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AS OBRAS DE MISERICÓRDIA (1)
In Dn 23 de Jul
Há hoje um acordo praticamente unânime. Jesus de Nazaré foi um homem, talvez o único, que viveu e comunicou uma experiência sã de Deus, sem desfigurá-la com os medos, ambições e fantasmas que, habitualmente, as diversas religiões projectam sobre a divindade." Quem isto escreve é o grande exegeta José Antonio Pagola. A citação provém do livro Entrañable Dios. Las obras de misericordia: hacia una cultura de la compasión, que escreveu com outro grande teólogo, Xabier Pikaza, e aparece no contexto da definição de Deus. O nome de Deus é misericórdia. "A compaixão é o modo de ser de Deus."
Neste sentido, Jesus contou histórias que abalam uma Igreja clericalizada, centrada no culto. Lá está, por exemplo, o bom samaritano. Um homem foi espancado e roubado, ficando meio morto à beira da estrada. E passou por ali um sacerdote, que se desviou para nem sequer o ver. O mesmo fez um levita que servia no Templo. Mas um samaritano, estrangeiro e considerado herético pelos judeus, que não frequentava o Templo, comoveu-se, aproximou-se, cuidou dele e pagou adiantadamente na estalagem, para o tratarem, prometendo que, na volta, pagaria o que faltasse. O doutor da Lei tinha perguntado: "Quem é o meu próximo." Agora, é Jesus que lhe pergunta: "Quem foi o próximo daquele desgraçado?" "O samaritano." E Jesus: "Vai e faz o mesmo." Não o mandou para o Templo. De que vale o culto desligado da justiça, da proximidade de quem se encontra na valeta da vida?
O juízo final sobre a história do mundo e da humanidade não versa em primeiro lugar sobre coisas directamente referidas à religião, mas à justiça e a esta proximidade: "Tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me, estava nu e destes-me que vestir, adoeci e visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo." E vai haver um espanto: "Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te vimos peregrino e te recolhemos, ou nu e te vestimos? E quando te vimos doente ou na prisão, e fomos visitar-te?" E o Deus de Jesus responde: "Em verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes. Sempre que deixastes de fazer isto a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer."
É arrasador: o que em primeiro lugar decide da salvação não são actos de culto, mas os que contribuíram para um mínimo de dignidade humana. Por isso, Jesus, com escândalo de muitos, porque comia com publicanos e pecadores, coloca na boca de Deus as palavras do profeta: "Quero misericórdia e não sacrifícios." O teólogo José M. Castillo comenta de modo frontal: "Jesus afirma aqui que Deus quer que os seres humanos se comovam com bondade e misericórdia para com os outros, mesmo que sejam maus e até se a prática da bondade implicar a violação de uma lei religiosa. Isto, embora seja um escândalo para os mais puritanos, é o que o Evangelho diz", indo até mais longe, ao estabelecer uma "antítese" entre a "misericórdia" e o "sacrifício", isto é: "O que Jesus diz é que, se for preciso escolher entre a "ética" e o "culto" (entre a "justiça" e a "religião"), o que está primeiro é a ética, a honradez, a defesa da justiça e os direitos das pessoas. Se isto não se antepuser a tudo o mais, Deus não quer que tranquilizemos as nossas consciências com missas, rezas, devoções e coisas do género." É preciso restituir a todas as pessoas o seu bem maior: a dignidade.
E aqui estão as chamadas obras de misericórdia. Misericórdia quer dizer, etimologicamente, olhar com o coração para a miséria do outro, com compaixão, o que significa, também a partir do étimo, sofrer com o outro, fazendo seu o sofrimento dele. A partir daí, há uma comoção e uma reacção, que levam a comprometer-se com a erradicação do sofrimento ou, pelo menos, com o seu alívio, na imediatidade. Como escreveu o dramaturgo famoso Bertold Brecht, marxista e profundo conhecedor da Bíblia: "Contaram-me que em Nova Iorque,/na esquina da rua vinte e seis com a Broadway,/nos meses de Inverno, há um homem todas as noites/que, suplicando aos transeuntes,/procura um refúgio para os desamparados que ali se reúnem.//Não é assim que se muda o mundo,/as relações entre os seres humanos não se tornam melhores./Não é este o modo de encurtar a era da exploração./No entanto, alguns seres humanos têm cama por uma noite./Durante toda uma noite estão resguardados do vento/e a neve que lhes estava destinada cai na rua.//Não abandones o livro que to diz, homem./Alguns seres humanos têm cama por uma noite,/durante toda uma noite estão resguardados do vento/e a neve que lhes estava destinada cai na rua./Mas não é assim que se muda o mundo,/as relações entre os seres humanos não se tornam melhores./Não é este o modo de encurtar a era da exploração."
