Quarta-feira, 1 de Abril de 2009
MATINAS
À PROCURA DA PALAVRA
P. Vítor Gonçalves
DOMINGO DE RAMOS Ano B
“Na verdade este homem era Filho de Deus.”
Mc 15, 39
A serenidade de Jesus Anda a primavera a bater-nos à porta e voltamos a escutar estes textos dos passos dolorosos da paixão de Jesus. Qual o sentido desta insistência quando sabemos que tudo já foi ultrapassado pela ressurreição? Sim, e ainda não. Porque a paixão prolonga-se nas muitas paixões de cada pessoa, nos muitos passos de dor de cada realidade humana. Habitados por esta esperança, não iludimos a realidade que tem marca de sofrimento, especialmente aquele que é feito de recusa do amor e da bondade. Também ele será vencido mas há momentos em que parece ter tanto poder! É impressionante a serenidade de Jesus ao longo da paixão, no olhar de S. Marcos. Não interpela Judas no jardim das oliveiras, não se altera no momento da prisão, não responde às acusações no tribunal judaico. Mas a sua humanidade frágil é também sublinhada pelo “pavor” e “angústia” sentidos pouco antes de ser preso e pelo grito na cruz: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?”. Alimentado pela proximidade com o Pai, a quem se dirige com a expressão própria da intimidade familiar, “Abbá” (paizinho, papá), Jesus faz a experiência verdadeiramente humana da confiança e do abandono. Não é um super-herói que vence todos os obstáculos, antes parece ser esmagado pelos poderes políticos e religiosos, não é um estóico que resiste a todos os sofrimentos, antes se revela homem de dores. A sua serenidade não é artifício para convencer mas fidelidade ao projecto de dar a vida por amor. Vem de dentro, que é onde as coisas importantes amadurecem. Jesus é o fruto maduro de uma história de amor entre Deus e a humanidade, há tanto tempo começada. Fruto que também se dá como alimento nessa Páscoa continuada que é a Eucaristia! O centurião faz o salto da fé pela contemplação da verdadeira humanidade de Jesus. Não é convencido por nenhum milagre a não ser o milagre da entrega de vida. O expirar de Jesus não parece evocar o Espírito que Deus insuflou no primeiro homem, moldado do barro da terra? É sempre Deus a dar a vida para que vivamos em abundância. Vida no meio da paixão, vida que tem dor porque a fidelidade pede uma entrega maior. Dá-nos, Senhor, uma serenidade como a tua, quando tudo desaba e morrem os sonhos; dá-nos uma intimidade com o Pai para nos lançarmos nos seus braços; dá-nos uma coragem para não fugir da cruz, e para não criarmos cruzes onde elas não são precisas! Venha a tua Páscoa abraçar as nossas vidas inquietas!