Monsanto.Esta manhã.
Não vivo para escrever, escrevo porque vivo.
Não vivo para fotografar, fotografo porque vivo.
Entendamo-nos.
Nunca imaginei uma história do tipo, "agora vou subir a Monsanto porque vou lá tirar fotografias e vou tropeçar numa história de vida que me vai deixar a pele mais enrugada que alguma das galinhas da minha saudosa avó Remédios"!
O que acaba de acontecer-me passou-se em 15 minutos.São os mais belos quinze minutos das manhãs dos meus últimos dias.
Hesitei, mesmo, fazer desta história as mais belas MATINAS dos últimos dias, eu que as deixei em repouso editorial, que não - Tu sabes - em repouso espiritual!
Mas o protagonista da minha história merece este título, o melhor título que achei para ele, para a sua coragem, para a sua determinação, para o seu...ânimo!
Foi assim que nos despedimos, "passe pelo Google e escreva a palavrinha ânimo, a mesma a que você se tem agarrado nesta meia dúzia de anos de reclusão que está a chegar ao fim - em Junho, será - que lá nos encontraremos"!
Mandei às urtigas - Monsanto está cheio de viçosas urtigas e algumas papoilas, como vamos ver - os rentáveis e sitemeternianos head lines da ânimo com o animado almoço com Augusto ( fosse de outro o mesmo faria!) para fazer subir ao podium desta fresca e enevoada manhã o maratonista preso mais livre que acabei de conhecer!
Vou chamar-lhe Adriano.
Um nome como outro qualquer para um protagonista cuja privacidade devo preservar!
- António, deixa-te de politiquices!Pára de andares a perder tempo com os políticos ! Regressa, quanto antes, às tuas histórias de quotidiano!Só para apareceres nas páginas do Diário de Notícias, como hoje?!Por favor!...Entra-me na história que já estou em pulgas, rapaz?!Mas afinal o que é que te aconteceu?!
Tão simples como isto: tendo que passar por Monsanto, a caminho de um encontro com um amigo, na zona das Avenidas Novas, que acabou por não ter lugar, inverti a marcha ali mesmo defronte do Palácio Fronteira.
A Lisboa que dali se avista, o apelo dos amarelos pampilhos, as primeiras papoilas e umas estrelinhas da minha infância (alguém que me diga o nome, depois!) convocaram-me para fotografar em cima de um muro do campo prisional de Monsanto.
Dou pelo aproximar de um atleta ainda jovem, que fazia aquecimentos em rápidos sprints, no interior de um trilho do campo prisional e que desemboca num portão, cuja transposição para a estrada se processa num ápice para quem quiser!
Alerto-o:
-Vou subir ao muro mas não se assuste, senhor guarda, não vou aí para dentro!
-Esteja à vontade!
-Obrigado.O senhor é aqui guarda, certo?!
-Não, sou um recluso!Estou a treinar para uma maratona....
-Re...quê?!Digo para mim mesmo?!Aqui, "à solta", a treinar sabe-se lá para que fuga, para que corrida?!Maratona?!
Adriano, sem deixar de perceber o espanto que me causa,pede só mais uns segundos para completar mais um sprint e volta para acabarmos a conversa.
Quase a entrar nos trinta, pai de um puto de 13 anos, deixou-se enredar pelos tortuosos caminhos da droga.
Em Junho, será a LIBERDADE total, ele, que, entretanto, estuda desporto, na cadeia de Monsanto, toma conta de um serviço que não identificamos e que amanhã, mesmo, como é habitual, irá a casa para regressar novamente.
No seu rosto já brilha a alegria de quem aprendeu com a meia dúzia de anos de reclusão e que estão quase a chegar ao fim.
Adriano participa em várias corridas a nivel nacional mas, em Junho - foi assim que nos despedimos - Adriano vai correr a melhor Maratona da sua vida.
ADRIANO, AQUI NA ÂNIMO, QUEREMOS ESTAR NESSA AVENIDA DA LIBERDADE PARA LEVANTAR A BANDEIRADA DE VENCEDOR!!!
A história não acaba aqui.
Depois de editar as imagens que trago de Monsanto, imagens com uma história dentro, vou telefonar ao meu amigo - que nome dar-te, para preservar a tranquilidade do teu quotidiano, António, pronto, António como eu - tudo, porque, nos 15 minutos mais estonteantes da minha manhã de Monsanto, no final da conversa, Adriano, acaba por dizer-me que eu talvez conheça o seu pai!
Bem dito bem feito!
É o que vou fazer e já, António!
Tens um filho de que deves orgulhar-te!
Um verdadeiro maratonista que está quase a cortar a meta, ultrapassadas que estão as tantas tentativas de desistir, quem sabe, não deu tempo para contar, mas que tem espelhado no rosto o suor e as lágrimas de quem já vê a meta à vista!
Adriano, até Junho!
Se o seu pai quiser ajudar, trago do meu Vale das Árvores, lá para as bandas do Tejo escarpado, uma coroa do aromático louro que cultivo e a que só têm direito os VENCEDORES DA VIDA!
Obrigado!
Lisboa, vista de monsanto.Esta manhã.
antónio colaço
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