As obras de Misericordia (2)
In DN 30 Julh
No "Ano da Misericórdia", aí estão, com Xabier Pikaza, as obras de misericórdia. São catorze: sete corporais e sete espirituais. Vinculam a justiça e o coração: a misericórdia não pode esquecer a justiça, mas a justiça tem de ser mobilizada pela misericórdia. Para sermos humanos.
Obras de misericórdia corporais
1 "Dar de comer a quem tem fome". Há certamente muitas outras necessidades: afecto, cultura, carinho, palavra... Mas a maior e mais urgente é a comida. Nem só de pão vive o homem, mas sem pão não vive. É uma vergonha haver comida suficiente para todos e morrerem de fome todos os dias 40 mil pessoas (16 mil crianças). Há várias, mas duas são "as causas principais" da fome: o egoísmo de indivíduos e de grupos e a injustiça do sistema dominante.
2 "Dar de beber a quem tem sede". Sem água não há vida. Jesus disse: "Quem vos der de beber um copo de água não ficará sem recompensa." Multiplicar-se-ão os conflitos por causa da falta de água. O Papa Francisco chamou a atenção para isso na encíclica "Laudato sí", sobre a ecologia.
3 "Vestir os nus". "Os nus carecem de protecção pessoal, estão indefesos, desarmados, e à mercê da violência alheia." A roupa cobre, protege e dignifica. A nudez acaba por significar abandono e exclusão, e, sobretudo no caso das mulheres e das crianças, exploração e tráfico sexual.
4 "Dar pousada aos peregrinos". No Evangelho segundo São Mateus, são referidos concretamente os estrangeiros, aplicando-se o termo grego "xenoi" concretamente a homens e mulheres que formam parte de um grupo social e cultural diferente: "Fui estrangeiro e acolhestes-me ou não me acolhestes", dirá Jesus no juízo definitivo. "A pátria do cristão é o diálogo e o acolhimento."
5 "Assistir aos enfermos". Visitá-los, cuidar deles. Se, no Evangelho, há preocupação constante da parte de Jesus é pela saúde das pessoas, de quem cuida e que cura.
6 "Visitar os presos". Não se trata simplesmente de visitar. Trata-se de "oferecer-lhes assistência e cura, porque estão em necessidade (sejam culpados ou não) e porque podem curar-se".
7 "Enterrar os mortos". Miséria suprema: morrer e não haver ninguém a reclamar os mortos. Mas se isso acontece na morte, já na vida viveram abandonados. Esta obra de misericórdia realiza-se verdadeiramente não só na sepultura do cadáver, mas na exigência de acompanhar e ajudar na velhice, de modo eficaz, com dignidade.
Obras de misericórdia espirituais.
1 "Dar bom conselho". Uma tarefa de todos e para todos, mas de modo especial para os educadores, professores, conselheiros da consciência.
2 "Ensinar os ignorantes". Jesus foi um "mestre de sabedoria, que ensinou o povo simples, mal guiado por escribas ao serviço do poder religioso". Abriu os olhos das pessoas, para que pudessem descobrir o mistério de Deus e o seu amor para com todos, numa Escola de verdadeira Humanidade. O seu ensinamento não se dirigia à conquista do poder, mas ao serviço da sabedoria autêntica da vida plena.
3 "Corrigir os que erram". Os profetas bíblicos sabiam disto e, por isso, denunciaram e exigiram capacidade de mudança, não apenas na linha da interioridade, mas também no nível da transformação social. Sem conversão pessoal, não há justiça que baste.
4 "Consolar os tristes". Quem não precisa de consolação, em tempos de tanto desconsolo? Precisamos de quem seja fonte de paz para os outros, "para superar assim a depressão e a tristeza que vai crescendo como pandemia imparável numa Terra onde, ao lado de uma grande prosperidade, se estende a intransigência de alguns e a pobreza e desamparo de centenas de milhões de pessoas". Desamparo material e desamparo espiritual.
5 "Perdoar as injúrias". "Não se trata de perdoar, de um modo resignado, aguentando as injúrias, mas de converter o perdão em fonte de transformação pessoal e social. Quem perdoa não é cobarde, um ser passivo, incapaz de enfrentar o mal; pelo contrário, é alguém que vence o mal com o bem", confiando, portanto, na conversão de quem ofende.
