A FALA DAS GAVETAS foi um espaço de revelação, na velhinha ânimo/offset, de há mais de 32 anos, de muitos amigos que escrevem para a gaveta, ou por simples gosto ou porque nunca sentiram vontade de dar público conhecimento dos seus escritos ou, ainda, porque nunca tiveram uma mão amiga que ampliasse o seu sentir!
O desafio continua, hoje, independentemente do estatuto, mais ou menos consagrado de quem quer colaborar.
É o caso do Zé Carmo Francisco, nome sobejamente conhecido das nossas letras.
A porta está, pois, aberta, para quem queira!
Força, Zé!
antónio colaço
Montijo
BALADA DO CAIS DA CORTIÇA
Cais da cortiça, vapores
A caminho de Lisboa
Samarra de lavradores
Contra o frio da proa
A água do cantarinho
O mestre tem na cabina
É do poço do vizinho
Onde a rua faz esquina
As galeras de Pegões
Chegam aqui de manhã
Entre os gritos e razões
Na cadeia comarcã
E a gente dos escritórios
Nas janelas da prisão
No maço de Provisórios
Cada cigarro um tostão
Em certas ocasiões
Vem a carga diferente
A galera traz melões
Matam a sede à gente
Com rodas de camioneta
São outras velocidades
Viagem quase secreta
Entre duas localidades
Entre Montijo e Pegões
Levam a carga que calha
Ou o ferro para portões
Ou vinte fardos de palha
E esta galera continua
Numa memória já morta
Já vem na curva da rua
Onde estou à minha porta
José do Carmo Francisco
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