À PROCURA DA PALAVRAP. Vítor Gonçalves
ASCENSÃO DO SENHOR Ano B “Expulsarão os demónios em meu nome;falarão novas línguas.”Mc 16, 17
Novas línguas
Nos dias da Ascensão celebrava-se a fecundidade dos campos naquelas saudosas terras ribatejanas. E em todos os lugares onde a terra ainda é como seio que recebe as sementes e o trabalho dos homens, ecoa este sinal da subida de Jesus ao Céu que é descida de bênçãos. Não esquecendo a morte (e até o Senhor da Boa Morte em Povos), condição tão fundamental para mais vida! Agora as “bênçãos” parecem ter mais a ver com políticas económicas e subsídios, mas quem anda mesmo com os pés na terra e ama o lento crescer de tudo olha para o céu com um olhar lavado. Quanta responsabilidade por bens desperdiçados em nome de lucros indignos! Uma bênção não tem sempre uma responsabilidade comunitária?
Não sei se a subida de Jesus ao céu evocou os foguetões e satélites que há 43 anos já se lançavam para o espaço, para ser escolhido este dia para celebrar as comunicações sociais. Certo é que a espantosa evolução das tecnologias que procuram aproximar os homens e mulheres implicam novas relações. Novas línguas se apresentam em cada dia. Exigindo a promoção de uma “cultura de respeito, de diálogo e de amizade”, como diz Bento XVI na sua mensagem. O ser humano não precisa apenas de comunicação mas, mais profundamente, de comunhão. Novas línguas e linguagens são importantes, mas são instrumentos ao serviço de um bem maior que é a realização de cada pessoa num projecto de amor. Por isso, também aqui é preciso expulsar alguns “demónios” que “endeusam” a técnica, a eficácia, a autosuficiência electrónica que se manifesta em relações virtuais e dependências cibernéticas.
As boas colheitas de antigamente fazem-se hoje também com programas informáticos. Em nome de um desenvolvimento a que podemos chamar humano? Ou para atingir uma eficácia e exploração que beneficia poucos privilegiados e exclui multidões? São novas línguas para criar muros maiores?
Perguntaram um dia ao Dalai-Lama:
“Que mais te surpreende na humanidade?” Ele respondeu: “Os homens… Porque perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente de tal forma, que acabam por não viverem nem o presente nem o futuro. Vivem como se nunca fossem morrer… e morrem como se nunca tivessem vivido.”
Novas ou velhas, estas palavras só não as entende quem não quiser! Porque a linguagem do amor é sempre nova em qualquer tempo!
NOTA
Finalmente descobrimos a fotografia que, há tempos, conseguimos e posteriormente perdemos! Seja bem-vindo, caríssimo amigo!ac