6 "Sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo". Aqui, está-se numa perspectiva diferente da da anterior: já não se trata de perdoar aos inimigos, mas de suportar os defeitos daqueles com quem partilhamos o caminho: familiares, amigos, colegas. Há limites para o intolerável, mas é fundamental perceber que é preciso ter paciência com as diferenças e defeitos dos outros: "os puristas radicais destroem não só famílias, mas comunidades religiosas, igrejas" e grupos.
7 "Rogar a Deus pelos vivos e defuntos". Não se trata de espiritualismo perante o fracasso da vida, mas de comunhão profunda com todos no mistério da vida plena em Deus.
São também obras de misericórdia: proteger as mulheres, acolher/educar as crianças, perdoar as dívidas, libertar os escravos, partilhar os bens.
Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.
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O Dever moral de ser ateu
In DN 16 de Julho
1 Os ataques terroristas sucedem-se. E a mesma perplexidade por todo o lado: vivemos num mundo inseguro, brutal, louco. Que fazer? Os Estados têm de colaborar entre si, fazendo todo o possível para manter a segurança, não ceder à violência, respeitando a lei. Os cidadãos não podem ceder ao medo, pois esse é um dos objectivos do terrorismo: que as pessoas entrem em pânico, paralisá-las.
2 Já não se respeita sequer uma igreja. E ontem foi a degola, em França, de um padre católico, considerado corajoso e bom pela população. Só posso mostrar, com o Papa Francisco, neste e em todos os casos de terror, a minha "dor e horror" perante "esta violência absurda", que nada justifica. O terror, atingindo indiscriminadamente inocentes, homens, mulheres, crianças, crentes de várias religiões, ateus, tem de ser condenado de forma radical, sem hesitação. Porque é simplesmente terrível, a barbárie bruta, a inumanidade pura e simples.
3 Nada legitima este terror bárbaro. Mas deve haver a tentativa de explicar e entender. J. Philipp Reemtsma distinguiu três formas de violência: a exercida para conquistar um território, tirar algo a alguém, e a que tem o seu fim em si mesma: o prazer da violência. Neste sentido, teme-se que não seja completamente erradicável, já que pertenceria à constituição do ser humano. Daí, a urgência da educação para os grandes valores humanistas, para a paz, para a convivência na comunicação humana, e a atenção que é necessário prestar às causas que podem agudizar a violência: marginalização, não integração, falta de comunidade e de sentido, desorientação, injustiça. Certamente, o niilismo de valores reinante e o aliciamento das redes sociais para ideais de vinculação, com a participação na restauração do califado universal, por exemplo, ajudam nesta explicação.
4 E as religiões e a violência? É preciso entender que as religiões não são o Sagrado, o Mistério, Deus, de quem se espera sentido último e salvação. Elas são construções humanas, mediações, e, por isso, têm de tudo: do melhor e do pior. Há quem pense que, acabando com a religião, se encontraria finalmente a paz. Não é verdade. De facto, se a religião foi e é invocada para legitimar a violência, ela foi e é também força de combate a favor dos direitos e da paz: lembre-se, por exemplo, Martin Luther King ou a teologia da libertação.
5 Mas muito vai ser preciso fazer. Impõe-se o diálogo inter-religioso. Lúcido, fundamentado e crítico. Nenhuma religião pode pensar ter a verdade toda e absoluta. O fundamentalismo é uma questão de ignorância ou, perdoe-se-me a palavra, estupidez. De facto, como pode o ser humano possuir o Fundamento, a Ultimidade? Daí, a urgência de uma leitura histórico-crítica dos textos sagrados, que não são de modo nenhum ditados de Deus. E impõe-se a laicidade do Estado, sem cair no laicismo - a França, ao contrário da Alemanha, por exemplo, cometeu este erro do laicismo, ao pretender retirar a religião do espaço público.
6 Antes de sermos crentes ou não, o que nos une a todos é a humanidade comum, de tal modo que, face a um deus que legitimasse a violência, o ódio, matar em seu nome, haveria, para sermos humanamente dignos, um dever moral: ser ateu.
MATINAS
Mar adentro.
Por dentro do mar.
Tão dentro de mim, um mar sem fim...
com tanto que nele tardo em achar....
Foto.Fonte da Telha, esta manhã.
MATINAS
Esteve vários anos encostada a um canto, devidamente aconchegada, diga-se,na garagem colectiva da minha casa da avenida Humberto Delgado, em Abrantes.
