da ideia de Deus. As ciências e as técnicas acabariam por vencer todas as interrogações de ordem psicológica, metafísica e religiosa.
O liberalismo desconstrutivista transferiu para os seres humanos os atributos divinos.
As ciências, as técnicas e as suas indústrias acabarão por criar o pós-humano. O niilismo de todos os juízos de valor liberta o terreno de preocupações éticas e deixa o pragmatismo puro e duro à solta. Em breve conheceremos a mecânica da biologia humana e desaparecerá o inconsciente individual e colectivo. Seremos transparentes.
3. Ou talvez não. Num mundo, em mudança acelerada, produz-se uma disfunção entre o tecno-económico e o sentido da vida dos cidadãos e das suas identidades. Entre as fontes onde podem ser recuperadas, encontra-se o mundo das religiões. Entre estas, destaca-se o islão e o cristianismo. Mas estas estão a afirmar-se na pior das suas configurações, no fundamentalismo. Por vezes até como justificação religiosa do terrorismo.
As sociedades democráticas ocidentais são e serão, cada vez mais, heterogéneas. A imigração configurou uma paisagem humana e religiosa multicolor. Esta situação exige especiais cuidados para que a integração se faça de tal modo que todos se reconheçam, ao mesmo título, cidadãos do mesmo país, em direitos e deveres.
Qual o papel das religiões numa sociedade democrática? Tentar reduzir o seu papel às sacristias é ilusório. Deixar que, em nome das religiões e do seu peso numérico, dominem o espaço público é minar o papel da cidadania, da política e da religião. Não basta uma cultura do diálogo inter-religioso. A cultura do diálogo deve atingir a vida da cidadania, da política e da religião. Sem distinguir o papel de cada uma destas dimensões, criam-se conflitos desnecessários. Não se resolvem negando às religiões, que respeitam as regras da democracia, a sua voz no espaço público.