Carlos do Carmo começou a sua intervenção como só um grande senhor podia começar, ao reconhecer que não tinha ali uma sala com lotação esgotada, como aquelas a que está habituado. Para superar o facto, como disse, só lhe restava reconhecer essa "lição de humildade"!
Ao almoço o assunto já havia sido abordado por nós próprios e a constatação de que as coisas são o que são mais a expectativa delas veio ao de cima para explicar uma menor adesão aos AAA depois da data de 25 de Abril.
Nada que retirasse o brilho e a excelência do que viria a ser a grande intervenção inicial de Carlos do Carmo, que a seguir editamos na íntegra, e na qual o cantor - que recebeu um forte aplauso de todos os comensais pelos seus 50 anos de carreira - fez uma lúcida análise à actual situação em Portugal mas, sobretudo, com a Europa que temos por pano de fundo.
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Para Carlos do Carmo, o 25 de Abril "é um ponto de partida, nunca uma efeméride". "Depois do meu casamento e do nascimento dos meus filhos, foi o dia mais importante da mnha vida", reconhecerá.
"Sinto em mim uma curiosa esperança.Ou a Europa é o continente da cultura e do humanismo, ou definitivamente se desintegra. Os alemães encarregam-se disso".
E mais adiante "alguma coisa vai ter que mudar em toda a Europa.Ou se fecha sobre si própria, sobre este egoísmo feroz, ou então tem que perceber que não é este o caminho da Europa que um dia foi sonhada por gente bem intencionada".
E elevando o tom da reflexão, adiantou para quem o quis ouvir que "estamos entregues a um grupo de gente muito medíocre, que se entregou completamente ao desvario da vitória que o capitalismo teve sobre o fracasso da União Soviética.Entrámos num desvario completo que vai direito ao lado mais tentador do ser humano que é o consumir, gostar de ter coisas".
Carlos do Carmo, completamente do lado do ser.
Imperdível.
Para ver e ouvir, como se estivessemos no Coliseu das nossas angústias e dali saíssemos com a a alma temperada por um dos seus fados maiores.
antónio colaço
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