Adquirida ao alveguense alfaiate Mário Barreto, nos recuados anos em que Abril ainda fervilhava, (1975/1976 ?) e com o objectivo de espalhar Abril quer pelos montes alentejanos, quer pelas ribatejanas lezírias - o que me valeria, pelo menos, uma directa ameaça de morte e outras tantas desejadas por parte de alguns ressabiados latifundiários - acabou por se converter, também, na "arma de guerra" com que invadi Mação, em plena serrania beiroa, e ali raptei a mais bela das suas filhas.
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Tornou a ver a luz do dia, agora para os combates pela Arte,na exposição "EM ÉVORA SÊ ROMANO, PERDÃO, ALENTEJANO" ( Maio/Junho de 2010 ) e tomou o definitivo nome de QUADRIGA. Assim celebrei a alentejanização dos guerreiros romanos que se converteram nos guerreiros outros dos "CANTEdores" alentejanos!
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Vai agora a caminho da Galeria Municipal de Abrantes onde, pela primeira vez, entrará de cabeça erguida, perdão, de rodas erguidas para participar na Colectiva "Abrantes, 100 anos de Artes Plásticas" respondendo ao amável convite da senhora presidente da Câmara Municipal, Maria do Céu Albuquerque, e da incansável galerista e distinta artista plástica, a minha querida amiga Paula Dias.
Costumo dizer, numa envergonhada e bafienta humildade, que "a minha mota Sachs, 3 velocidades, mete a Lata de Sopa do Andy Warhol a um canto!!!" e reafirmo (alô tio Berardo, há um cantinho no CCB à espera dela!!!!).
Fruto de horas sem fim a caligrafar, perdão, a QUALIGRAFAR, ei-la, finalmente, sem pudor de nenhuma espécie, publicamente QUALIGRAFADA, pronta para ser por todos disputada e que, nela e por ela, outras tantas viagens possam querer continuar a fazer, escritas com palavras que apenas a cada um continuarão a pertencer.
Foto.Obrigado, Pedro da Silva.
E lá vai ela a caminho de Abrantes transportada pelo meu querido novo amigo João Daniel que me fez relembrar tempos da minha amada Abrantes do sec...XX, a sua Rádio....os escritos na imprensa local.....
Que bom saber que AINDA HÁ MEMÓRIA na memória RAM( Recordar Amigos Melhora-nos!!!!) de algumas pessoas!!!
Obrigado, João.
Com o calor da conversa esqueci as imagens que queria ter captado!!!
Apenas esta com a carrinha a desaparecer lá ao fundo à direita!!!!!
Boa viagem, amigo!
IN MEMORIAM MENINA CONCEIÇÃO
Não foi por falta de estímulos da sua parte, querida Menina Conceição, mas tanto na música como nas Artes plásticas a sementinha inicial foi por si regada.
O resto, as contingências da vida no interior, a inexistência dos hoje disseminados conservatórios de tudo e mais alguma coisa, não servem para as chamadas desculpas de mau pagador.
A marca ficou, querida professora.
Como um ETERNO OBRIGADO, deixo-lhe o melhor de que sou capaz.
Até sempre!
Menina Conceição, não vou conseguir estar amanhã em Cardigos.
Sabe que pela parte que me coube tudo fiz para dignificar EM VIDA,o seu nome, a sua obra.
Não preciso de relembrar nada pois que, agora, AÍ onde se encontra,TUDO - o TODO - para si está claramente visto.
Resta-nos ficar com a MEMÓRIA VIVA da sua passagem pelas nossas vidas....
Creio que é a melhor alegria que poderemos dar-lhe e....já sabe, se o S.Pedro levantar a cabecinha, a Senhora que teve sempre tanto pudor em pegar na menina dos cinco olhos, não hesite, chegue-lhe.
(Não deve doer-lhe nada, acho que por Aí andam sempre com as mãos fresquinhas de tanto remexerem nas nuvens....)
Um beijinho grande do seu Tóze Lourinho.
(A REPORTAGEM COMPLETA AQUI
http://animo.blogs.sapo.pt/501105.html
ESPAÇOS P(UM!)ÙBLICOS
Quantos, como eu, a cada hora que passa e do ajuntamento em massa pela nossa cabeça passa de Nice a constatada desgraça?
Podia ser aqui!...
Que seria de mim?
Onde me refugiaria se de mim restassem pernas, braços ou cabeça de de tal se apercebesse?
LISBOAS
por que é que esta gente toda invadiu o Vasco da Gama/Expo.....
E não foi para a praia?
O mar desespera, a Expo sufoca, ponham-se a nadar daqui para fora....
E eu só vim à Gare do Oriente comprar bilhetes para a minha gente.
E de repente, o velhinho Nokia E72, deixou-se deslumbrar pelo que o Calatrava andou a esboçar..
1. Há quem suspeite que o Papa emérito, Bento XVI, possa ser um dos centros de oposição ao Papa Francisco.
E apresentam razões para essa suspeita. Há quem pergunte porque é que continuou no Vaticano. Mais grave será, ainda no exercício das suas funções, ter feito arcebispo o seu secretário, Georg Gänswein, que nomeou, ao mesmo tempo, para Prefeito da Casa Pontifícia, garantindo assim que ficaria permanentemente informado do que faz o seu sucessor. Em 1972, ainda professor, escreveu um ensaio académico, manifestando abertura à admissão à Eucaristia dos divorciados recasados, no caso de a nova união ser sólida, haver obrigações morais para com os filhos, não subsistindo obrigações do mesmo tipo em relação ao primeiro casamento, "quando, portanto, por razões de natureza moral é inadmissível renunciar ao segundo casamento". Ora, este ensaio foi retirado das "Obras Completas" de Ratzinger, cuja edição está a cargo do cardeal G. Müller, um dos opositores a Francisco, concretamente nesta questão. E, recentemente, Gänswein veio dizer que Bento XVI não abandonou o ministério de Pedro, antes fez dele "um ministério expandido, com um membro activo e um membro contemplativo", numa "dimensão colegial e sinodal, quase um ministério em comum".
2. Não acredito nesta tese. Estou convicto de que o Papa emérito não quer ser obstáculo para o exercício do ministério de Francisco. Uma prova: julgo que, segundo as regras académicas, o texto sobre a comunhão deveria ser publicado na íntegra, com uma eventual nota a explicar que presentemente não pensa do mesmo modo, mas faço notar que, quando alguns cardeais quiseram tê-lo do seu lado contra Francisco, Bento XVI fez-lhes ver que o Papa "agora" é Francisco.
Francisco escreveu o prefácio do volume mais recente das "Obras Completas", onde se pode ler: "Quando leio as obras de Joseph Ratzinger/Bento XVI, torna-se para mim cada vez mais claro que fez e faz "teologia de joelhos": de joelhos porque, antes até de ser um grandíssimo teólogo e mestre da fé, vê-se que é um homem que crê verdadeiramente, que reza verdadeiramente; vê-se que é um homem que personifica a santidade, um homem de paz, um homem de Deus." Segundo Francisco, "ao renunciar ao exercício activo do ministério petrino, Bento XVI decidiu dedicar-se totalmente ao serviço da oração".
As palavras de Gänswein foram recordadas por uma jornalista, no regresso da Arménia, perguntando: "Há dois Papas?". Francisco respondeu, dizendo que não esquece o discurso de Bento XVI aos cardeais antes do conclave: "Entre vós é seguro que está o meu sucessor. Prometo obediência", e cumpriu. E também lembrou que, quando alguns foram "lamentar-se por causa do novo Papa", "afugentou-os, com o seu melhor estilo bávaro, educado, mas afugentou-os".
Numa recente entrevista, que aparecerá, em Setembro, como livro, "Últimas Conversas", Bento XVI revelou a existência de um "lobby gay" no Vaticano, que dissolveu; admite a sua "falta de decisão" de governo, mas que lutou a favor de uma Igreja limpa; negou qualquer "chantagem ou pressão" para que renunciasse. Sobre Francisco, confessou a "surpresa" que constituiu a sua eleição, mas a surpresa transformou-se em "alegria", depois de ter visto pela televisão como o novo Papa rezava e pedia a bênção do povo. Trata-se de "um homem que, na véspera do conclave, não esperava. São duas figuras distintas, dois modos diferentes de entender o Papado", mas sublinha a sua "figura humana e papal".
3. Bento XVI ficará na história e fez história ao renunciar. Foi um estrondo na Igreja e no mundo, como se dissesse: é demasiada a podridão na Igreja, vou-me embora, porque ela precisa de sangue novo na sua condução.
E apareceu Francisco que, fazendo a síntese de franciscano e jesuíta, prepara, com a simplicidade da pomba e a prudência da serpente, a Igreja para o século XXI: uma Igreja pobre para os pobres, que combate a favor da justiça e da paz num mundo globalizado, desclericalizada, sinodal, onde os leigos e, concretamente, as mulheres tenham o seu lugar, uma Igreja que não tem medo da razão crítica, sem triunfalismos nem intolerâncias, respeitadora da consciência, ecuménica, dialogante, ao serviço do Evangelho e das pessoas, que antepõe à doutrina.
4. E os inimigos? Numa entrevista recente, perguntou-lhe uma jornalista: "Como se arranja com os ultraconservadores da Igreja?". Respondeu: "Eles fazem o trabalho deles e eu faço o meu. Eu quero uma Igreja aberta, compreensiva, que acompanhe as famílias feridas. Eles dizem que não a tudo. Eu continuo o meu caminho, sem olhar para trás. Não corto cabeças. Nunca gostei de fazê-lo. Repito: rejeito o conflito". E concluiu com um sorriso aberto: "Os pregos tiram-se puxando para cima. Ou colocamo-los a descansar, ao lado, quando chega a idade da reforma".
Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico
COMENTÁRIO
Tanta serenidade, meu querido Padre Anselmo, só pode ter como Fonte de Inspiração o mesmo Espírito que inspira o Santo Padre da Renovação!
Obrigado.
antónio colaço
QUIOSQUE
PURO PRAZER
Pedro, como é que pode ter criado um espaço, "FRACO CONSOLO", no Expresso Revista, para quem não saiba e que, em regra, nos proporciona,como dizer, uma sensação de PURO PRAZER?!
É o que acabo de sentir no final da leitura de "O Guarda do meu irmão"....
Quando um texto nos deslumbra ao ponto de, sem dar por isso, como que saltamos para dentro dele a desfrutar das situações para que nos convoca, está tudo dito!
Pedro, "Fraco Consolo"?!
Antes, PURO PRAZER!
A não ser que também pense, e eu creio que pensa, do que conheço de si, quer dizer, do que nos vai dando a conhecer de si, de que, dada a precariedade de que são feitos dias e, neles, da vida que os contém, desde logo, nós próprios, precários de nós, nem o seu "fraco consolo" nem o meu "puro prazer" chegam para definir o que quer que seja que nos aproxime de uma imaginada (e desejada?) PLENITUDE.
Assim sendo o que nos resta?!
Como refere um dos seus abordados personagens, "tudo o que conta está aqui". É isso, meu caro, e embora não sendo muito, sempre é uma ajudinha para a Revelação de uma Totalidade que se nos escapa, por muito que cada um, à sua maneira acredite nela.
BOCADINHOS DE ETERNIDADE
A ETERNIDADE AOS BOCADINHOS
Depois de todos os milagres das últimas horas, regresso ao meu MILAGRE de Julho.
As minhas hortênsias emergiram viçosas vencendo a erva daninha que lhes tolhia os passos.
Graças à água que, afortunada e abundantemente, brota no Vale das Árvores, à atempada e requisitada acção dos rapazes da Aflomação mas, sobretudo, à desinteressada dedicação do meu querido amigo Júlio Pires, que não lhes tem faltado com o tão desejado ouro da terra, continuam, à distância, a refrescar-me a vontade de regressar para junto delas.
É tão bom depois de todas as recentes euforias poder viver aos bocadinhos com estes bocadinhos de eternidade todos os dias.
OBRIGADO, RAPAZES DE PORTUGAL!!!!
Ontem,"Em perigos e guerras esforçados/ Mais do que prometia a força humana" voltámos a ser grandes!!!!
(desculpa querido Manuel António Pereira) e superámo-nos na adversisade.
Não passou de um simples jogo de futebol, é certo, e hoje aí estamos de novo para dar a volta às outras quotidianas adversidades....
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Em Março passado, uma profunda adversidade surpreendeu-me ao dobrar da esquina do Amoreiras Square e em dois segundos ruíu aquele que parecia ser o meu "caminho marítimo para a Índia"!
Agarrei-me ao órgão da Matriz do Montijo e foi nele que encontrei a tábua de salvação que me permitiu reerguer a cabeça.
Agora, sempre que volto a tropeçar em momentos de inesperadas adversidades, convoco a raiva messiânica de então.
Ontem chorámos com as lágrimas de Ronaldo mas não nos deixámos afundar nelas.
Ontem, como ÉDER, arrancámos decididos a caminho da vitória e voltámos a ser grandes!!!
Há-de ser sempre assim!!!!
OBRIGADO, RAPAZES DE PORTUGAL!!!!
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